A bailarina era tão grande Picasso, bailarina sentada, Olga Picasso
como uma árvore caminhante;e seus braços longos e brancos
tão fugitivos e flutuantes
como as nuvens filhas dos campos.
O giro da sua cintura
- rápida e fina como um fuso -
era de firmeza profunda
e fragilidade tão pura
como as do próprio eixo do mundo.
Oh - o desdobramento amplo e calmo
de seus joelhos! O círculo alto
que o tênue pé determinava!
Limite da fluidez humana...
Límpido e implacável compasso...
Voava! - e logo desfazia,
num gesto de albatroz rendido.
E de nôvo aos ares a vida
arriscava, impotente e linda,
algemada ap pêso inimigo.
E tão divinamente exata
vinha à terra e aos céus se elevava
que era tão grave o instante alado
como o da derrota no espaço,
- mas ambos igualmente plácidos.
Ó bailarina, ó bailarina,
deusa da estricta geometria!
ó compasso, ó balanço, ó fio
de prumo, ó secreto algarismo,
primeiro e eterno número ímpar!
Alça o teu vôo além da queda,
rompe os elos de espaço e tempo,
galga as obrigações da terra,
atira-te em música, ó seta,
e restitui-te em pensamento!
Cecília Meireles, Obra Poética, Rio de Janeiro, José Aguilar Editora, 1967, p. 765-767.(Estudo Crítico de Darcy Damasceno) in Metal Rosicler
3 comentários:
Muito bonito e musical e boa descrição da bailarina...
Lindo quadro.
Beijinhos
Obrigada, Cláudia por me ter guardado este livro.
Ainda só folheei. Este poema saltou-me à vista.
Beijinho. :)
A "nossa" riquíssima Cecília Meireles.
Muito linda a pintura.
Beijinhos
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