VIMOS A LUA
VIMOS A LUA nascer, na tarde clara.
Orvalhavam diamantes, as tranças aéreas das ondas
e as janelas abriam-se para florestas cheias de cigarras.
Vimos também a nuvem nascer no fim do oeste.
Ninguém lhe dava importância.
Parece uma pena sôlta - diziam.
Uma flor desfolhada.
Vimos a lua nascer, na tarde clara.
Subia com seu diadema transparente,
vagarosa, suportando tanta glória.
Mas a nuvem pequena corria veloz pelo céu.
Reuniu exércitos de lã parda,
levantou por todos os lados o alvorôto da sombra.
Quando quisemos outra vez luar,
ouvimos a chuva precipitar-se nas vidraças,
e a floresta debater-se com o vento.
Por detrás das nuvens, porém,
sabíamos que durava, gloriosa e intacta, a lua.
in Mar Absoluto e Outros Poemas
Cecília Meireles, Obra Poética, Rio de Janeiro: José Aguilar Editora, 1967, p.289
Sem comentários:
Enviar um comentário