sábado, 16 de janeiro de 2016
Rua dos Mercadores em Lisboa, no Séc. XVI
Para quem não tenha lido no "Público".
No século XVI, a Rua Nova dos Mercadores era uma pequena babel. Nos seus
edifícios, moravam italianos, flamengos, andaluzes, portugueses. Enquanto
isso, naquela rua da Baixa de Lisboa, cristãos-novos, judeus estrangeiros,
escravos vindos de 20 nações africanas, escravos árabes passeavam-se, muitos
faziam trocas comerciais. É esta a realidade trazida à superfície no livro
recentemente editado no Reino Unido The global city. On the streets of the
renaissance Lisbon (A Cidade Global – Nas Ruas da Lisboa Renascentista),
editado pelas historiadoras Annemarie Jordan Gschwend, do Centro de História
d’Aquém e d’Além-Mar, a trabalhar na Suíça, e Kate Lowe, da Universidade
Queen Mary de Londres.
A obra tem como ponto de partida dois quadros descobertos em 2009, numa
mansão inglesa, em Oxfordshire, datados entre a década de 1570 e 1620 por
Annemarie Jordan Gschwend e Kate Lowe. Foram pintados por um artista
holandês anónimo. Nas duas pinturas, estamos perante mais de uma centena de
figuras humanas, que conversam, montam a cavalo, numa rua com uma fileira de
edifícios em segundo plano. Há homens, mulheres, negros, brancos, cavalos,
movimento e vestimentas apropriadas ao Outono ou ao Inverno.
Quando viram os quadros – que se pensa serem duas telas cortadas a partir de
uma única pintura –, as historiadoras rapidamente determinaram que estavam
perante a Rua Nova dos Mercadores, em Lisboa. É a partir desta malha visual
que o livro é construído, indo buscar documentação oficial, testemunhos da
época e objectos que sobreviveram até hoje para falar sobre a cidade global
que Lisboa era no século XVI, as suas gentes, a sua cultura material em
capítulos escritos por investigadores diferentes.
“É uma vista estranha, que nos mostra uma rua da qual nós realmente não
conhecemos nada. Lisboa foi perdida em 1755. Foi como se tivesse caído uma
bomba nuclear <http://www.publico.pt/1468037 > ”, diz Annemarie Jordan
Gschwend ao PÚBLICO, no início de Dezembro, quando esteve em Lisboa na
apresentação do livro no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA).
“Para mim, o que é interessante é a vida na rua. Lisboa tinha uma grande
população negra. E o quadro não mostra apenas a população negra, mostra
também os estrangeiros que ajudaram Lisboa a tornar-se a grande cidade
comercial que era no século XVI. Os quadros também mostram animais. Há um
cão que está a abocanhar uma ave. E é um peru. É uma ave que veio da América
e que os portugueses tornaram numa ave global, levando-a para a Índia e para
outras partes do mundo.”
Esta é apenas uma das imagens simbólicas encontradas entre os pormenores das
pinturas. Para um especialista, há muita informação nos quadros sobre aquela
cidade agora distante de nós, quando Portugal tinha um império construído
durante os Descobrimentos, e um comércio único vindo do Oriente, de África e
da América, passava obrigatoriamente por Lisboa
<http://www.publico.pt/ ciencias/jornal/no-seculo-em- que-elefantes-caminhavam
-por-lisboa-26215752> . As interacções comerciais, a escravatura, o percurso
dos produtos dentro da cidade para o rio Tejo, as relações entre portugueses
e estrangeiros ou a arquitectura da rua são questões que podem começar a ser
descortinadas a partir do que se vê naquelas duas telas, que funcionam como
um díptico.
“Os quadros são espantosos, mas também enigmáticos”, disse Henrique Leitão,
historiador de ciência e Prémio Pessoa 2014, que fez a apresentação do livro
no MNAA. “São completamente diferentes de todas as outras representações de
Lisboa que dispomos, que, com pouquíssimas excepções, são vistas distantes e
panorâmicas, a partir de um ponto de vista afastado.”
Mas os quadros da Rua Nova dos Mercadores não. “Tal como o quadro do
Chafariz d’el Rey [de autor anónimo, datado entre 1570 e 1580, exposto no
Centro Cultural de Belém], as pinturas representam uma cena viva e intensa
que arrasta irreprimivelmente o observador para dentro dela. É impossível
olhar para estes quadros sem que imediatamente se forme na mente uma
torrente imensa de perguntas”, prosseguiu, enunciando-as: “Que rua é esta?
Que cidade é esta? Que casas são estas? Mas, acima de tudo, quem é esta
gente? E o que é que eles estão a fazer?”
A Rua Nova dos Mercadores ficava atrás do que hoje é o Terreiro do Paço,
entre o início da Rua do Ouro e da dos Fanqueiros, e onde hoje é
sensivelmente a Rua do Comércio. O que se vê no díptico é a fileira de
edifícios que estão do lado do Tejo. Por isso, atrás destes prédios estaria
na altura a Rua da Confeitaria e, mais atrás, o Terreiro do Paço e o rio
Tejo. No extremo esquerdo da primeira pintura nestas páginas vê-se ainda o
largo do Pelourinho o Velho.
A rua media 286 metros de comprimento e 8,8 metros de largura.
“Aproximadamente, 45 edifícios estavam distribuídos de cada lado. A maioria
dos edifícios tinham uma ocupação múltipla, consistindo de três, cinco e
seis andares”, lê-se num dos capítulos do livro, assinado por Annemarie
Jordan Gschwend, que reconstitui a vida daquela rua.
A cerca de ferro que se observa na pintura dá nome à Rua Nova dos Ferros,
que é a parte oriental da Rua Nova dos Mercadores. Era dentro desta cerca
que os comerciantes, lojistas e banqueiros tinham um espaço semiprivado para
conduzirem os negócios. “O artista mostra a sua percepção da interacção
social que testemunhou na Rua Nova – a concentração de mercadores ricos
vestidos ao estilo espanhol, com capas pretas na moda, dentro da cerca de
ferro e separados dos habitantes menos afortunados, que ficam fora desta
fronteira”, explica o livro.
Era no rés-do-chão dos edifícios que estava uma multitude de lojas. Em 1552,
existiam 11 livrarias, onde também se encontravam livros de matemática, e 20
lojas de roupa e têxteis, onde se vendiam tecidos de veludo, sedas, tecido
adamascado, tafetás vindos da Europa, da Índia e do Extremo Oriente. Em
1581, um ano após o início da dinastia filipina, existiam seis lojas
especializadas na venda de porcelana Ming chinesa, nove boticas – as
“farmácias” que na altura vendiam “produtos medicinais”, alguns importados
da Ásia, como pedras bezoares, que se formam no sistema digestivo dos
ruminantes, ou cornos de rinoceronte – além de artesãos, como alfaiates,
calceteiros, barreteiros ou sirgueiros.
Era esta a dinâmica de uma cidade vibrante que estava a receber os frutos da
rede comercial que tinha sido criada (só entre 1500 e 1521, o rei D. Manuel
I enviou 237 naus para a Índia) e da crescente população cada vez mais
misturada. De 1551 há um testemunho de que 10% dos 100.000 lisboetas eram
negros. Dezassete anos depois, Lisboa tinha 150.000 habitantes, onde as
minorias mais representadas eram escravos negros e índios. Em 1578, cerca de
20% dos 250.000 habitantes eram negros.
“Os quadros confirmam que Lisboa era muito misturada racialmente, que havia
gente de muitos povos, muitos negros, que havia produtos exóticos”, diz
Henrique Leitão ao PÚBLICO, acrescentando que uma das surpresas do livro
provém da informação sobre o que existia dentro de algumas das casas da Rua
Nova dos Mercadores. “[Os investigadores para este livro] descobriram
documentação fantástica. Sobretudo inventários pessoais. E isto é muito
importante, porque ficamos a ver o que é que as pessoas tinham mesmo dentro
de casa. A grande surpresa é que estavam cheias de produtos exóticos. Dantes
pensávamos que os produtos exóticos eram a marca de gente muito rica. Mas
acabámos por ver que eram banalíssimos. A louça chinesa estava por todo o
lado, os tecidos indianos estavam por todo o lado.”
Pela documentação, sabe-se hoje que era permitido aos comandantes e aos
marinheiros das naus trazerem o chamado “comércio miúdo” nas suas viagens à
Índia, podendo fazer um pouco dinheiro. Esta invasão de bens vindos do
Oriente é ainda demonstrada pelo historiador de arte Hugo Miguel Crespo, do
Centro de História da Universidade de Lisboa, que, no capítulo sobre o
recheio dos interiores das casas da Rua Nova dos Mercadores, nota que
clientes ricos como Teodósio I, duque de Bragança, adquiriam muitos mais
produtos de luxo europeus, que eram mais raros, do que produtos asiáticos.
Mas toda esta riqueza também transparece nos edifícios que se observam no
díptico. Os sucessivos reis, começando com D. João II, foram financiando
obras para alterar aquela famosa rua. “D. Manuel I tentou construir uma
cidade mais regular. Por isso, ordenou que os balcões de madeira medievais
fossem retirados. A rua passou a ser mais larga e foi pavimentada. Era uma
rua que estava a tentar passar uma mensagem. Tinha apoio real e civil. Era
importante que Lisboa tivesse uma rua comercial. Trazia dinheiro, impostos,
comércio”, explica Annemarie Jordan Gschwend.
Depois, a história seguiu em frente: a dinastia filipina retirou alguma
importância a Lisboa, as rotas comerciais alteraram-se e o terramoto de 1755
mudou para sempre a cartografia da cidade. “O Marquês de Pombal construiu
tudo do zero e impôs uma nova ordem arquitectónica”, explica a historiadora,
acrescentando que a Rua Nova dos Mercadores foi “substituída” por outras
ruas com comércio. Desses tempos, ficaram documentos, objectos e este
díptico da rua que era a “Quinta Avenida do seu tempo”, considera Annemarie
Jordan Gschwend. E que agora é uma rara memória visual daquela Lisboa
global.
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edifícios, moravam italianos, flamengos, andaluzes, portugueses. Enquanto
isso, naquela rua da Baixa de Lisboa, cristãos-novos, judeus estrangeiros,
escravos vindos de 20 nações africanas, escravos árabes passeavam-se, muitos
faziam trocas comerciais. É esta a realidade trazida à superfície no livro
recentemente editado no Reino Unido The global city. On the streets of the
renaissance Lisbon (A Cidade Global – Nas Ruas da Lisboa Renascentista),
editado pelas historiadoras Annemarie Jordan Gschwend, do Centro de História
d’Aquém e d’Além-Mar, a trabalhar na Suíça, e Kate Lowe, da Universidade
Queen Mary de Londres.
A obra tem como ponto de partida dois quadros descobertos em 2009, numa
mansão inglesa, em Oxfordshire, datados entre a década de 1570 e 1620 por
Annemarie Jordan Gschwend e Kate Lowe. Foram pintados por um artista
holandês anónimo. Nas duas pinturas, estamos perante mais de uma centena de
figuras humanas, que conversam, montam a cavalo, numa rua com uma fileira de
edifícios em segundo plano. Há homens, mulheres, negros, brancos, cavalos,
movimento e vestimentas apropriadas ao Outono ou ao Inverno.
Quando viram os quadros – que se pensa serem duas telas cortadas a partir de
uma única pintura –, as historiadoras rapidamente determinaram que estavam
perante a Rua Nova dos Mercadores, em Lisboa. É a partir desta malha visual
que o livro é construído, indo buscar documentação oficial, testemunhos da
época e objectos que sobreviveram até hoje para falar sobre a cidade global
que Lisboa era no século XVI, as suas gentes, a sua cultura material em
capítulos escritos por investigadores diferentes.
“É uma vista estranha, que nos mostra uma rua da qual nós realmente não
conhecemos nada. Lisboa foi perdida em 1755. Foi como se tivesse caído uma
bomba nuclear <http://www.publico.pt/1468037
Gschwend ao PÚBLICO, no início de Dezembro, quando esteve em Lisboa na
apresentação do livro no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA).
“Para mim, o que é interessante é a vida na rua. Lisboa tinha uma grande
população negra. E o quadro não mostra apenas a população negra, mostra
também os estrangeiros que ajudaram Lisboa a tornar-se a grande cidade
comercial que era no século XVI. Os quadros também mostram animais. Há um
cão que está a abocanhar uma ave. E é um peru. É uma ave que veio da América
e que os portugueses tornaram numa ave global, levando-a para a Índia e para
outras partes do mundo.”
Esta é apenas uma das imagens simbólicas encontradas entre os pormenores das
pinturas. Para um especialista, há muita informação nos quadros sobre aquela
cidade agora distante de nós, quando Portugal tinha um império construído
durante os Descobrimentos, e um comércio único vindo do Oriente, de África e
da América, passava obrigatoriamente por Lisboa
<http://www.publico.pt/
-por-lisboa-26215752> . As interacções comerciais, a escravatura, o percurso
dos produtos dentro da cidade para o rio Tejo, as relações entre portugueses
e estrangeiros ou a arquitectura da rua são questões que podem começar a ser
descortinadas a partir do que se vê naquelas duas telas, que funcionam como
um díptico.
“Os quadros são espantosos, mas também enigmáticos”, disse Henrique Leitão,
historiador de ciência e Prémio Pessoa 2014, que fez a apresentação do livro
no MNAA. “São completamente diferentes de todas as outras representações de
Lisboa que dispomos, que, com pouquíssimas excepções, são vistas distantes e
panorâmicas, a partir de um ponto de vista afastado.”
Mas os quadros da Rua Nova dos Mercadores não. “Tal como o quadro do
Chafariz d’el Rey [de autor anónimo, datado entre 1570 e 1580, exposto no
Centro Cultural de Belém], as pinturas representam uma cena viva e intensa
que arrasta irreprimivelmente o observador para dentro dela. É impossível
olhar para estes quadros sem que imediatamente se forme na mente uma
torrente imensa de perguntas”, prosseguiu, enunciando-as: “Que rua é esta?
Que cidade é esta? Que casas são estas? Mas, acima de tudo, quem é esta
gente? E o que é que eles estão a fazer?”
A Rua Nova dos Mercadores ficava atrás do que hoje é o Terreiro do Paço,
entre o início da Rua do Ouro e da dos Fanqueiros, e onde hoje é
sensivelmente a Rua do Comércio. O que se vê no díptico é a fileira de
edifícios que estão do lado do Tejo. Por isso, atrás destes prédios estaria
na altura a Rua da Confeitaria e, mais atrás, o Terreiro do Paço e o rio
Tejo. No extremo esquerdo da primeira pintura nestas páginas vê-se ainda o
largo do Pelourinho o Velho.
A rua media 286 metros de comprimento e 8,8 metros de largura.
“Aproximadamente, 45 edifícios estavam distribuídos de cada lado. A maioria
dos edifícios tinham uma ocupação múltipla, consistindo de três, cinco e
seis andares”, lê-se num dos capítulos do livro, assinado por Annemarie
Jordan Gschwend, que reconstitui a vida daquela rua.
A cerca de ferro que se observa na pintura dá nome à Rua Nova dos Ferros,
que é a parte oriental da Rua Nova dos Mercadores. Era dentro desta cerca
que os comerciantes, lojistas e banqueiros tinham um espaço semiprivado para
conduzirem os negócios. “O artista mostra a sua percepção da interacção
social que testemunhou na Rua Nova – a concentração de mercadores ricos
vestidos ao estilo espanhol, com capas pretas na moda, dentro da cerca de
ferro e separados dos habitantes menos afortunados, que ficam fora desta
fronteira”, explica o livro.
Era no rés-do-chão dos edifícios que estava uma multitude de lojas. Em 1552,
existiam 11 livrarias, onde também se encontravam livros de matemática, e 20
lojas de roupa e têxteis, onde se vendiam tecidos de veludo, sedas, tecido
adamascado, tafetás vindos da Europa, da Índia e do Extremo Oriente. Em
1581, um ano após o início da dinastia filipina, existiam seis lojas
especializadas na venda de porcelana Ming chinesa, nove boticas – as
“farmácias” que na altura vendiam “produtos medicinais”, alguns importados
da Ásia, como pedras bezoares, que se formam no sistema digestivo dos
ruminantes, ou cornos de rinoceronte – além de artesãos, como alfaiates,
calceteiros, barreteiros ou sirgueiros.
Era esta a dinâmica de uma cidade vibrante que estava a receber os frutos da
rede comercial que tinha sido criada (só entre 1500 e 1521, o rei D. Manuel
I enviou 237 naus para a Índia) e da crescente população cada vez mais
misturada. De 1551 há um testemunho de que 10% dos 100.000 lisboetas eram
negros. Dezassete anos depois, Lisboa tinha 150.000 habitantes, onde as
minorias mais representadas eram escravos negros e índios. Em 1578, cerca de
20% dos 250.000 habitantes eram negros.
“Os quadros confirmam que Lisboa era muito misturada racialmente, que havia
gente de muitos povos, muitos negros, que havia produtos exóticos”, diz
Henrique Leitão ao PÚBLICO, acrescentando que uma das surpresas do livro
provém da informação sobre o que existia dentro de algumas das casas da Rua
Nova dos Mercadores. “[Os investigadores para este livro] descobriram
documentação fantástica. Sobretudo inventários pessoais. E isto é muito
importante, porque ficamos a ver o que é que as pessoas tinham mesmo dentro
de casa. A grande surpresa é que estavam cheias de produtos exóticos. Dantes
pensávamos que os produtos exóticos eram a marca de gente muito rica. Mas
acabámos por ver que eram banalíssimos. A louça chinesa estava por todo o
lado, os tecidos indianos estavam por todo o lado.”
Pela documentação, sabe-se hoje que era permitido aos comandantes e aos
marinheiros das naus trazerem o chamado “comércio miúdo” nas suas viagens à
Índia, podendo fazer um pouco dinheiro. Esta invasão de bens vindos do
Oriente é ainda demonstrada pelo historiador de arte Hugo Miguel Crespo, do
Centro de História da Universidade de Lisboa, que, no capítulo sobre o
recheio dos interiores das casas da Rua Nova dos Mercadores, nota que
clientes ricos como Teodósio I, duque de Bragança, adquiriam muitos mais
produtos de luxo europeus, que eram mais raros, do que produtos asiáticos.
Mas toda esta riqueza também transparece nos edifícios que se observam no
díptico. Os sucessivos reis, começando com D. João II, foram financiando
obras para alterar aquela famosa rua. “D. Manuel I tentou construir uma
cidade mais regular. Por isso, ordenou que os balcões de madeira medievais
fossem retirados. A rua passou a ser mais larga e foi pavimentada. Era uma
rua que estava a tentar passar uma mensagem. Tinha apoio real e civil. Era
importante que Lisboa tivesse uma rua comercial. Trazia dinheiro, impostos,
comércio”, explica Annemarie Jordan Gschwend.
Depois, a história seguiu em frente: a dinastia filipina retirou alguma
importância a Lisboa, as rotas comerciais alteraram-se e o terramoto de 1755
mudou para sempre a cartografia da cidade. “O Marquês de Pombal construiu
tudo do zero e impôs uma nova ordem arquitectónica”, explica a historiadora,
acrescentando que a Rua Nova dos Mercadores foi “substituída” por outras
ruas com comércio. Desses tempos, ficaram documentos, objectos e este
díptico da rua que era a “Quinta Avenida do seu tempo”, considera Annemarie
Jordan Gschwend. E que agora é uma rara memória visual daquela Lisboa
global.
Pré-visualizar anexo ATT00007.jpg
Adelaide Cabete no Instituto Feminino de Educação e Trabalho em Odivelas
http://capeiaarraiana.pt/2014/11/02/adelaide-cabete-medica-republicana-e-sufragista/
Achei graça a estas fotos da médica Adelaide Cabete.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2016
Quartas à noite, na RTP
Estreou na passada quarta-feira, na RTP, uma série da BBC, adaptando o romance de Tolstoi, em oito episódios. Durante mais sete semanas, estarei frente à tv às quartas-feiras.
A banda sonora da série é de Martin Phipps.
Na promoção que a RTP fez da série, foi ouvir Francisco Vale da Relógio d'Água, uma das editoras que traduziu o romance do russo. Fiquei contente porque ele afirmou que os dois romances clássicos que a editora mais vende são Guerra e Paz e Anna Karenina.
Lisboa: Relógio d'Água, 2013
«Anna Karénina morre no mundo do romance; mas cada vez que lemos o livro ela ressuscita, e mesmo depois de o termos acabado adquire outra vida na nossa recordação. Em cada personagem literária existe algo da Fénix imortal. Através das vidas perduráveis das suas personagens, a própria existência de Tolstoi teve a sua eternidade.» (George Steiner - Tolstoi ou Dostoievski)
Lisboa: Relógio d'Água, 2015
Para APS que este Verão, heroicamente, leu Guerra e Paz. E se ainda não leu Steiner, certamente o fará. :)
quinta-feira, 14 de janeiro de 2016
Os meus franceses - 439
Bordeaux: Aubéron, 2008
Pierre Loti é um escritor que li muito na minha juventude. Lembro-me principalmente dos seus livros de viagens. Como oficial de Marinha que foi, viajou muitíssimo.
Há uns dias, 'descobri' que há uma casa-museu dele em Rochefort, cidade que não conheço. Fiquei logo com vontade de visitar esta casa. :)
Praça da canção
A Academia das Ciências de Lisboa comemora hoje, pelas 16h00, o cinquentenário da publicação do livro Praça da Canção, de Manuel Alegre. O primeiro livro de Manuel Alegre foi publicado em janeiro de 1965, tendo marcado várias gerações de leitores e tendo-se tornado como um símbolo da luta pela liberdade.
Em adenda a «100 Milhões»
Lisboa: Livros do Brasil, 1963. (Colecção Vampiro; 18)
Lisboa: Livros do Brasil, 1981? (Vampiro Gigante; 17)
No seguimento do post do MLV sobre o livro mais vendido no mundo a seguir à Bíblia, fui ver se ele estava editado em português. Ten Little Niggers está traduzido por Baptista de Carvalho como Convite para a morte. Saiu primeiro na col. Vampiro, com uma capa surrealista de Cândido Costa Pinto - comme il faut -, e mais tarde na Vampiro Gigante. Não o tenho e não me lembro de o ter lido, mas brevemente o farei.
Desconfio que pelo Arpose deve haver o Vampirito. :)
Hein Semke: Um alemão em Lisboa
Ainda vivo!, 1949
Profeta sentado, 1936
Flores e flores, 1977
Parlamento, tríptico, 1981
À esquerda: Altar, 1968; à direita: Os valores, 1968
Guaches
Totem, 1933
Aconselho uma visita a esta bela exposição de Hein Semke, ilustrativa da evolução da sua arte e dos vários materiais que trabalhou.
«Hein Semke emigrou para Portugal em 1929 depois de ter participado, aos dezoito anos, na Primeira Guerra Mundial. Pacifista convicto, frequenta círculos anarquistas e acaba por ser preso, entre 1923 e 1928. Em 1930, regressa à Alemanha doente, onde, uma vez recuperado, estuda cerâmica e escultura na Escola de Artes e Ofícios de Hamburgo e na Academia de Belas-Artes de Estugarda. A arte torna-se a sua razão de viver, dá-lhe um sentido de vida, uma vocação que não mais abandonará. Em 1932 regressa a Portugal, país onde fica a viver até à data da sua morte.
«Sendo um artista quase autodidata, Semke é profundamente crente e ao mesmo tempo marcado por um forte individualismo que exprime através de uma intensa atividade artística, abarcando várias linguagens, da escultura à gravura, pintura, colagens, 34 livros de artista (realizados entre 1958 e 1986).» (Ana Vasconcelos, comissária da exposição)
Um dia destes colocarei vários autorretratos de Hein Semke.
Um dia destes colocarei vários autorretratos de Hein Semke.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2016
100 milhões
A seguir a Shakespeare e à Bíblia, é Agatha Christie a autora mais lida em todo o mundo. E a obra que mais vendeu até 2009 foi Ten Little Niggers, escrito em 1939 (com 100 milhões de cópias).
Ontem fez 40 anos que a "rainha do crime" morreu.
In memoriam Ruth Leuwerik
O nome Ruth Leuwerik pouco dirá
ao leitor português. Nunca se tornou conhecida junto de um vasto público fora
dos países de expressão germânica, no entanto, Leuwerik foi um dos grandes
nomes do cinema do pós-guerra na década de 1950, ao lado de Maria Schell ou
Romy Schneider.
Iniciou o seu percurso artístico no teatro em 1947, mas a sua carreira
centrou-se na Sétima Arte: em 1953, com o apoio de Thomas Mann, desempenhou o
papel principal no filme “Königliche Hoheit” (Sua Alteza Real), baseado na obra
homónima do autor, e a partir desse momento, marcou presença em inúmeras
películas até aos anos 60. Um dos pontos altos: a personagem de Maria von Trapp
na primeira adaptação cinematográfica em 1956, muito antes da versão de "Música
no Coração" com Julie Andrews em 1965.
Uma das suas últimas aparições relacionou
Ruth Leuwerik de novo com Thomas Mann: A saga da família Buddenbrook foi
filmada em 1979 para a televisão alemã, e aí, vimos Leuwerik
no papel da cônsul Buddenbrook.
A atriz alemã faleceu ontem em
Munique, aos 91 anos. Foi casada com o cantor lírico Dietrich Fischer-Dieskau
entre 1965 e 1967.
Marcadores de livros - 314
Marcadores de Maria Mateus referentes aos meses de janeiro a setembro e dezembro. Os meses de outubro e novembro já os tinha postado.
Alguns destes locais são fáceis de referenciar.
Monumento a Camões em Paris
Há uns tempos falou-se aqui de dois monumentos a Camões em Paris: um de Clara Menéres que se encontra junto a rue de Lisbonne e um outro da autoria de um italiano. Pois também houve um projeto da autoria de Anjos Teixeira, que provavelmente não se chegou a concretizar.
Ilustração Portuguesa, Lisboa, 22 de Fevereiro de 1915
Para Margarida Elias.
terça-feira, 12 de janeiro de 2016
Novidades
Diziam os anúncios que estaria disponível nos quiosques e livrarias, mas cá no burgo não dei ainda por ele e gostaria de tê-lo . Trata-se do 50º álbum a favor da liberdade de imprensa feito pelos Repórteres sem Fronteiras e é dedicado ao grande Robert Capa .
Bom dia !
Este maravilhoso trio de Schubert para lembrar que Bowie foi também um actor muito razoável : The Hunger, 1983 , com Deneuve e Sarandon .
Contos de Perrault
É deste modo que o Google assinala os 338 anos do nascimento de Charles Perrault, que povoou (e felizmente ainda habita) a infância de muitas gerações.