Diego Rivera - A noite dos pobres
«Terça-feira, 4 de Junho de 2013
«09:00 h
«O medo instalou-se no coração das pessoas, e a vida, tal
como a conhecemos, acabou. O desperdício, o capricho e a extravagância, musas
poderosas de quem podia, morreram na praia.
«Ao dia de hoje, há mais de 1 milhão de desempregados em
Portugal, sem esperança à vista, e pasmo com a dignidade dos portugueses
sofrendo em silêncio as suas tragédias íntimas. Na rua, tento divisar expressões
reveladoras do que sentem, mas, até a mim, estripadora mental por deformação de
ofício, enganam. Os peões parecem conhecer o seu destino e atravessam as rua
srapidamente, sobretudo nas zonas pobres. Continuam a lavar-se e a sair à rua,
sem hostilidades a olho nu, e um estrangeiro que aqui passe sossegará assim a
família:
«- É tudo exagero dos jornais, Portugal é uma ilha de paz!
«O olhar das pessoas parece mais ocupado do que angustiado,
apesar do que as corrói lentamente, como vidro moído. Respira-se, contudo, um
ar saturado de solidão, a solidão dos que soterram os seus problemas e as suas
dívidas, a venda dos últimos ouros, a dação das suas casas, o roubo das suas
reformas, a cisão desesperada com maridos e familiares.»
Rita Ferro - Veneza pode
esperar: Diário I. Alfragide: Dom Quixote, 2014, p. 77
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