sábado, 16 de julho de 2011

Os meus franceses - 152


Canção do filme Aimez-vous Brahms... Letra de Françoise Sagan e música de Georges Auric.

Praias de Portugal - 10

Já estava na hora de regressar esta coluna. Hoje, com fotos a p&b, uma das minhas praias preferidas: o Portinho da Arrábida.

Com excepção das três primeiras, todas as fotos, dos anos de 1950, são de António Passaporte (1901-1983).

Alta Serra deserta, donde vejo
As águas do Oceano duma banda,
E doutra já salgadas as do Tejo:
Aquela saudade que me manda
Lágrimas derramar em toda a parte,
Que fará nesta saudosa, e branda?
Daqui mais saudoso o sol se parte;
Daqui muito mais claro,
mais dourado,
Pelos montes,
nascendo, se reparte.
Aqui sôbolo mar dependurado
Um penedo sobre outro me ameaça
Das importunas ondas solapado.
Duvido poder ser que se desfaça
Com água clara, e branda a pedra dura
Com quem assim se beija, assim se abraça.
Mas ouço queixar dentro a Lapa escura,
Roídas as entranhas aparecem
Daquela rouca voz, que lá murmura.
Eis por cima da rocha áspera descem
Os troncos meio secos encurvados,
Eis sobem os que neles enverdecem.
Os olhos meus dali dependurados,
Pergunto ao mar, às plantas, aos penedos
Como, quando, por quem foram criados?
Respondem-me em segredo mil segredos,
Cujas primeiras letras vou cortando
Nos pés doutros mais verdes arvoredos.
Assim com cousas mudas conversando,
Com mais quietação delas aprendo
Que outras que há, ensinar querem falando.
Se pelejo, se grito, se contendo
Com armas, com razão, com argumentos,
Elas só com calar ficam vencendo.
Ferido de tamanhos sentimentos
Fico fora de mim, fico corrido
De ver sobre que fiz meus fundamentos.
Ali me chamo cego, ali perdido,
Ali por tantos nomes me nomeio,
Quantos por culpas tenho merecido.
Ali gemo, e suspiro, ali pranteio;
Ali geme, e suspira, ali pranteia
O monte, e vai de meus suspiros cheio.

Frei Agostinho da Cruz (1540-1619 - «Elegia II» (início)

Um passeio matinal

De manhã passei pelo Jardim Botânico onde a flora é luxuriante.




O ruído dos automóveis à distância fazia parecer que o jardim estava dentro de uma esfera de vidro, protegido do exterior.



O canto dos pássaros entre as árvores, a luz do sol, e o cheiro a fresco proporcionaram uma tranquilidade invejável. Todos os dias deviam amanhecer assim.



Um banco à nossa espera para aproveitar a leitura.






O relógio pára, nem parece que fora dos muros tudo redopia a uma velocidade cruzeiro.



A água, numa sinfonia barroca.






Os nenúfares, longe das nossas mãos a criar o desejo de apanharmos apenas uma flor.




Finalmente a flor de lótus, ali só, a olhar para nós



E porque a 16 de Julho de 1781 estreou Die Entfuhrung Aus Dem Serail no Burgtheater, em Viena, aqui fica a ópera de Mozart - O Rapto do Serralho

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Conversas com Yourcenar



Tenho muito respeito pelo acaso. Acredito nessa aceitação dos objectos que nos são dados, da vida que nos é dada e que é preciso agarrar.

Excerto de uma entre várias entrevistas que Marguerite Yourcenar deu a Matthieu Galey. Agora reunidas em "De Olhos Abertos".

Ciclames

Lisboa, Set. 2010

Boa tarde!


Números - 58

( Famoso fresco grego encontrado em 1968 pelo arqueólogo Mario Napoli, em Paestum, no Sul de Itália )

20

O número de jovens que ficaram paraplégicos, até agora ( Julho ), devido a mergulhos em Portugal. Um ano trágico e a época alta começa hoje...

Auto-retrato(s) - 124

 Autoportrait aux besicles, 1771, pastel sobre papel, Louvre.
Autoportrait au abat-jour vert, 1775, pastel sobre papel, Louvre.


Apesar de Jean-Baptiste Siméon Chardin ( 1699-1779 ) ser um pintor do agrado de vários prosimetronistas, tenho ideia que estes auto-retratos dele, os mais conhecidos, ainda não tinham aparecido nesta já longeva série. Se já o foram, foi há tanto tempo que se justifica a repetição.
São ambos dos últimos anos de vida do grande mestre da cor e da natureza-morta do séc.XVIII francês, quando Chardin já se tinha fartado da pintura a óleo e se tinha virado para o pastel também com grande sucesso.

PENSAMENTO(S) - 181

Tout vient de l'enfance. Tout ce que j'ai vu après ne sert à rien. Il a raison, Stendhal, interminablement l'enfance.

- Marguerite Duras, in Écrire, ed.Folio.

Um objecto, um lugar, uma pessoa de que se fala e a memória faz rewind de 30 anos, no meu caso, com uma assombrosa vividez de detalhes e pormenores . É impressionante como ficamos marcados, para o bem e para o mal, pelos tenros anos.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Um dia radioso

Michael Ancher, Rapariga com girassóis, 1889

Statens Museum for Kunst, Copenhage, Denmark (wikipedia)


Michael Ancher nasceu em Rutsker, na ilha de Bornholm, em 1849. Estudou na Royal Danish Academy of Art (Det Kongelige Danske Kunstakademi) em Copenhaga. Faleceu em 1927.

A nossa vinheta

Hoje poderia ter sido uma lembrança do dia 14 de Julho, de outras eras, de outras paragens...
Mas fiquei por Lisboa, também de outras eras.
A Lisboa Típica tinha uma presença constante: a varina, que com as suas ancas ondelantes anunciava o peixe acabado de chegar.
Este postal é de meados do século XX.

O que estamos a ler? - 4

Resposta de Miss Tolstoi
O que estou a ler? Dois livros de Jacques Attali: Tous ruinés dans dix ans? Dette publique, la dernière chance (Paris, Fayard, 2010) e Demain, qui gouvernera le monde? (Paris, Fayard, 2011); e ainda A visit from the Goon squad (New York, Random House, 2010) de Jennifer Egan.


O primeiro, quase no final, é muito pessimista. Segundo Attali, é preciso uma política de rigor, mas se todos os países aplicarem uma política de rigor, entramos em depressão. A Europa devia relançar a confiança, através do financiamento de programas de investimento.




















O segundo tenta responder a perguntas, como: No futuro, quem vai governar o mundo? Os EUA, a China, a Índia, a Europa, o G20 ou as mafias?

Que país ou que instituição internacional vai ter meios para amortecer as ameaças ecológicas, nucleares, económicas, financeiras, sociais, políticas ou militares que se vão abater sobre o mundo? E quem saberá valorizar as potencialidades de todas as culturas? Como vêem, um livro nada pessimista.


O livro de Jennifer Egan, uma americana que vive em Brooklyn, obteve este ano o Prémio Pulitzer e o National Book Critics Circle Award. Sabem o que são Goon squads? Eram os "capangas" pagos para bater nos que se opunham a determinados "sindicatos" americanos (conhecemos essas histórias dos filmes). Hoje, os americanos usam o termo goon squad quando se referem a um bandido. É o primeiro livro de Jennifer Egan que leio e estou a gostar, Foi uma compra de loja de aeroporto.

(Pedido de desculpa. Recebi este post na segunda-feira. Pensei em o publicar ontem, mas foi impossível, ando com uma "vida de cão" rafeiro, glosando um comentário)

Frase da semana

                                       ( Foto de Pedro Azevedo )

Os meus amigos eram maoistas. Eu sempre fui trotskista.

- Lili Caneças, em entrevista ao jornal i.

Um quadro por dia - 181


Bruce Nauman, One Hundred Live and Die, 1984, col. Benesse Corporation, Museu de Arte Contemporânea de Naoshima, Japão.

Apeteceu-me variar: hoje não é uma tela, mas sim um trabalho com luz, um néon que nos interroga sobre a vida e a morte.

Os meus franceses - 150


Catherine Lara (1945-) publicou este ano um cd dedicado a Léo Ferré.
Até gosto desta versão/interpretação de «Avec le temps».

Lá fora - 118 : No Mónaco

Aqui está uma que me enche as medidas: quatro séculos de história europeia, através de preciosidades provenientes de 21 cortes, reinantes e já não reinantes. 600 peças nos 2500m2 do Grimaldi Forum : baixelas, jóias, porcelanas, trajes, escultura, retratos e mobiliário que mostram a vida quotidiana nos palácios europeus dos sécs.XVI-XX.
Portugal também está presente, com um pavilhão organizado por Isabel Silveira Godinho recriando o tempo do Rei D.Luís I e de D.Maria Pia.

Para Miss Tolstoi



Last but not least, aqui fica a minha saudação a Miss Tolstoi, lembrando a sua primeira encarnação virtual.

Os meus franceses - 149


Faz hoje 18 anos que Léo Ferré morreu.
Boa noite!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Biografias, autobiografias e afins - 106


Uma obra de Orlando Leite, Raquel Oliveira e Sónia Trigueirão sobre a "vida louca" dos monarcas lusos. Estou curioso sobre os "factos inéditos" prometidos no canto superior direito da obra.

Para a enigmática Miss Tolstoi

Nada melhor para uma "russa" do que um compositor russo. Aqui lho deixo, com "Valsa das Flores" e os meus parabéns.

Parabéns, Miss Tolstoi

Para uma das nossas melhores seguidoras, o melhor vinho!
Brindemos então com Moscatel de Setúbel, Reserva 2006, da casa Venâncio Costa Lima, considerado o melhor do mundo. A distinção surgiu do concurso Muscats du Monde, realizado em Montpellier, no qual participaram 210 moscatéis oriundos de 23 países. Foi a primeira vez que um moscatel português chegou tão alto.

Retratos com História, de Eduardo Gajeiro - 5

Eduardo Gajeiro fotografou Rosa Ramalho em 1968, quando de uma exposição no Museu de Arte Popular. Rosa Ramalho,barrista popular, tinha 68 anos quando iniciou a sua arte que aprendera em menina. Foi descoberta por António Quadros que a promoveu entre as pessoas ligadas à cultura. "Foi a primeira barrista a ser conhecida individualmente pelo próprio nome e teve o reconhecimento, entre outros, da Presidência da República, que em 9 de Junho de 1980 lhe atribuiu o grau de Dama da Ordem de Sant'Iago da Espada. Em 1968 tinha-lhe sido também entregue a medalha "As Artes ao Serviço da Nação".Sobre a artista há um livro de Mário Cláudio (Rosa, de 1988, integrado na Trilogia da mão) e uma curta-metragem documental de Nuno Paulo Bouça (À volta de Rosa Ramalho, de 1996). Actualmente dá nome a uma rua da cidade de Barcelos e a uma escola EB 2,3 da freguesia de Barcelinhos"(Wikipédia)  Nesta foto, Rosa Ramalho tinha 80 anos.

Tudo em família...

Carlos Teixeira, o socialista que já vai no terceiro mandato na Câmara de Loures, empregou a mulher, a filha, dois cunhados e a nora.
"Admito que possa parecer mal, mas não me pesa nada na consciência", afirma Teixeira.

Este é um excerto da notícia publicada no Expresso do passado sábado, onde na página 14 são esmiuçadas estas nomeações para empresas municipais, para o gabinete da presidência e outras estruturas da Câmara de Loures.
Mesmo admitindo que é tudo gente muito competente para ocupar os cargos em causa, parece mesmo muito mal para usar as palavras do Sr.Presidente Teixeira.
Imagino os temores e tremores dos colegas e subordinados desta parentela, já que ter de lidar diariamente, por exemplo, com uma chefe que é simultaneamente a "mulher do presidente" não deve ser fácil...

Em português - 120 : Mário Lúcio



Vulcãozinho, do cabo-verdiano Mário Lúcio.

Auto-retrato(s) - 123

Colin Campbell Cooper ( 1856-1937 ), Auto-retrato, 1922, óleo sobre tela, National Academy of Design Museum, Nova Iorque.

Um pintor que passou por estas páginas recentemente, e aqui volta em auto-retrato.

Leituras no Metro - 63

Françoise Sagan e Guy Schoeller (1915-2001).
Schoeller foi editor da Robert Laffont, nomeadamente da sua colecção Bouquins.

«L'existence qui m'est imposée aujourd'hui est beaucoup trop rapide. Les êtres passent trop vite. Je vous dirai plus: une existence comme celle que je mène aujourd'hui n'est pas propice aux passions. Pour que la passion naisse, il faut prendre le temps de s'arrêter sur les êtres.»
Françoise Sagan, cit. in Sophie Delassein - Aimez-vous Sagan... Paris: Fayard, 2002, p. 119

A escritora fez esta declaração à volta de 1957, pouco tempo antes de casar com Guy Schoeller.

Uma prenda para Miss Tolstoi

Nesta passagem pelo "Burgo de Luxo", encontrei este conjunto de chávenas de café, com Audrey Hepburn, e pensei que dava um lindo "presente" virtual (porque a loja estava fechada, e apenas por isso) para o aniversário de Miss Tolstoi.

Parabéns, Miss Tolstoi!


Apesar de andar um pouco fugidia, envio este bolo e umas flores de Dora Carrington.

Dora Carrington (1893-1932) - Still life of flowers
Oil, ink and silver foil on glass, ca 1928
(Estava à venda na Christie's de Londres, em 2003, por £20,315)

terça-feira, 12 de julho de 2011

«- Oh! so you were the funny little boy...»




Estas músicas foram gravadas em 12 e 15 de Julho de 1933 em Paris.

Jacques Canetti, então com 24 anos, apresentou-se no Hotel Trianon em Versalhes, para convencer Marlène Dietrich a gravar duas canções francesas para a Polydor. E convenceu-a. A actriz, tal como combinado, vai à empresa discográfica uns dias mais tarde e pede para falar com o «homenzinho divertido», o qual lhe propõe a gravação destas duas canções em francês, uma língua que Marlène Dietrich compreendia mal. «Ma carrière phonographique venait de se décider ce jour-là.» escreve Jacques Canetti em Mes 50 ans de chansons françaises (Paris: Flammarion, 2008, p. 18)
Em 1964, Canetti vai com Yves Montand a Nova Iorque, onde encontra Marlène Dietrich. Os três desfiam memórias num bar e quando o produtor francês lembra a sua ida ao Hotel Trianon, Marlène Dietrich exclama: «- Oh! so you were the funny little boy...»

O que estamos a ler? - 3

Lisboa e Bombaim são as cidades que ando a ler pela escrita de Tiago Rebelo, João Correia Filho e Suketu Mehta:


Neste surpreendente romance, o autor abre-nos a porta dos fundos do lado mais obscuro da política nacional dos nossos dias, onde nada é o que parece ser e onde se desenrolam acontecimentos extraordinários que colocam em perigo a sociedade, sem que esta se aperceba do que está realmente a acontecer...

Gosto do enredo e da forma como está escrito.


Certo dia, um jornalista apaixonado por literatura encontrou um roteiro para desvendar Lisboa, criado pelo poeta Fernando Pessoa, o qual foi publicado com o título Lisboa: o Que o Turista Deve Ver. Deste encontro nasceu a inspiração para que João Correia Fialho refizesse o percurso proposto pelo poeta e transformasse a sua aventura neste guia.

Para quem adora Lisboa como eu, é uma aventura imperdível que nos leva a descobrir sempre algo de novo. O livro está repleto de imagens que enriquem ainda mais esta "viagem".


Neste livro, Suketu Mehta, nativo de Bombaim (a viver há vários anos em NY com a família) dá-nos o ponto de vista de quem vive nesta assombrosa cidade - Bombaim - levando o leitor ao submundo do crime onde muçulmanos e hindus são gangues rivais, revelando a vida de uma dançarina criada no meio da pobreza e do abuso, abrindo a porta que dá para os santuários interiores de Bollywood e entrando nas histórias de inúmeros aldeões que chegam à cidade em busca de uma vida melhor e acabam a viver à beira da estrada.

Vale pela investigação apurada mas tem momentos demasiado exaustivos. De qualquer modo, é um livro que revela muitos aspectos daquele país. E isso é interessante.

Auto-retrato(s) - 122

Duas pinturas de Jean Hélion (1904-1987), um modernista francês, que vai voltar a este blogue:

 Auto-retrato, 1964
Auto-retrato, 1980