quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Poemas - 14


GEOLOGIA


Dentro da pedra, o fóssil de uma rosa levanta

a margem negativa dos ramos, abre os seus pistilos

mais longos, onde se interrompe uma geração de instantes

que nos recorda o voo antigo das abelhas.


Caídas, as folhas descrevem-nos o estremecimento

dos enxames, sob a brisa que chega com os dedos,

margem levíssima abandonada pelos músculos, ar

que sustentou a sua haste invisível.


Podemos unir, devagar, a nossa fronte aos espinhos

para que nela apenas continue um círculo de sangue

legado por ninguém, a clara seiva que percorre

a mesma flor: gesto frágil da terra.


Fernando Guimarães, Algumas das palavras- Poesia Reunida 1956-2008, Edições Quasi, 1ªed, Dezembro de 2008.

5 comentários:

  1. Ora ainda bem, LB, que trouxe ao Prosimetron este poeta, nada "popular", mas com uma obra muita séria e sólida. Uma espécie de Echevarría, mais laico.
    Obrigado.

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  2. Eu também gosto de Fernando Guimarães.

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  3. Luís,
    É muito bonito. Além disso, é uma ciência que está muito próxima de mim. :)

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  4. Gosto muito de Fernando Guimarães, da poesia propriamente dita e da prosa poética- o que escreveu sobre grandes telas e peças musicais da tradição ocidental é um deslumbramento.

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  5. Não sabia que tinha saído a "Poesia Reunida".

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