terça-feira, 21 de abril de 2020
Pensamento ( s )
(...) Em momentos diferentes da nossa vida , quando não é claro o que podemos fazer ou por onde começar, estendamos a mão a uma vassoura. A vassoura vai sujar-nos as mãos e ensinar-nos, desse modo, uma imensidão de coisas às quais, de outra maneira, dificilmente acederíamos. O poeta Charles Péguy escreveu, com razão, que quando nos recusamos a sujar as mãos no cuidado da vida acabamos rapidamente por ficar sem mãos. É um facto : muitas vezes vivemos sem mãos, perdemos as nossas mãos lá atrás em alguma etapa do caminho, esquecemo-nos do seu significado, da sua função, e, por anos e anos, não temos consciência disso.
A vassoura - e o que ela simboliza - realiza também um providencial movimento de resgate em relação a nós próprios. (...)
- José Tolentino de Mendonça, em crónica publicada no Expresso.
Há certos rasgos divinos nos textos de Tolentino Mendonça. Que a gente alinda por fora e esquece a tralha e a fuligem que vai acumulando por dentro das paredes do eu. E a mascarra esconde -lhes a cor e a textura, toma conta, entope.
ResponderEliminarGosto muito de o ler.
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