sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Boa noite!


Cartaz de Leonetto Cappiello.

Comecem a preparar as taças e as passas! Boa noite! Adeus 2010.............

O absurdo em filme.

Alguns prosimetristas foram ontem ao cinema. O que acontece, em grupo, bastantes vezes. Talvez fartos da realidade norte-americana que Holliwood nos fornece abundantemente, escolheram um filme francês, para mergulharem numa vivência mais europeia e mais próxima.
"Mammuth", o filme escolhido, tinha em Gérard Depardieu e em Isabelle Adjani, no elenco, um apelativo. Os autores, Benoit Delépine e Gustave Kervern, nem tanto, porque penso que nenhum de nós os conhecíamos.
Comédia surreal, lhe chamou um crítico de cinema. Total absurdo, chamo eu a esta película. De tal maneira absurda que, se não fosse a excelente interpretação de Depardieu, seria triste. Triste porque, na necessidade de ser original, modernista e intelectual, foi filmado em super-16 com a imagem retrabalhada, o que é visualmente muito pouco atractivo. Triste porque todas as personagens, com a excepção de Adjani que fazendo um papel de morta-viva continua bonita, são feios (e segundo uma fala de uma criança, Serge -Depardieu, era porco,cheirava mal). Para nossa satisfação, só não são maus.
Situações e diálogos há que, sem dúvida, nos fazem rir. Mas se os europeus, com este tipo de cinema, acham que ganham adeptos e audiências do lado de cá do Atlântico, estão certamente equivocados. Ou talvez não pretendam nada disso. Por isso, na sala, estavam seis pessoas.

Bom Ano!


Pulo do Lobo, 31.12.2010, 16:40

Feliz Ano Novo!

Bobby Mcferrin


FELIZ ANO NOVO :)

Um bom sinal?


Quando hoje, ao acordar, abri a janela do meu quarto, o céu estava assim. Depois das chuvadas desta noite, entre nuvens escuras e nesgas de céu azul, o arco-íris. Despedida de 2010, prenúncios de 2011? Espero que sim. Para todos um Ano Novo cheio de luz e cores, mesmo que a espreitar entre as nuvens da tempestade.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Txacoli



El Gordo
R. de S. Boaventura, 16
Lisboa
http://www.elgordo.com.br/localizacao_elgordo.php
Ontem ia com uns amigos jantar no El Gordo e demos com o nariz na porta. Fechado, com aspecto de ter acabado. Mas continua com site na net.
O El Gordo II, agora chamado El Tapas (na Trav. dos Fiéis de Deus, 28), não vale o que valia este El Gordo primitivo.
Reincidimos então na taberna basca Txacoli, em S. Pedro de Alcântara. Depois de no termos decido por só comemormos entradas e as termos escolhido (estavam todas óptimas), pedimos a carta de vinhos, e fomos informamos de que não havia, estava "em reconstrução". O empregado começa então a debitar-nos as marcas e os preços dos vinhos: vinho da casa, JP (€15,00); dos restantes (Esporão, Bacalhoa, etc.), não havia nenhum abaixo de €48,00. E nem sequer vimos que Esporão e que Bacalhoa eram. Um restaurante médio, como aquele, devia ter uma lista com vinhos tintos de qualidade e preço intermédios. Entretanto perguntámos pelos brancos e lá escolhemos um.
Não sei se lá voltaremos - a não ser que peçamos primeiro a carta de vinhos -, apesar da qualidade das entradas.
Uma pergunta à ASAE: como se pede €15,00 por uma garrafa de vinho que não chega a custar €2,00 no supermercado? É legal?
Quando foi para pagar o multibanco também tinha deixado de funcionar há uma hora. Não sei se este restaurante terá vinda longa.

O adversário secreto: a minha próxima leitura


Lisboa: Livros do Brasil, 1953. (Vampiro; 43)
Capa de Cândido Costa Pinto.

€15,00 num alfarrabista.

Lisboa: Livros do Brasil, 1979. (Vampiro Gigante; 1)
Capa de António Pedro.
Tenho vários desta colecção. Espantosamente falta-me o primeiro. Tê-lo-ei emprestado?

Dedicado pela autora «A todos os que levam uma vida monótona, com votos de que possam experimentar, embora em segunda mão, os encantos e os perigos da aventura.»
Para o Jad, em complemento de «Heróis da Literatura - IV».

Um Céu Azul

Um céu azul para o Luís poder sair e comprar as passas para ser feliz no Ano Novo.
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Lancem-se os olhos numa paleta coberta de cores. Um duplo efeito se produz:
1º Do ponto de vista estritamente físico, o olho sente a cor. Experimenta as suas propriedades, é seduzido pela sua beleza. A alegria penetra na alma do espectador, como o gastrónomo que saboreia uma gulodice. (...)
2º Quanto mais elaborado é o espírito sobre o qual ela se exerce, maior e mais profunda é a emoção que este elemento lhe provoca na alma.

Wassily Kandinsky, O Espiritual na Arte, Lisboa: D. Quixote, 2010 (8ª ed e trad de Maria Helena de Freitas)p.57-58.

Este livro foi uma prenda de Natal que também alimenta o espírito.

Alerta laranja

É como está grande parte do país, devido à mistura meteorológica que mais detesto: chuva e vento forte. E ainda nem comprei as passas! :)

Novidades - 162 : Arte e Loucura


Achei interessante o tema deste recente álbum da Gallimard: as representações da loucura na arte, desde as mais alegóricas às mais "reais".
Images de la folie, Claude Quétel, Gallimard, 190p, €45, Dez. 2010.

PENSAMENTO(S) - 151

Verdade sim, mas dita com piedade.

- Tenzin Gyatso, o 14º Dalai Lama do Tibete.

" Eu só disse a verdade", " Só estou a dizer a verdade"- frases que ouço, e se calhar todos vamos ouvindo, e que têm o condão de me irritar pois por vezes são meros pretextos para um exercício aparentemente "limpo" de crueldade, brutalidade ou desrespeito. Concordo com o chefe supremo do budismo tibetano: o melhor é doseá-la com piedade. Ou melhor ainda: há situações em que uma mentira piedosa é moralmente preferível a uma verdade inconveniente.

Mais franceses : Emily Loizeau

Je ne sais pas choisir, um mal que aflige muita gente nas coisas do amor, da deliciosa Emily Loizeau.

Cinenovidades - 163 : The Warrior's Way

A primeira vez que li sobre este filme, numa revista de cinema, fiquei um pouco apreensivo mesmo tratando-se de um filme de acção. Misturar artes marciais com um western? Mas o elenco prometia: Geoffrey Rush, de que falarei hoje outra vez, Danny Huston e Kate Bosworth. Entretanto, estreou este mês nos States e vi há pouco o trailer no YouTube. Não será para todos os estômagos, mas a fotografia é deslumbrante.

Para a Passagem de Ano - 2

Gosto de luvas, e de ver luvas nas senhoras ( mas não é fetichismo, juro ). Acho que são um dos acessórios mais elegantes. Já para não dizer que dão muito jeito em Invernos rigorosos...
Porque não usar na última noite do ano este modelo da Casa Roger Vivier? Pele genuína pois claro, decorada com penas de avestruz coloridas. O que são uns meros €1800?...

1910 - 26



Paul Bowles, escritor e compositor, nasceu a 30 Dezembro de 1910, em Queens (Nova Iorque).


http://www.taprobaneisland.com/history.html
Uma curiosidade: Paul Bowles comprou a ilha de Taprobana, em 1952, onde viveu vários anos, alternando com estadas em Marrocos.



quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Mais franceses : Albin de la Simone

Agradam-me as letras e a sonoridade deste jovem autor-intérprete francês.

Tudo o que sei...

“Tudo o que sei, só sei por que amo”. Tolstoi

O filme é de uma beleza inquietante.

Christopher Plummer, right, as Leo Tolstoy, and James McAvoy as his secretary, in Michael Hoffman's “Last Station.”


O que é o amor? Qual é o degradé do amor?

Números - 37

118

milhões de euros, é o número calculado pela Nielsen relativamente aos lucros dos livros de receitas do Jamie Oliver, sendo certo também muitos nossos compatriotas,e gente de muitos outros países, já contribuiram para esta soma espantosa. E o último livro do Jamie, que promete ensinar a fazer refeições satisfatórias em apenas meia-hora, já vendeu quase 750.000 cópias no Reino Unido e foi lançado há relativamente pouco tempo.Se pensarmos que ele tem apenas 35 anos e imensa energia...


IN MEMORIAM Jacqueline de Romilly

Foi no passado dia 18 que morreu Jacqueline de Romilly (1913-2010), aos 97 anos. Para quem não a conhece, vou simplificar: era a M.Helena da Rocha Pereira dos franceses. Uma vida inteira dedicada ao Grego, mas também à defesa das línguas antigas sempre ameaçadas a cada reforma educativa, e mais recentemente deu também o seu contributo a causas de cidadania, especialmente as ligadas à Cultura.
Senhora de um currículo impressionante- professora da Sorbonne, foi a primeira mulher a ensinar no Collége de France (1973), dois anos depois foi também a primeira mulher eleita para a Académie des inscriptions et belles-lettres (presidindo a esta em 1987) e foi a segunda Imortal ( a primeira foi Yourcenar como se devem lembrar ), ocupando desde 1989 a cadeira nº7 da Académie Française-, a sua morte deixa realmente mais pobre a França e quem se interessa pela Grécia Antiga. Ficam, no entanto, os seus quarenta livros, um monumento de exegese da cultura grega antiga.

Cinenovidades - 162 : Uma comédia doce...

Esta Emotifs Anonymes, que teve estreia recentemente nas salas francesas, é uma comédia romântica mas para adultos, ao contrário da maioria das feitas actualmente nos EUA quase sempre destinadas a teenagers e young adults como eles dizem. E é um filme doce, como podem ver no trailer. Espero que cá chegue, mas a "máfia" da distribuição cinematográfica está demasiado virada para Hollywood como sabemos.

Será um beijo apenas um beijo?


Um beijo que fez história. Um beijo que deixou marcas.
A estreia de Marrocos a 24 de Novembro de 1930 ocorreu no Grauman's Chinese Theatre.
Marlene Dietrich canta com a sua voz sensual l'amour est fini.... acaba por parar em frente de uma jovem atraente a quem retira a flor do cabelo e a quem beija na boca, mas a flor vai voar com outro beijo para as mãos de Gary Cooper.
Uma cena com oitenta anos...

O chá das cinco - 16


X
If you are cold, tea will warm you.
If you are heated, it will cool you.
If you are depressed, it will cheer you.
If you are excited, it will calm you.

William E. Gladstone (1809-1898) [que nasceu a 29 de Dezembro].

Heróis da Literatura - IV


Não tenho um herói de literatura. Tenho vários... e quase todos eles com algo em comum .
Assim, escolhi uma agência de detectives “Jovens Aventureiros, Ltd.ª” a que foi fundada pelos amigos de infância Tommy & Tuppence.
O que gosto neles. A alegria, o ar elegante, o carro desportivo – tudo o que eu gostava de ter. E o gosto, ou a imaginação, para fundar uma agência de detectives ou a ânsia do descobrir... Sim, para mim, o descobrir constitui o principal objectivo de tudo quanto gosto de fazer.
A vida do casal acompanha a vida mundana da sociedade. Namoram, casam, têm um filho (Derek) e vão envelhecendo. São heróis quase humanos.
Mas poderiam ser muitos, muitos outros descobridores.


Desenho de Arthur Ferrier
The Grand Magazine (Dezembro de 1923)

Pequenos monstros do nosso tempo... - 7


Não, o "monstro" não é a jovem da foto, que se chama Chelsea Taylor, é britânica e tem 16 anos. O adjectivo pertence, embora perante os casos que já apareceram nesta rubrica seja mais "monstrinho" que "monstro", à sua ex-patroa.
Passo a explicar: a jovem Chelsea, que trabalhava num café, foi a primeira pessoa a ser despedida no Reino Unido através de um post no Facebook. Diz a ex-patroa que não a conseguiu contactar pelo telefone, pelo que optou pela mais famosa rede social do mundo.
Eu sei que nos Estados Unidos as coisas estão mais "adiantadas": já há comunicações de fim de namoro, intenção de divórcio e despedimentos pelo Facebook, mas pensava que na Velha Europa os padrões ainda eram outros, especialmente nas relações profissionais. Afinal, parece que não.
A humilhação, ou pelo menos o constrangimento, de ser despedido passa a ser publica e universalmente conhecida instantaneamente...

Num pacote de açúcar

«Acredito que o amor em si não existe, o que existe são provas de amor.»
Margarida Rebelo Pinto
X
Se me dissessem que eu ia citar a MRP... Nem sei se estou totalmente de acordo com ela. Mas resolvi chutá-la para aqui.

Heróis da Literatura - 3

( A melhor biografia que conheço do verdadeiro D'Artagnan é esta de Jean-Christian Petitfils, notável historiador francês, e da qual foi lançada recentemente uma edição de bolso, ao preço mais simpático de €9, pela Tallandier)
( Castelo de Castelmore, em Lupiac, local de nascimento e infância do verdadeiro D'Artagnan )
( Estátua de D'Artagnan, em Maastricht, Países Baixos. )


J'ai perdu d'Artagnan en qui j'avais la plus grande confiance et m' était bon à tout. D'Artagnan et la gloire ont le même cercueil.



( Este belo epitáfio consta de uma carta escrita em Junho de 1673 por Luís XIV para a sua mulher, Maria Teresa de Áustria, após o cerco de Maastricht. )



É sempre bom começar pelo princípio, o que no caso dos meus heróis literários passa necessariamente por D'Artagnan, o quarto mosqueteiro. Infelizmente, não está em Lisboa a primeira edição dos 3 Mosqueteiros que li, e esqueci-me de a trazer, mas posso garantir-vos que está gasta pelo uso. Lida e relida. A minha paixão dumasiana, e creio que mesmo o meu grande interesse pelo Siècle de Louis XIV, para usar o título da obra de Voltaire, nasceu com a leitura desta obra-prima do prolífico e prodigioso Alexandre Dumas.
Comecemos pelos factos, antes da ficção. Foi no castelo que está acima, o castelo de Castelmore, que nasceu, entre 1611 e 1615, o verdadeiro D'Artagnan: Charles Ogier de Batz-Castelmore, filho de Bertrand de Batz e de Françoise de Montesquiou d' Artagnan, que foi para Paris ser Mosqueteiro do Rei e acabou sendo uma personagem importante no reinado de Luís XIV, já que tinha a confiança deste monarca.
Foi D'Artagnan quem prendeu Fouquet, o famoso "ministro das Finanças" caído em desgraça, tal como foi também a ele que o rei confiou a detenção de Lauzun, o amigo de Luís XIV que olhou muito alto, querendo casar com a Grande Mademoiselle, a riquíssima prima direita do rei.
Mas Charles d'Artagnan não foi apenas um homem da corte, tendo sido também um competente soldado, carreira que o levou a perecer no Cerco de Maastricht de 1673, uma das muitas e ruinosas campanhas militares do Rei-Sol.
Apesar de todos estes feitos, que lhe garantiram um lugar na história francesa, creio que seria mais um nome esquecido no meio de tantos outros que ocupam os rodapés da História.
Não fora um dia de Junho de 1843, e aqui começa a segunda vida de D'Artagnan: foi nesse ano e mês que um escritor chamado Alexandre Dumas descobriu na biblioteca de um amigo umas memórias de um antigo companheiro de armas e amigo de D'Artagnan e pediu o livro emprestado ( que nunca devolveu...) já que tinha ficado fascinado com as façanhas destes quatro mosqueteiros ( Aramis, Athos e Porthos foram baseados em reais amigos de Charles d'Artagnan ).
Como é sabido, seguiu-se uma das mais duráveis e apaixonantes trilogias literárias ( Os Três Mosqueteiros, 20 Anos Depois e o comovente O Visconde de Bragelonne ), que fez, no entanto, vários entorses à História ( D'Artagnan a ser mosqueteiro no reinado de Luís XIII, e inimigo de Mazarin, ou o pretenso romance entre Ana de Áustria e o duque de Buckingham, entre outros).
Trilogia literária esta que no século seguinte se tornou das obras mais adaptadas ao cinema, embora nem sempre com igual padrão de qualidade.
E o interesse cinematográfico não esmoreceu, já que em 2011 estreará mais uma adaptação de Os Três Mosqueteiros, segundo li muito fiel à obra, estando já disponíveis no YouTube fotografias das filmagens, que estão infra.
D'Artagnan, meu primeiro herói literário, foi o catalisador de várias outras paixões minhas: o romance histórico ( e a descoberta de Sir Walter Scott foi outra "febre"), a História de França, Luís XIV e o seu século ( e a descoberta do duque-memorialista, Louis de Saint-Simon, foi um outro coup de foudre ). Paixões que levam quase três décadas de existência, e que tiveram altos e baixos como acontece com todas as paixões, mas permanecem.



PENSAMENTO(S) - 150


todo o homem saudável pode privar-se de comer durante dois dias-de poesia nunca!


-
Charles Baudelaire
, in L' ART ROMANTIQUE.

Young Hearts Run Free

Adoro esta canção de 1976, enorme êxito para Candi Staton. O que não sabia, e soube pelo YouTube, é que ela regravou-a em 2001 mostrando como a sua voz ainda está fantástica. Foi esta interpretação de há nove anos que escolhi.

La dernière mode


Sabiam que Stéphane Mallarmé tinha redigido sozinho uma revista para senhoras, La dernière mode: Gazette du monde et de la famille, sob diversos pseudónimos, como Marguerite de Ponty, Augusta Holmès, Miss Satin, Ix, Le Chef de bouche chez Brébant, etc.? Eu desconhecia. Soube-o ao ler a biografia de Berthe Morisot.
Sairam oito números, entre Setembro e Dezembro de 1874. A revista tinha várias secções que cobriam diversas áreas, como teatro, ópera, dança. música, culinária, decoração de interiores, para além (claro!) de moda e história da moda.


Uma ilustração de La derniére mode.


Ed. facsimilada. Paris: Ramay, 1978



Trad. inglesa.
Oxford: Berg Publishers, 2004

Vinheta : Peónias


Peónias são flores maravilhosas que florescem todo o ano. Sabem adaptar-se e até gostam do frio. Aqui fica para recordação deste inverno de 2010. Quando chegaram a Portugal? Embora tenham origem no Oriente devem ter vindo por terra.



Martin Schongauer, ca. 1430-1491
Estudo para Peónias (1472); colecção privada

O Paraíso


http://universitas.usal.es/web/fundacion/postgrado/argentina/biblioteca/Biblioteca_Universidad.jpg

«não será o paraíso uma imensa biblioteca?»
Gaston Bachelard

«O Paraíso é uma biblioteca».
Jorge Luís Borges

(Cit. in Jacques Bonnet - Bibliotecas cheias de fantasmas. Lisboa: Quetzal, 2010, p. 20)

Gosto destas definições de paraíso!

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Boa noite!


Ontem à procura de um CD para oferecer, encontrei esta cantora norueguesa, presentemente a viver em Estocolmo.

Para Regiani Moraes...


John William Waterhouse - The soul of the rose (ou My sweet rose), 1908
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«Não pode haver ligação de almas onde não exista identidade de ideias, de crenças e de costumes.»
Eça de Queirós

... e para o seu Barulho da Alma, com votos de Bom Ano.

A torre dos cães


Chegou-me hoje via mail um ficheiro com algumas das mais emblemáticas obras do arquitecto Santiago Calatrava. E, claro, não podia faltar a famosa torre "Turning Torso" em Malmo, Suécia (2001-2005). Com 54 andares, 190 metros de altura e 149 apartamentos de luxo (também tem escritórios) este que é considerado o edifício mais alto da Escandinávia (até se avista a Dinamarca, garantem), fez lembrar-me uma história que um colega de trabalho me contou quando esteve recentemente na Suécia em trabalho. Estava ele no restaurante da torre, no último andar, quando o vício do tabaco o obrigava, de tempos a tempos, a vir à rua. Intrigado com a constante entrada e saída de cães no edifício perguntou ao segurança se ali existia alguma clínica veterinária ao que este, sorrindo, o informou que mais de 80% dos moradores tinha cão. Ñão sendo propriamente contra cães em apartamentos - depende das raças - não deixa de ser estranho olhar para a torre e imaginar que de cima a baixo é habitada por aqueles animais de companhia.
Ainda gostava de contá-los!

Le cygne


Caspar David Friedrich (1774-1840) - Schwäne im Schilf (Zwei Schwäne auf dem Weiher im Mondschein)
Óleo sobre tela, 1819-1820
Frankfurt a.M., Freies Deutsches Hochstift
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Sans bruit, sous le miroir des lacs profonds et calmes,
Le cygne chasse l'onde avec ses larges palmes,
Et glisse. Le duvet de ses flancs est pareil
A des neiges d'avril qui croulent au soleil;
Mais, ferme et d'un blanc mat, vibrant sous le zéphire,
Sa grande aile l'entraîne ainsi qu'un blanc navire.
Il dresse son beau col au-dessus des roseaux,
Le plonge, le promène allongé sur les eaux,
Le courbe gracieux comme un profil d'acanthe,
Et cache son bec noir dans sa gorge éclatante.
Tantôt le long des pins, séjour d'ombre et de paix,
Il serpente, et, laissant les herbages épais
Traîner derrière lui comme une chevelure,
Il va d'une tardive et languissante allure.
La grotte où le poète écoute ce qu'il sent,
Et la source qui pleure un éternel absent,
Lui plaisent ; il y rôde ; une feuille de saule
En silence tombée effleure son épaule.
Tantôt il pousse au large, et, loin du bois obscur,
Superbe, gouvernant du côté de l'azur,
Il choisit, pour fêter sa blancheur qu'il admire,
La place éblouissante où le soleil se mire.
Puis, quand les bords de l'eau ne se distinguent plus,
À l'heure où toute forme est un spectre confus,
Où l'horizon brunit rayé d'un long trait rouge,
Alors que pas un jonc, pas un glaïeul ne bouge,
Que les rainettes font dans l'air serein leur bruit,
Et que la luciole au clair de lune luit,
L'oiseau, dans le lac sombre où sous lui se reflète
La splendeur d'une nuit lactée et violette,
Comme un vase d'argent parmi des diamants,
Dort, la tête sous l'aile, entre deux firmaments.
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Sully Prudhomme (1839-1907)

Bolonha : o Caos


Salvador Dali : "Geopoliticus Child Watching the Birth of the New Man"(1943)

Sobre o caos em que se tornou o ensino universitário abateu-se o chamado processo de Bolonha, obcecado pela uniformização, baralhando os títulos e graus, e eivado por uma pedagogia simplista. O primeiro acto de qualquer governo com um mínimo de sensatez tem de ser a revogação das abstrusas disposições desse pseudo-acôrdo feito à revelia de professores e investigadores, que não tiveram a coragem de o rejeitar e se sujeitaram a passar sob as forcas caudinas.

Vitorino Magalhães Godinho, Os problemas de Portugal, os problemas da Europa, 2.ª ed., Lisboa, Edições Colibri, 2010, p. 62.

Arejar...


Sambataro - Terrace at Chianti


Sambataro - Terrace at Vitiano

Coloquei estas pinturas porque hoje não me importava de estar num destes sítios, a comer uns queijinhos e a beber um vinhito. Embora o vinhito (pelo menos o Chianti) não seja famoso.

Ainda os cartões de Natal...


Os colegas prosimetronistas, e os leitores, mais republicanos tenham paciência, mas não resisto a mostrar o postal (electrónico) de Natal mais original que recebi este ano.

Uma das prendas mais belas que recebi este Natal!

Uma das prendas mais belas que recebi este Natal porque alimenta o espírito!

Concerto Comemoração do Centenário Nascimento de José Gomes Ferreira
José Gomes Ferreira. - Lisboa : Strauss, 2001. - 2 discos (CD) (99 min.) : stereo ; 12 cm
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Obrigada! :)

Um quadro por dia - 122

Matteo di Giovanni, O Massacre dos Inocentes, 1488, óleo sobre tela, Galleria Nazionale di Capodimonte, Nápoles, Itália.


Para grande parte do mundo cristão, designadamente os católicos-romanos, 28 de Dezembro é o Dia dos Santos Inocentes, os primeiros mártires cristãos, as crianças inocentes mandadas matar por Herodes, que acima vemos sentado no seu trono.
Este episódio bíblico foi tratado por grande número de artistas ao longo dos séculos, de Guido Reni a Rubens, mas a minha escolha recaíu sobre a visão de di Giovanni, que penso ser uma tela menos conhecida.

PENSAMENTO(S) - 149

a literatura é a prova de que a vida não chega.

Amen.

Novidades - 161

" (...) hoje já não se vive sem a ligação à rede"- escreveu aqui ontem o nosso MLV. É realmente difícil viver hoje offline, especialmente se já se provou tal fruto. Passei os últimos dias desligado, por opção e conveniências da quadra, e senti realmente a falta da rede.
É a Internet o palco deste thriller que me foi oferecido por estes dias. Trata-se do mais recente romance da Joanne Harris, a autora de um grande sucesso de anos recentes (Chocolate), e mostra tudo o que podemos fazer aos outros através da Internet, mas também o que os outros nos podem fazer...
E começa assim:

Era uma vez uma viúva que tinha três filhos que se chamavam Preto, Castanho e Azul. Preto era o mais velho, mal-humorado e agressivo. Castanho era o do meio, tímido e desinteressante. Mas Azul era o preferido da mãe. E era um assassino.

Uma dúzia de páginas depois:

Internet. Uma palavra interessante. Como uma coisa surgida do abismo. Uma rede para algo que foi enterrado ou que ainda está para ser enterrado; um esconderijo para todas as coisas que preferimos manter secretas nas nossas vidas reais. E no entanto, gostamos de observar, não gostamos? Como num espelho, de maneira confusa, vemos o mundo girar: um mundo povoado de sombras e reflexos, nunca a mais de um clique de rato de distância. Um homem mata-se- ao vivo, em directo. É repugnante mas estranhamente fascinante. Interrogamo-nos se foi fingimento. Pode ser fingimento; tudo pode ser. Mas tudo parece muito mais real quando observado num ecrã de computador. Assim, mesmo as coisas que vemos todos os dias- talvez particularmente essas coisas-adquirem uma importância especial quando vislumbradas através do olho de uma câmara.
Aquela rapariga, por exemplo. A rapariga do anoraque vermelho-vivo que passa por minha casa quase todos os dias, fustigada pelo vento e alheia ao olho da câmara que a observa. Tem, como eu, os seus hábitos. Conhece o poder do desejo. Sabe que o mundo gira não movido pelo amor, nem mesmo o dinheiro, mas pela obsessão.
Obsessão? Claro. Todos somos obcecados. Obcecados com a televisão; com o tamanho das nossas pilas; com o dinheiro e a fama e as vidas amorosas dos outros. Este mundo virtual-e nada virtuoso- é um monte de estrume fedorento de lixo mental, confusão e violência; concessionários automóveis e venda de Viagra, música, jogos, má-língua, mentiras e insignificantes tragédias pessoais perdidas em trânsito a certa altura, à espera que alguém se importe, apenas uma vez, à espera que alguém se identifique...

Sem querer abusar da vossa paciência, não resisto, porém, a citar o último parágrafo da p. 22:

O poeta Rilke foi morto por uma rosa. Muito Sturm und Drang da parte dele. Um arranhão num espinho que infectou; uma dádiva envenenada que continua a dar. Pessoalmente, não vejo onde esteja a atracção. Sinto mais afinidades com a tribo das orquídeas: as subversivas do mundo das plantas, agarrando-se à vida onde podem, subtis e insidiosas. As rosas são um lugar-comum, com as suas espirais de um tom de rosa enjoativo, de pastilha elástica; a sua fragrância conspirativa; as suas folhas malsãs, os seus espinhozinhos manhosos que picam o coração...
Ó rosa, estás doente...
Mas não estamos todos?

É uma edição da Asa, com tradução de Isabel Alves.