Mais uma canção de 1973.
sábado, 7 de outubro de 2023
Leituras no Metro - 1163
O KGB invadiu a casa de Vassili Grossman (1905-1964) e manuscrito bem como todas as notas relacionadas Vida e destino, tendo Suslov informado o escritor que o livro não iria ser editado nos próximos 200 anos (imagine-se!). Todas as cópias do livro desapareceram, exceto uma em microfilme que foi enviada por Sakharov para o estrangeiro e o livro foi publicado pela primeira vez no estrangeiro. Após a queda da União Soviética, o manuscrito que estava nos arquivos do KGB foi localizado. É uma obra-prima.
Depois da confisco do livro, Grossman resolveu aceitar o trabalho de rever a tradução para russo de um romance arménio. Só o fez porque isso lhe possibilitou visitar a Arménia e porque parece que o governo soviético também o queria fora de Moscovo.
Dessa viagem nasceu Bem hajam!, relato dos dois meses que passou naquele país: as conversas com os arménios, muitas vezes em língua gestual, dado que Grossman desconhecia arménio e os habitantes do país não falavam russo. Por vezes, havia um intérprete.
Fala-nos das pessoas, das paisagens, das cidades, dos monumentos, dos costumes. Um relato intimista e comovente.
« Foi surpreendente para mim: entre os arménios, há muitos loiros, de olhos cinzentos, azul-claros, azul-escuros. Vi na aldeia crianças de cabelo clarinho, vi a encantadora Rossana, de quatro anos, de olhos celestes e cabelo dourado. Entre as mulheres e os homens arménios há caras de uma beleza de antiguidade clássica, com feições de rosto ideais, nariz pequeno e regular, olhos azuis amendoados. Vi pessoas com maçãs de rosto salientes, narizes achatados e o rasgo dos olhos um pouco asiático; vi pessoas com narizes arrebitados, vi arménios com caras alongadas, agudas, narizes incrivelmente grandes, aguçados, aduncos. Encontre pessoas de cabelo tão negro que parecia azulado [...].
«Como teriam surgido, contudo, os desvios de feições arménios consideradas típicas?
«Creio que tal variedade reflete a história das milenárias invasões, incursões, quedas em cativeiro, a história dos contactos comerciais e culturais [...].» (p. 33)
«[...] a exaltação nacionalista dos pequenos povos oprimidos surge como um meio de defesa da sua dignidade e liberdade.» (p. 39)
sexta-feira, 6 de outubro de 2023
Boa noite!
Uma «curiosidade» enviada por ptcorvo sobre dois filmes que vi e duas das canções que mais tenho ouvido ao longo dos anos.
«Em 1968 estreou-se em sala o filme The Thomas Crown Affair, realizado por Norman Jewison e interpretado por Steve McQueen e Faye Dunaway nos principais papéis. O principal tema musical do filme era uma jóia de canção, com música de Michel Legrand e letra do casal Alan e Marilyn Bergman, intitulada "The windmills of your mind" e interpretada por Noel Harrison (ganhou o Óscar para melhor canção original).
«A canção tornou-se um standard, quer na versão inglesa, quer na versão francesa ("Les Moulins de mon cœur," com letra de Eddy Marnay), com covers sucessivos interpretados, entre outros, por Jose Feliciano, Dusty Springfield, o próprio Michel Legrand, Sting, etc., que, na minha opinião, nunca igualaram a “simplicidade em espiral” da versão original.
«A curiosidade é que um desses covers (melhor dizendo, um decalque, uma vez que não tem variantes significativas) foi interpretado em início de carreira (1969) pelo nosso Fernando Tordo, numa interpretação que, não sendo de grande criatividade, não deixa de ser muitíssimo competente, reproduzindo a tal “espiral simples” do original. Portanto, não arriscou mas também não estragou (como noutras versões internacionais…)
«Em complemento, assinalo que em 1999 foi feito um remake do filme (realização de John McTiernan; interpretação de Pierce Brosnan e Rene Russo), para o qual foram buscar, como música principal, o "Sinnerman", na interpretação de Nina Simone. À canção foram adicionados uns “taps” e a mesma foi sincronizada com uma cena de escadaria, resultando muitíssimo bem.»
Narges Mohammadi: Nobel da Paz 2023
O comité norueguês distinguiu a ativista e jornalista, como reconhecimento das «centenas de milhares de pessoas que se manifestaram contra a opressão do regime teocrático [iraniano] contra as mulheres». Narges Mohammadi tem 51 anos, já foi presa parece-me que 13 vezes e está novamente na prisão, em Teerão, desde o ano passado e esta pena é de 11 anos.
Blanche-Augustine Camus (1884-1968)
Simerenya
Camus-Blanche-Augustine - Fleurs rouges devant le bois à Saint-Tropez, 1920
Sem título
Femme au jardin
Marcadores de livros - 2806
Não tenho nenhum marcador de Jon Fosse, de modo que escolhi outros marcadores de escritores nobelizados:
Marcadores de livros - 2805
Verso e reverso de um marcador recortado.
Verso e reverso.
Verso e reverso (ou vice-versa).
Para a Cláudia, com agradecimentos a Enri, Goretti, Jad e Ph.
Parabéns, Cláudia!
E um livro para lhe proporcionar umas viagens de comboio:
E/P/A, 2022
Os comboios de luxo sempre exerceram fascínio e não é para menos, ao vermos estas fotografias.
«São a fonte de um imaginário de viagem, de voluptuosidade e de beleza que não se esgota, ao ponto de companhias, em todo o mundo, fazerem nascer novos palácios sobre o caminho-de-ferro.
Ao longo da laguna de Veneza confortavelmente instalado no carro-restaurante do Venice Simplon - Orient-Express, admirando os esplendores de Machu Picchu no bar do Hiram Bingham, desfrutando de um onsen a bordo do Shiki-Shima, o leitor deste livro embarca numa volta ao mundo de sonho.
«Sendo também uma evocação dos grandes comboios desaparecidos que marcaram a história ferroviária internacional, do Orient-Express ao Train Bleu, esta obra propõe uma dupla viagem no espaço e no tempo, um momento de maluquice de um comboio de luxo para outro.» (Da sinopse)
quinta-feira, 5 de outubro de 2023
O que estamos a ler? - 30
Miss Tolstoi estava a ler este n.º especial sobre Maupassant, um escritor que li imenso na minha juventude e que muito apreciava.
Há poucos anos reli uns contos dele.
Um souvenir da revolução republicana
«O projétil ou obus, disparado pela fação republicana, na Rotunda, em Lisboa, durante os confrontos do 5 de Outubro de 1910, foi oferecido a António José de Almeida em 18 de julho de 1924.
«A carta, que dá o mote ao número deste mês dos Destaques Arquivo Museu da Presidência da República, assim o atesta.
Trata-se de um manuscrito da autoria de Alfredo Antunes, confesso admirador de António José de Almeida, que parecendo conhecer os seus problemas de saúde, começa por desejar o seu rápido restabelecimento. Seguidamente, refere que lhe envia a granada, que tem uma bandeira pintada por si (?), reproduzindo uma das bandeiras que tinha visto na Praça Marquês de Pombal, no 5 de outubro de 1910: vermelha e verde [com o vermelho à esquerda], com a esfera armilar e uma estrela de simbologia maçónica e Carbonária no topo.» (Daqui)