sábado, 2 de junho de 2012

VIMOS A LUA

VIMOS A LUA

VIMOS A LUA nascer, na tarde clara.

Orvalhavam diamantes, as tranças aéreas das ondas
e as janelas abriam-se para florestas cheias de cigarras.

Vimos também a nuvem nascer no fim do oeste.
Ninguém lhe dava importância.
Parece uma pena sôlta - diziam.
Uma flor desfolhada.

Vimos a lua nascer, na tarde clara.
Subia com seu diadema transparente,
vagarosa, suportando tanta glória.

Mas a nuvem pequena corria veloz pelo céu.
Reuniu exércitos de lã parda,
levantou por todos os lados o alvorôto da sombra.

Quando quisemos outra vez luar,
ouvimos a chuva precipitar-se nas vidraças,
e a floresta debater-se com o vento.

Por detrás das nuvens, porém,
sabíamos que durava, gloriosa e intacta, a lua.

 in Mar Absoluto e Outros Poemas 

Cecília Meireles, Obra Poética, Rio de Janeiro: José Aguilar Editora, 1967, p.289

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