GEOLOGIA
Dentro da pedra, o fóssil de uma rosa levanta
a margem negativa dos ramos, abre os seus pistilos
mais longos, onde se interrompe uma geração de instantes
que nos recorda o voo antigo das abelhas.
Caídas, as folhas descrevem-nos o estremecimento
dos enxames, sob a brisa que chega com os dedos,
margem levíssima abandonada pelos músculos, ar
que sustentou a sua haste invisível.
Podemos unir, devagar, a nossa fronte aos espinhos
para que nela apenas continue um círculo de sangue
legado por ninguém, a clara seiva que percorre
a mesma flor: gesto frágil da terra.
Fernando Guimarães, Algumas das palavras- Poesia Reunida 1956-2008, Edições Quasi, 1ªed, Dezembro de 2008.
Ora ainda bem, LB, que trouxe ao Prosimetron este poeta, nada "popular", mas com uma obra muita séria e sólida. Uma espécie de Echevarría, mais laico.
ResponderEliminarObrigado.
Eu também gosto de Fernando Guimarães.
ResponderEliminarLuís,
ResponderEliminarÉ muito bonito. Além disso, é uma ciência que está muito próxima de mim. :)
Gosto muito de Fernando Guimarães, da poesia propriamente dita e da prosa poética- o que escreveu sobre grandes telas e peças musicais da tradição ocidental é um deslumbramento.
ResponderEliminarNão sabia que tinha saído a "Poesia Reunida".
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