quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Leituras no Metro - 1145

Porto: Sextante, 2016

«Edmund de Waal nasceu em 1964, em Nottingham, Inglaterra. É um prestigiado oleiro inglês, professor de Cerâmica na Universidade de Westminster. Quando herdou uma coleção de 264 pequenas esculturas japonesas, em madeira e marfim, chamadas netsuke, decidiu escrever a extraordinária história da família que as colecionou e de como elas atravessaram os séculos.» (Da sinopse.)
E quem foi essa família? 
Charles Ephrussi (1849-1905), que inspirou a Proust o personagem de Swann, foi o patriarca de uma das maiores famílias da burguesia judaica do século XIX. Amigos de Schnitzler e de Hofmannsthal, mecenas dos impressionistas (teve uma das primeiras coleções de pintura impressionista), os Ephrussi, vindos de Odessa, viajaram durante anos entre Viena e Paris, até que a a guerra os precipitou na tragédia. Desse tempo nada sobreviverá a não ser uma coleção de netsuke, entre as quais a miniatura que se encontra na capa deste livro, A lebre de olhos de âmbar.

«Odessa ficava na Zona de Residência, a área das fronteiras ocidentais do império russo em que os judeus eram autorizados a estabelecer-se. Famosa pelas suas sinagogas e escolas rabínicas, rica em literatura e música, a cidade era um íman para os empobrecidos shtetls da Galícia. A sua população de judeus, gregos e russos duplicava a cada dez anos; era uma cidade poliglota de investidores e especuladores financeiros, com docas cheias de intrigas e de espiões, em constante crescimento. Charles Joachim Ephrussi tinha transformado uma pequena firma de comércio de cereais numa enorme empresa que controlava totalmente o mercado do trigo. Comprava o grão a intermediários que, em carroças decrépitas, o traziam por estradas esburacadas dos férteis campos ucranianos, os maiores do mundo, até ao porto de Odessa, onde era armazenado nos seus entrepostos e finalmente embarcado a caminho do mar Negro, Danúbio e Mediterrâneo.
«Em 1860 a firma da família era o maior exportador mundial de cereais. [...] os Ephrussi eram [conhecidos por ...] os reis do trigo.» (p. 33-34)

Renoir - Le déjeuner des canotiers, 1881
The Phillips Collection

«[...] o cenário do espetacular quadro de Renoir, Le déjeuner des canotiers. Uma tarde de boémia simpática na Maison Fournaise, um restaurante á beira-Sena, num subúrbio recentemente ligado por comboio a Paris. Para lá dos salgueiros prateados avistam-se barcos á vela e um barco a remos. Um toldo às riscas vermelhas e brancas protege o grupo da torreira do sol. Estamos no fim do almoço no novo mundo de Renoir, um mundo de pintores, mecenas e atrizes, onde todos são amigos. Os modelos fumam, bebem e conversam entre as garrafas vazias e os restos da refeição deixados nas mesas em total à-vontade.
«A atriz Ellen Andrée, com uma flor no chapéu, leva o copo aos lábios. O barão Raoul Barbier, antigo governador da Saigão colonial, com o seu chapéu de coco castanho puxado para trás, fala com a jovem filha do proprietário. O irmão dela, com o chapéu de palha dos remadores profissionais, está de pé em primeiro plano, controlador. Caillebotte, descontraído e musculado, de camiseta branca e chapéu de remador, senta-se a cavalo na sua cadeira, a olhar para a jovem costureira Aline Charigot, amante e futura mulher de Renoir. O artista Paul Lhote passa um braço proprietário por cima da atriz Jeanne Samary. Um viveiro de namoricos e de conversas sorridentes.
«E Charles está presente. É o homem lá ao fundo de chapéu alto e fato preto, visto de lado. Mal lhe vemos o perfil, mas distinguimos a barba castanho-ruiva. Fala com um [Jules] Laforgue de rosto aberto e mal barbeado, vestido como um poeta que se preza, com um boné de operário [...].» (p. 84)


Depois do comentário que fez, a Maria enviou esta foto (25 fev. 2023):

6 comentários:

  1. Um livro fascinante!
    E o seu autor também.
    Li-o há muitos anos (e sempre lamentei que não tivesse um marcador 🐇)
    Boas leituras!

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  2. Pois é pena. Este também não tinha.
    Estou com vontade de ler A rota da porcelana deste autor. A Maria leu-o?
    Bom dia!

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  3. Tenho a recensão dele (do Expresso) dentro deste livro, mas não cheguei a comprá-lo 😢
    Curiosidade: também encontrei dentro do livro uma recomendação de leitura do actual ministro da cultura😊
    Bom dia!

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  4. Também costumo fazer isso. Guardar algo que leio e que me agrada dentro do livro.
    Bom dia!

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