Lisboa: Orfeu Negro, 2015
«Os meus primeiros duzentos filmes foram vistos em estado de
clandestinidade, ou por fazer gazeta à escola, ou por entrar na sala sem pagar
(pela saída de emergência ou pelas janelas da casa de banho), ou anda por
aproveitar as saídas noturnas dos meus pais, com a necessidade de me encontrar
na cama no seu regresso a casa. Era, pois, com fortes dores de barriga que eu
pagava este grande prazer, com a barriga num nó, a cabeça amedrontada, invadido
por um sentimento de culpabilidade que só podia aumentar a emoção provocada
pelo espetáculo. […)
«Perguntaram-me muitas vezes em que momento da minha
cinefilia desejei tornar-me realizador ou crítico e, na verdade, não faço
ideia; sei apenas que queria aproximar-me cada vez mais do cinema.
«Uma primeira fase constituiu, pois, em ver muitos filmes; uma
segunda, em anotar o nome do realizador à saída da sala, uma terceira, em rever
muitas vezes os mesmos filmes e determinar as minhas escolhas em função do
realizador. Mas, neste período da minha vida, o cinema agia como uma droga de
tal maneira que o cineclube que fundei em 1947 recebeu o nome, pretensioso mas
revelador, de Cercle Cinémane. […]
«Quando era crítico, pensava que um filme, para ser
conseguido, devia expressar simultaneamente uma
ideia do mundo e uma ideia do cinema;
A Regra do Jogo ou O Mundo a Seus Pés correspondiam bem a
essa definição. Hoje, quando vejo um filme, peço-lhe que expresse a alegria de fazer cinema, ora a angústia de fazer cinema, e desinteresso-me
de tudo aquilo que estiver entre os dois, isto é, de todos os filmes que não
vibram.» (p. 15-18)
Estou a gostar imenso deste livro que vai aqui regressar de certeza.
Li este livro no ano passado e gostei de saber a opinião de Truffaut sobre muitos filmes que vi. Gostei tanto que ofereci o livro a dois amigos.
ResponderEliminarBom sábado!
Li este livro maravilhoso pela primeira vez numa edição brasileira que me foi emprestada, hoje tenho a edição francesa e na verdade Truffaut escreve com uma paixão pelo cinema muitas vezes comovente, ele que nos deixou tão cedo. Se não levar a mal aproveito para lhe recomendar, um livro intitulado simplesmente "François Truffaut" escrito pelo Antoine de Baecque e o Serge Toubiana, sobre a vida do cineasta, são 870 páginas que se termina por ler como um belo romance (Folio 3529).
ResponderEliminarBom domingo
Mister Vertigo,
ResponderEliminarAgradeço a dica da biografia de Truffaut. Até estava a pensar em ler uma biografia dele, assim como há anos que estou para ler as memórias e uma biografia de Jean Renoir.
Boa semana, Miss Tolstoi e Mister Vertigo!