A UM VELHO POETA
Caminhas pelo campo de Castela
E quase o não vês. Um intrincado
Versículo de João é teu cuidado
E apenas reparaste na amarela
Luz do ocaso. A vaga luz delira
E no confim do leste se dilata
Essa lua de escárnio e de escarlata
Que é porventura o espelho da Ira.
Ergues os olhos para ela. Uma
Memória de algo que foi teu começa
E se apaga. A pálida cabeça
Baixas e segues caminhando triste,
Sem recordar o verso que escreveste:
Seu epitáfio a sangrenta lua.
Jorge Luís Borges, O Fazedor, 2ªed, trad. de Miguel Tamen, Difel, 1984, p.85.
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