Nos 100 do nascimento de Vinicius, já aqui assinalado por JMS.
sábado, 19 de outubro de 2013
De repente, não mais que de repente...
Soneto de Separação
DE REPENTE do riso fêz-se o pranto
silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fêz-se espuma
E das mãos espalmadas fêz-se o espanto.
De repente da calma fêz-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fêz-se o pressentimento
E do momento imóvel fêz-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fêz-se de triste o que se fêz amante
E de sozinho o que se fêz contente.
Fêz-se do amigo próximo o distante
Fêz-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Vinicius de Moraes, in 'O Operário em Construção'
in Citador
Vinícius de Moraes nasceu em 19 de Outubro de 1913
Notas de Cozinha de Leonardo da Vinci
Em especial para MR.
Bom dia.
Ilustração do livro de cozinha de Bartolomeo Scapi, o livro de cozinha "secreto" do Papa Pio V (ver a nota da mesma)
SOPA DE UVAS
Cozer em conjunto tantos bagos de uva quantos se conseguir arranjar, e não é preciso acrescentar água, pois já contêm que baste. Passa-las depois pelo coador, acrescentar alguns ovos batidos e um pouco de mel e aí está a sopa de uvas.
O meu amigo Gaudio Sporgere diz que este prato é um desperdício e que não irá permitir a utilização das suas uvas para este fim.
Shelagh e Jonathan Routh, Notas de Cozinha de Leonardo da Vinci. Lisboa: althum.com, Setembro de 2013, p. 235-236
Lá fora - 175 : Retratos do mundo
Gustavo Lacerda, Série Albinos :
Num dos mais recentes museus parisienses, o do Quai Branly, mas também nos seus jardins e em seis outros locais ( Fondation Cartier, Galerie Baudoin Lebon ), decorre a quarta edição do Photoquai. O tema deste ano é o retrato, com 400 fotos provenientes de 28 países.
Photoquai, até 17 de Novembro, Musée du Quai Branly. www.photoquai.fr
Auto-retrato (s) - 188
Um auto-retrato do norte-americano Chuck Close ( 1940- ), pintor e fotógrafo, um hiper-realismo mais complexo do que pode parecer à primeira vista se olharmos atentamente para a imagem. E um exemplo de persistência, pintando mesmo com um pincel na boca, depois de ter ficado confinado a uma cadeira de rodas e pouca mobilidade nos braços depois do coágulo na coluna vertebral ocorrido no final dos anos 80.
Humor pela manhã
E o pior é que as desculpas não serviram para nada, até porque muitas vezes quanto mais nos baixamos...
Bom dia !
Apeteceu-me começar o dia em francês, mas graças ao belo e rigoroso " inventário " de M.R. e a outras escolhas de outros prosimetronistas começa a ser difícil encontrar vozes francesas que ainda não tenham aparecido nestas páginas. Basta dizer que Chimène Badi foi a minha quarta opção, depois de verificar que a bretã Nolwenn Leroy, Laurent Voulzy e Alain Souchon já tinham sido aqui divulgados. Mas é uma voz que merece ser conhecida, primeira escolha ou não.
U... de chapéu de chuva
Edmund Evans
Theodor Seuss Geisel
Porque ontem precisámos dele. E hoje... veremos. :)
Para o Jad, que não gosta de chapéus de chuva, mas gosta destes alfabetos.
Chuva
David Oliveira, exposição Corpo Habitado na Galeria 111, Campo Grande, Lisboa
CHUVA
As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir
Há gente que fica na história
da história da gente
e outras de quem nem o nome
lembramos ouvir
São emoções que dão vida
à saudade que trago
Aquelas que tive contigo
e acabei por perder
Há dias que marcam a alma
e a vida da gente
e aquele em que tu me deixaste
não posso esquecer
A chuva molhava-me o rosto
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera
Ai... meu choro de moça perdida
gritava à cidade
que o fogo do amor sob chuva
há instantes morrera
A chuva ouviu e calou
meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir
Há gente que fica na história
da história da gente
e outras de quem nem o nome
lembramos ouvir
São emoções que dão vida
à saudade que trago
Aquelas que tive contigo
e acabei por perder
Há dias que marcam a alma
e a vida da gente
e aquele em que tu me deixaste
não posso esquecer
A chuva molhava-me o rosto
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera
Ai... meu choro de moça perdida
gritava à cidade
que o fogo do amor sob chuva
há instantes morrera
A chuva ouviu e calou
meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade
(letra e música de Jorge Fernando)
Não sei se é uma reposição mas é um fado que não me canso de ouvir porque me maravilha. A Mariza tem para mim o encanto de uma segunda diva portuguesa, claro após a Amália.
[A chuva caiu, por aqui, com muita intensidade].
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
Thérèse Desqueyroux
Hoje à noite no São Jorge, em Lisboa, ante-estreia do filme de Claude Miller que adapta o romance de François Mauriac, com Audrey Tatou na protagonista.
Caixa do correio - 19
«La République doit se construire sans cesse car nous la concevons éternellement révolutionnaire, à l’encontre de l’inégalité, de l’oppression, de la misère, de la routine, des préjugés, éternellement inachevée tant qu’il reste des progrès à accomplir.»
Pierre Mendès France
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Os meus franceses - 301
Entre 1951 e 1974, funcionou neste local, no Quai des Grands-Augustins, o cabaré L'Écluse, no qual atuaram muitos cantores, mímicos, imitadores, alguns dos quais adquiriram depois notoriedade internacional, segundo se pode ler numa placa afixada no local.
Alguns dos artistas que atuaram no L'Écluse:
Marc Chevalier e André Schlesser
Desenrascanso... à mexicana!
Passos Coelho a discursar na visita ao México. Até aqui, tudo bem não fosse a presença da nossa "tosca bandeira" diferente da versão oficial. Caso para dizer que o desenrascanso não é apenas uma arte portuguesa...
Onde me apetecia estar
Deve ser difícil encontrar um castelo feio ou negligenciado no Loire, mas agradava-me particularmente conhecer Ussé, velho de séculos e história, e pelo jogo das heranças propriedade desde 1885 dos Duques de Blacas. Inspirou Charles Perrault ( e depois Walt Disney ... ), e nele viveu e escreveu Chateaubriand
D.Carlos na Ajuda
O Palácio Nacional da Ajuda não ficou indiferente, e fez bem, aos 150 anos passados sobre o nascimento do Rei D.Carlos I e organizou uma série de iniciativas que começam hoje.
Um quadro por dia
Wilfrid Gabriel de Glehn ( 1870-1951 ), Jane de Glehn in her garden at Stratford Tony, óleo sobre tela, 51x61cm.
Porque li recentemente sobre este que foi o maior dos impressionistas tardios britânicos.
Será que ainda vai parar à minha pilha?
Barcelona: Lumen, 2006
Há dias, ao ver o filme Hannah Arendt, fiquei a saber da amizade entre a autora de As origens do totalitarismo e a escritora Mary McCarthy, de quem li dois livros há muitos anos: O grupo e A gente com quem anda. Penso mesmo que o primeiro foi apreendido. Tendo procurado alguma bibliografia sobre o assunto encontrei uma edição da correspondência entre ambas. Fiquei com vontade de o ler.
A correspondência que a autora de Eichmann em Jerusalém manteve ao longo de 25 anos com Mary McCarthy, constitui um retrato da história e da cultura europeia e dos Estados Unidos desses anos.
Segundo The New York Times, o livro reflete «Um dos diálogos mais inteligentes que teve lugar no século XX» e, de acordo com The Washington Post, é «Um agudo diagnóstico do nosso tempo».
Le Livre de Poche
Tenho (e li) muitos (mais) livros desta coleção: primeiro porque são económicos; segundo porque são fáceis de transportar. Sempre gostei de livros de bolso.
Fui à minha secção de livros franceses e tirei os primeiros quatro que vi, os n.ºs 1226, 934, 5924 e 14983.
Tenho também alguns poche na área de memórias.
Em geminação com o Arpose.
Estrelas no Sofitel
Johnny Depp é uma das estrelas de Hollywood que podemos ver fotografadas por grandes nomes das últimas décadas, na exposição On-Set/Off-set - Des instants de Cinéma, que está patente no Sofitel Lisbon Liberdade até 15 de Dezembro. Entrada gratuita.
Novidades
La Dolce Vita, o mais recente livro de Slim Aarons, grande fotógrafo da mundanidade que captou como poucos um estilo de vida desaparecido. Mas os locais permanecem, de Portofino a Cortina, de Roma a Porto Cervo, e mostram por que tantos dizem que a Itália é um país abençoado...
Humor pela manhã
(...) Mantenho uma esperança muito grande no guião da reforma do Estado, que Paulo Portas irá apresentar, supõe-se, na mesma manhã de nevoeiro em que D.Sebastião regressará. Julgo que há qualquer coisa sobre isso nas trovas do Bandarra, embora ele preveja que D.Sebastião apareça primeiro. Como guionista, creio que o atraso na entrega do guião é inadmissível, sobretudo por se tratar de um documento muito fácil de escrever. Em primeiro lugar, Portugal já não é bem um estado. Soberania não tem, governo tem pouco, e o próprio povo já começou a ir embora. Não havendo quase já nada para reformar, é difícil compreender a demora. Em segundo lugar, o guião tem pouca acção, nenhum diálogo e a cena é sempre a mesma. É um guião de uma palavra só, aquela que costuma escrever no final : corta! Não deve dar muito trabalho.
- Ricardo Araújo Pereira, na VISÃO desta semana.
"La durée de la vie humaine?"
Nicolaes Maes (1634-1693), Rapariga à Janela, c. 1654, Rijksmuseum, Amesterdão
Imagem da Wikimedia Commons
La durée de la vie humaine? Un point.
Sa substance? Fuyante.
La sensation? Obscure.
Le corps? Prompt à pourrir.
L'âme? Un turbillon.
Le destin? Difficile à deviner.
La réputation? Incertaine.
Pour résumer, au total les choses
du corp s'écoulent comme de l'eau;
les choses de l'âme ne sont que songe
et fumée; la vie est une guerre
en terre étrangère; la renommée
qu'on laisse, un oubli, Qu'est-ce qui
peu nos guider? Une seule chose:
la philosophie.
Marc Aurèle, in Carnets de Philosophie, Pensées sur la sagesse. (André Comte-Sponville). Paris: Albin Michel, 2000, p. 32.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Um pequeno génio
Jan Lisiecki, nascido no Canadá em 1995, filho de pais polacos, é a minha última descoberta musical.
Um fabuloso pianista de 18 anos, que é também modelo da Vogue. Um nome a fixar e seguir.
Um fabuloso pianista de 18 anos, que é também modelo da Vogue. Um nome a fixar e seguir.
Um pintor alemão renascentista
A arte do retrato
Quando for meio-dia, passarão hoje precisamente 220 anos sobre a execução de Maria Antonieta na que é actualmente a Praça da Concórdia, então Praça da Revolução. E este é seguramente o último retrato da rainha, desenhado por Jacques-Louis David, que depois foi pintor imperial ( de Napoleão ) e real ( dos Bourbons restaurados ) e que era também político ( Jacobino ), tendo inclusivamente votado a favor desta execução. David retrata a rainha a partir de uma janela onde assiste ao cortejo que conduz à guilhotina, e este pequeno ( 15x10cm ) mas impressivo retrato está hoje no departamento de artes gráficas do Louvre.
Sobre o que se passou a seguir, ficam estas reflexões de Marie Ferranti numa obra de que aqui falei recentemente :
Selon un chroniqueur du temps, bien qu' ayant les mains liées dans le dos, la reine descendit de cette charrette « avec légéreté et promptitude ». Cette grâce inoubliable, elle est encore dans les derniers mots qu' elle prononce. Marie Antoinette marche sur le pied de son bourreau et lui dit : « Je vous demande pardon, monsieur » . Cette exquise politesse traduit un dégré de civilisation qu' on ne reverra plus.
L' élégance, dépourvue des artifices et des accessoires qui la révèlent, est aussi une manière de se tenir; c' est être toujours, d' une certaine façon, dans le dépassement de soi. Ainsi, comme l'affirme Stefan Zweig dans sa remarquable biographie de la reine : « À la dernière heure de sa vie, à la toute dernière heure, Marie-Antoinette, nature moyenne, atteint au tragique et devient égale à son destin. »
La reine avait en commun avec Napoléon de sentir le caractère inéluctable du destin et de savoir reconnaître le deus ex machina qui le met en branle. Elle avait toujours pensé que les astres ne luit étaient pas favorables. Elle s' attendait au désastre, ce qui pourrait expliquer sa futilité et son goût excessif pour le jeu.
Voltando ao desenho de David, se é verdade que é muito conhecido, talvez não seja conhecida ( eu não conhecia ) esta tela que Joseph van den Busshe pintou em 1900 e que mostra David executando o dito desenho a partir de uma janela por onde passa o cortejo a caminho do cadafalso ( e ainda hoje se discute qual o prédio de Paris a que pertence a dita janela ). Tela esta que está hoje no Musée de la Révolution, no castelo de Vizille.