Prosimetron

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sábado, 5 de maio de 2018

Leituras no Metro - 974

Lisboa: Orfeu Negro, 2015

«Os meus primeiros duzentos filmes foram vistos em estado de clandestinidade, ou por fazer gazeta à escola, ou por entrar na sala sem pagar (pela saída de emergência ou pelas janelas da casa de banho), ou anda por aproveitar as saídas noturnas dos meus pais, com a necessidade de me encontrar na cama no seu regresso a casa. Era, pois, com fortes dores de barriga que eu pagava este grande prazer, com a barriga num nó, a cabeça amedrontada, invadido por um sentimento de culpabilidade que só podia aumentar a emoção provocada pelo espetáculo. […)
«Perguntaram-me muitas vezes em que momento da minha cinefilia desejei tornar-me realizador ou crítico e, na verdade, não faço ideia; sei apenas que queria aproximar-me cada vez mais do cinema.
«Uma primeira fase constituiu, pois, em ver muitos filmes; uma segunda, em anotar o nome do realizador à saída da sala, uma terceira, em rever muitas vezes os mesmos filmes e determinar as minhas escolhas em função do realizador. Mas, neste período da minha vida, o cinema agia como uma droga de tal maneira que o cineclube que fundei em 1947 recebeu o nome, pretensioso mas revelador, de Cercle Cinémane. […]
«Quando era crítico, pensava que um filme, para ser conseguido, devia expressar simultaneamente uma ideia do mundo e uma ideia do cinema; A Regra do Jogo ou O Mundo a Seus Pés correspondiam bem a essa definição. Hoje, quando vejo um filme, peço-lhe que expresse a alegria de fazer cinema, ora a angústia de fazer cinema, e desinteresso-me de tudo aquilo que estiver entre os dois, isto é, de todos os filmes que não vibram.» (p. 15-18)

Estou a gostar imenso deste livro que vai aqui regressar de certeza.

3 comentários:

Miss Tolstoi disse...

Li este livro no ano passado e gostei de saber a opinião de Truffaut sobre muitos filmes que vi. Gostei tanto que ofereci o livro a dois amigos.
Bom sábado!

Mr. Vertigo disse...

Li este livro maravilhoso pela primeira vez numa edição brasileira que me foi emprestada, hoje tenho a edição francesa e na verdade Truffaut escreve com uma paixão pelo cinema muitas vezes comovente, ele que nos deixou tão cedo. Se não levar a mal aproveito para lhe recomendar, um livro intitulado simplesmente "François Truffaut" escrito pelo Antoine de Baecque e o Serge Toubiana, sobre a vida do cineasta, são 870 páginas que se termina por ler como um belo romance (Folio 3529).
Bom domingo

MR disse...

Mister Vertigo,
Agradeço a dica da biografia de Truffaut. Até estava a pensar em ler uma biografia dele, assim como há anos que estou para ler as memórias e uma biografia de Jean Renoir.

Boa semana, Miss Tolstoi e Mister Vertigo!