A última ceia que Francisco Henriques pintou para o Retábulo do altar-mor da Igreja de S. Francisco, em Évora, nos começos do século XVI, já foi comentado aqui no Prosimetron.
Volto a este quadro por causa da excelente exposição que se encontra no Museu Nacional de Arte Antiga, Os Primitivos Portugueses, já aqui apresentada por MR.
Volto a este quadro por causa da excelente exposição que se encontra no Museu Nacional de Arte Antiga, Os Primitivos Portugueses, já aqui apresentada por MR.
Sempre me tinha intrigado a "postura" de eloquente do Apóstolo vestido em tons de vermelho (na nossa direita): a mão aberta frente da boca.
Nesta exposição o quadro encontra-se acompanhado de uma reflectografia de infra vermelhos que permite ver para além do visível. E como que por magia, aparece o copo com que o Apóstolo bebia.
Acrescento dia 15 de Novembro, 13:22:
A minha dúvida é se o copo foi retirado em anos posteriores, por acção da Inquisição - dado o Apóstolo estar a beber ao mesmo tempo que Jesus elevava o cálix, uma heresia -, ou se foi pelo próprio pintor.
Vou tentar perceber quem seria o Apóstolo.... pela disposição, em comparação com outras recreações da mesma cena.
Excelentíssima exposição e excelente post. Muito bem visto.
ResponderEliminarFui ver o catálogo e esta observação não é referida.
O Jad, sempre com o olhar aguçado.
ResponderEliminarPena o catálogo estar tão mal impresso.
Olho de lince... :) Espero que esta arguta observação possa chegar a quem de direito.
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarO post é muito interessante. As questões são pertinentes.
ResponderEliminarSe não se encontram registos do pintor ou por ventura da Inquisição, é difícil de saber-se.
É um bom desafio.
Évora tinha a Inquisição e a Universidade duas instituições de peso nas mãos da Igreja... As portas ficam em aberto.
Por outro lado, o pintor pode ter decidido, à última da hora, colocar Cristo com o cálice, daí a possível mudança.
O painel de S. Miguel da Igreja de S. Francisco, em Évora, quando foi
restaurado por Fernando Mardel em 1940, fez surgir debaixo de uma nuvem uma sereia escondida.
Li uns artigo interessante sobre esta matéria.
"A reforma iconográfoca imposta pelo Concílio de Trento encontrou um grande eco na nossa legislação sinodal dos fins do séc. XVI e dos séc. seguintes. Na I.Média condenaram-se as composições que devido à nudez das imagens a Igreja rotulou de «indecentes» ou «desonestas»."
Flávio Gonçalves - “A destruição e mutilação de imagens durante a Contra-Reforma portuguesa”, História da Arte, Iconografia e Crítica, Lisboa: Imprensa Nacional- Casa da Moeda, 1990, p.115.
Reinaldo dos Santos – Os Primitivos Portugueses, Lisboa 1958, p.37;
Luís Reis Santos – Painéis dos Mestres de Ferreirim de igrejas e conventos de Évora, Évora, 1950., p.16.
Fui eu que eliminei o comentário anterior.
Esqueci-me de referir que peguei na sua possibilidade da escolha do pintor em retirar o dito copo.
ResponderEliminarO seu a seu dono.
Achei graça a este post.
Pensei que o "eloquente" fosse Judas.... (que faria assim uma paródia - imitação - à consagração do vinho por Jesus)... mas julgo que Judas é o que está do lado oposto com a bolsa, presa à cinta.
ResponderEliminarNão houve mudança em Jesus. Este sempre teve o cálice. Houve mudanças na cabeça de João, que primeiro estava mais deitado (dormindo mesmo ?). O copo na mão foi pintado, não foi só desenhado. Nota-se pelos tons mais claros da sombra do copo. Pode até ter sido tirado no restauro!