Prosimetron

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sexta-feira, 28 de março de 2014

Leituras no Metro - 149

Diego Rivera - A noite dos pobres

«Terça-feira, 4 de Junho de 2013
«09:00 h
«O medo instalou-se no coração das pessoas, e a vida, tal como a conhecemos, acabou. O desperdício, o capricho e a extravagância, musas poderosas de quem podia, morreram na praia.
«Ao dia de hoje, há mais de 1 milhão de desempregados em Portugal, sem esperança à vista, e pasmo com a dignidade dos portugueses sofrendo em silêncio as suas tragédias íntimas. Na rua, tento divisar expressões reveladoras do que sentem, mas, até a mim, estripadora mental por deformação de ofício, enganam. Os peões parecem conhecer o seu destino e atravessam as rua srapidamente, sobretudo nas zonas pobres. Continuam a lavar-se e a sair à rua, sem hostilidades a olho nu, e um estrangeiro que aqui passe sossegará assim a família:
«- É tudo exagero dos jornais, Portugal é uma ilha de paz!
«O olhar das pessoas parece mais ocupado do que angustiado, apesar do que as corrói lentamente, como vidro moído. Respira-se, contudo, um ar saturado de solidão, a solidão dos que soterram os seus problemas e as suas dívidas, a venda dos últimos ouros, a dação das suas casas, o roubo das suas reformas, a cisão desesperada com maridos e familiares.»

Rita Ferro - Veneza pode esperar: Diário I. Alfragide: Dom Quixote, 2014, p. 77

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