sábado, 11 de abril de 2009

Ressurreição


Piero della Francesca – Ressurreição
Arezzo, Sansepolcro, Museu Civico

Turandot final de Berio

Como sabemos Puccini deixou incompleta a sua Turandot.
Em 2002 Luciano Berio apresentou (julgo que no Festival de Musica de Gran Canarias) um novo final, composto por si em 2001. Ele encontra-se gravado no disco Puccini Discoveries . Um disco maravilhoso a não perder, organizado por Riccardo Chailly que dirigiu a Orchestra Sinfonica di Milano Giuseppe Verdi.

Ao contrário do final de Alfano, o final de Berio (escrito exactamente sobre o mesmo libreto de Giuseppe Adami e Renato Simoni) é introspectivo... "Não basta vencer por vencer"

O total da obra de Berio são 23:13 minutos e estou a ouvir no disco. Aqui ficam dois curtos momentos... os que encontrei no Youtube:

The book of Hours


Quando se trabalha sobre Horas com Horas nada melhor que The Book of Hours... jazz composto por Patrick Zimmerli... acorda-se!
Vamos conhecer a sua música!

Julie-la-Rousse


Le pavé de ma rue (1953)
Paris est tout seul ce matin (1954)
Crac ! (1954)
L'autobus (1954)
Le poseur de rails (1956)
Par le vieux chemin de pierre (1956)
Le braconnier (1956)
Mon coeur en tourment (1956)
La fête est là (1956)
Sacré Gaston (1956)
L'Ecluse (1956)
Julie-la-Rousse (1956)
Marguy (1956)
T'es bath... môme (1956)
Ca, c'est chouette (1956)
Carnaval (1956)
La botte (1957)
Quand les blés seront... (1957)
Le clocher de mon pays (1957)
A petits pas (1957)
A la belle étoile (1957)
Mon premier amour (1957)
Chiens et chats (1957)
La fête de la vie (1957)
La complainte du dragueur (1958)
video no prosimetron

O que estou a ouvir...


Sonja & Shanti Sungkono
Werke für 2 Klaviere

DMITRI SCHOSTAKOWITSCH (1906-1975)
CONCERTO FÜR 2 KLAVIERE OP. 94
1 Adagio. Allegretto. Adagio
2 Allegretto. Adagio. Allegro

SERGEJ RACHMANINOFF (1873-1943)
FANTASIE - TABLEAUX (SUTE NR. 1)
3 Barcarolle (Allegretto)
4 La Nuit... L´Amour (Adagio sostenuto)
5 Les Larmes (Largo di molto)
6 Pâques (Allegro maestoso)

CLAUDE DEBUSSY (1862 - 1918)
7 Prélude à l´après-midi d´un Faune
(Transcription: Maurice Ravel)

FRANCIS POULENC (1899-1963)
SONATE (1953)
8 Prologue
9 Allegro molto
10 Andante lyrico
11 Epilogue

Para ouvir um pouco de RACHMANINOW : Pâques

«A arte é o prolongamento do sonho»

Raúl Perez


Sem título
Tinta-da-china sobre papel, 1975
Col. do artista

Fui ontem ao CCB ver a retrospectiva de Raúl Perez que termina amanhã.

Have a nice day!


Bon Jovi
Letra e música de Bon Jovi e Jon Bon Jovi.

Era a tarde mais longa de todas as tardes...


Estrela da Tarde

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhamos tardamos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficamos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde demais para haver outra noite, para haver outro dia.

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza.

Foi a noite mais bela de todas as noites que me aconteceram
Dos noturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram.

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza.

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!

Ary dos Santos

Com variantes:

O Quinto Poema de "O Guardador de Rebanhos", Alberto Caeiro.


Para pensar ou não pensar em nada: criacionismo/novo criacionismo ou evolução?

Alberto Caeiro pensava assim:

Há metafísica bastante em não pensar em nada.

O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.

Que ideia tenho eu das coisas?
Que opinião tendo sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

O mistério das coisas? Sei lá o que é o mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas coisas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada.
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.

(...)

Fernando Pessoa, O Rosto e as Máscaras, Lisboa: Círculo dos Leitores, sd p.25-26

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Páscoa na televisão americana dos anos 50

Vi recentemente dois telefilmes americanos dos anos 50 sobre a Páscoa: Hill Number One e I Beheld His Glory.


Hill Number One, de 1951, conta a história do Calvário na voz de um pároco do exército norte-americano durante a Guerra da Coreia. Trata-se de um episódio da série Family Theatre, com Leif Erickson, Ruth Hussey, Roddy McDowall, Joan Leslie, Regis Toomey, Gene Lockhart e, na sua primeira actuação em filme, James Dean como Apóstolo João (como secundário muito secundário). A fotografia é a preto e branco.


I Beheld His Glory, de 1953, conta a mesma história vista pelos olhos de um centurião Romano, Cornélio. A interpretação de Cornélio está a cargo de George MacReady e o filme é a cores.
Nenhum dos telefilmes vale por grandes valores de produção: o primeiro, ficou na memória por se tratar da primeira interpretação de James Dean; o segundo, pela originalidade narrativa. Ambas as obras se encontram disponíveis em DVD na compilação The Golden Age of TV Drama.

Livros aparentemente inúteis







Esta semana, passei pelo Rossio e olhei para uma das montras da Livraria do Diário de Notícias. Eram tantos os livros que me pareceram inúteis... porém, tornei a olhar, com melhores olhos e cada um dos livros tinha a cara de alguns conhecidos (de todos nós colaboradores do Prosimetron).... e até a minha.
Só não digo a quem dedico (ou quem revejo) em cada um dos livros...

Coelhos, Páscoa e a Disney


Para fazer o trio de "cartoons" Pascais, eis "Funny Little Bunnies" da série "Silly Symphonies" da Disney, de 1934, de quando ainda detinham a exclusividade do 3-strip Technicolor.

A Páscoa de Tom e Jerry


Para não favorecer a Warner Bros. e o Bugs Bunny, eis um "cartoon" da MGM com os inimitáveis Tom & Jerry - datado de inícios de 1958, foi o 110º desenho animado dos dois protagonistas. Neste "cartoon", Tom e Jerry recebem um presente inesperado do Coelho da Páscoa.

Bugs Bunny e o Coelho da Páscoa


Este "cartoon" da Warner Bros. foi o seu 500º - viriam a publicar mais 500. Easter Yeggs data de 1947. O Bugs resolve ajudar o Coelho da Páscoa a distribuir ovos de páscoa... mas nem todas as intenções são assim tão boas...

Sexta-feira Santa

Agora completou-se o meu sofrimento e inominavelmente
dele estou repleta. Fico imóvel como o interior
da pedra fica imóvel.
Dura como estou, uma coisa apenas sei na minha dor:
Tu cresceste
e cresceste,
para te elevares
como dor desmedida
muito para lá da medida do meu coração.
Agora jazes atravessado no meu colo,
agora já não Te posso
dar à luz.

Rainer Maria Rilke, A vida de Maria (Pietà);
trad. de Maria Teresa Dias Furtado, Portugália Editora, 2008;
imagem: detalhe da Descida de Cristo da Cruz, Rogier van der Weyden, Museu do Prado

Cordeiro pascal

Este cordeiro pascal é típico da cozinha checa nesta quadra. Se tiverem paciência e engenho, deitem mãos à obra, que farão um figurão.


Cordeiro pascal e roscas de Judas
In: Lea Filipová - Cocina checa. Praga: Ed. Slovart, 2001

Easter Parade

Dos cofres do cinema, cortesia do TCM: Judy Garland e Fred Astaire, 1948

Ainda a Paixão de Cristo e as datas

Depois de ler o post do Jad resolvi ir consultar o meu "guru" sobre este tema, o reputadissímo Geza Vermes, uma das maiores senão a maior autoridade sobre a vida de Cristo no nosso tempo. E lá tirei da "prateleira religiosa" da minha estante o fantástico The Passion. E aqui fica um extracto das conclusões a que o Prof.Vermes chegou depois de estudar a questão durante décadas :

" (...) in AD 30, the year of the Passion, Passover celebrated at the full moon on 15 Nisan fell on Saturday, 8 April, and that consequently Jesus, crucified on the eve of Passover ( 14 Nisan ), died on Friday, 7 April AD 30. "

- The Passion, Penguin Books, 2005.

Portanto, está o Prof. Vermes ( e a maioria dos scholars que estudaram este tema, crentes e não crentes ) convencido que Cristo morreu a 7 de Abril do ano 30, uma sexta-feira ( 14 Nisan no calendário judeu ).

A tradição dos Ovos da Páscoa

Ovos pintados que me ofereceram: arte Romena

Estive à procura de histórias sobre as origens dos Ovos da Páscoa: encontrei uma referência na comarca de Warwickshire, no Reino Unido, que me fez sorrir e passo a traduzir:
"Antes de os ovos terem ficado intimamente ligados à Páscoa Cristã, eram venerados em muitos festivais de Ritos da Primavera. Os Romanos, Gauleses, Chineses, Egípcios e Persas todos veneravam o ovo como símbolo do universo. Desde tempos antigos que os ovos eram tingidos, oferecidos e reverenciados.
Em tempos pagãos, o ovo representava o renascimento da terra. O inverno longo e duro estava terminado; a terra irrompia e renascia tal como o ovo miraculosamente explodia de vida. O ovo era assim imbuído da percepção de poderes especiais. Era enterrado sob as fundações de edifícios para afastar o mal; jovens mulheres Romanas grávidas carregavam um ovo consigo para descortinar o sexo dos seus bebés; as noivas Francesas pisavam um ovo antes de cruzar a soleira das suas novas casas.

Com o advento do Cristianismo, a simbologia do ovo alterou-se para representar, não o renascimento da Natureza, mas o renascimento do homem. Os Cristãos abraçaram a simbologia do ovo e identificaram-no com o túmulo de onde se soergueu Cristo.
Antigas lendas Polacas combinaram folclore e crenças Cristãs e ancoraram firmemente o ovo à celebração Pascal. Uma lenda conta como a Virgem Maria ofereceu ovos aos soldados na cruz. Pediu-lhes para serem menos cruéis e chorou. As lágrimas de Maria caíram sobre os ovos, pintalgando-os de cores brilhantes.

Outra lenda Polaca narra a visita de Maria Madalena ao sepulcro, para cuidar do corpo de Jesus. Levava consigo um cesto de ovos para lhe servir de repasto. Quando chegou ao sepulcro e destapou a cesta, maravilhou-se ao ver que as puras cascas brancas tinham milagrosamente tomado um arco-íris de cor."

Quarta-feira santa versus Sexta-feira santa

Livro de Horas, 1501
Quando morreu Jesus?


Todos me respondem na Sexta-feira Santa, véspera do Sabbath, atendendo ao que diz o Evangelho de Marcos (15:42-46)

"Ao cair da tarde, visto ser a Preparação, isto é, a véspera do Sábado, José de Arimateia, [...]foi corajosamente procurar Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos admirou-se de Ele já estar morto [...]. Informado pelo centurião, ordenou que o corpo fosse entregue a José. Este, depois de comprar um lençol, desceu o corpo da cruz e envolveu-o nele. Em seguida, depositou-O num sepulcro [...]"

Mas será assim?
O Credo - uma das principais orações da Igreja Católica diz "Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras; e subiu aos Céus,onde está sentado à direita de Deus Pai." o que também está de acordo com as palavras de Jesus: Assim como Jonas esteve no ventre do cetáceo três dias e três noites assim o Filho do Homem estará no seio da terra três dias e três noites (Mt 12:40).
A contagem do dia é do pôr-do-sol ao pôr-do-sol (motivo por que se festeja o Santo António na noite do dia 12 de Junho).
Logo Cristo ressuscitou na noite de Sábado para Domingo (dado que Domingo já não estava no sepulcro; Mt 28:1-6, Mc 16:1-6).
Como poderiam contar três dias e três noites se fora enterrado na véspera de Sábado?

Mas Sabbath é, para além do Sábado, todo o dia de uma festa religiosa (dia de descanço).
Logo Jesus Cristo morreu na Quarta-feira (páscoa judaica; pessach), véspera do Sabbath que festeja o primeiro dia da festa do Ázimo (massôt) que ocorre a 15 de Nissan.
Já depois de ter feito e refeito contas encontrei um artigo na net que desenvolve o assunto:
Cristo teria morrido na quarta-feira do dia 14 de Nissan do ano de 3790 (calend. Heb.) que corresponde, se as contas tiverem certas, a 6 de Abril do ano 30

N Identidades, E.M.Melo e Castro

N Identidades
(Para meu Pai morrendo)
(…)
10. As portas estão abertas mas fechadas
de quantas direcções se componentes
as vozes ditas cegas derivadas
das mais várias e últimas correntes
movimentos sistemas colunatas
olhares cruzados dedos se dizentes
na procura dos erros e dos medos
dos dias altos do alvor doentes
ou as partes partidas dos segredos
se procuram em modos divergentes
nos silêncios sulcados e marcados
em faces confusões equivalentes
nas línguas mudas claras e faladas
as águas portas paradas e correntes.

E. M. Melo e Castro, Resistência das Palavras, Lisboa: Plátano Editora, 1975, p.27.

Beijo de Judas e Prisão de Jesus

São horas de prima de sexta-feira, dia 10 de Abril de 2009. Estou a trabalhar, escrevendo a introdução ao Livro de Horas, em português, publicado em Paris, em Fevereiro de 1501. Encontro-me perante a imagem que antecede o excerto do Evangelho de São João - A Paixão.

Nela temos um resumo, figurado de toda a narração.
Transcrevemos o texto (Jo 18: 1-11) com a linguagem (modernizando apenas a grafia) do começo do humanismo:
"Saiu o senhor Jesus com seus discípulos alem do ribeiro dos Cedros donde estava o horto em o qual entrou e os seus discípulos. Sabia Judas, que o havia traído, aquele lugar que ele com seus discípulos muitas vezes aí vinha. E como já houvesse Judas recebido a gente e ministros para o prender dos juízes e maiores dos Fariseus veio em o sobredito lugar com tochas e com armas e com lanternas.
Jesus pois que sabia o que sobre ele havia de vir saiu a eles dizendo-lhes: a quem demandais? E responderam: a Jesus de Nazaré. E disse-lhes Jesus: Eu sou. [...]
São Pedro tinha um cutelo e sacou e feriu a um servidor do pontifico e cortou-lhe a orelha direita. O nome do servidor era Malco.
Disse pois Jesus a Simão Pedro: mete teu cutelo em tua bainha; não quereis que beba o cálice que me meu Padre deu? "

Embora a imagem esteja a ilustrar a narração do evangelho de João, a figuração faz antes recordar a narração de Marcos (Mc 14:43-47):
Transcrevemos da Bíblia Sagrada com imprimatur de "D. António, Cardeal-Patriarca", 20-VI-1976 (7.ª edição, Lisboa, Difusora Bíblica (Missionários Capuchinhos), 1976):

"Jesus estava ainda a falar quando apareceu Judas, um dos doze, e com ele uma grande multidão com espadas e varapaus, da parte dos príncipes dos sacerdotes, dos escribas, e dos anciãos. Ora o que O ia entregar tinha-lhes dado este sinal: Aquele que eu beijar, é esse mesmo; prendei-O e levai-O bem gauardado. Logo que chegou, aprximou-se d'Ele, dizendo: Rabbi e beijo-o. Os outros deitaram-Lhe as mãos e prenderam-n'O. Então, um dos que estavam presentes, tirando a espada, feriu o criado do Sumo Sacerdote e corto-lhe uma orelha".
Vamos voltar a este assunto.

A deposição de Cristo, A Lamentação.

Caravaggio "Deposição de Cristo" (1602/04) Vaticano
Michelangelo Merisi da Caravaggio nasceu em Milão, em1571 e faleceu em 1610 foi um pintor
Barroco que viveu em Roma, Nápoles, Malta e Sicília.


Lamentação sobre o corpo do Cristo Morto (1490)

68 x 81 cmPinacoteca di Brera, Milão
Andrea Mantegna (Vicenza c.1431 -1506) foi um pintor e gravador do Renascimento cuja carreira foi fortemente marcada pelos trabalhos da Escola Florentina

Canções de Zaratustra – 4

60.

A morte temo-la certa:
por que não havemos de estar serenos?

Friedrich Nietzsche
In: Poemas / trad. Paulo Quintela. Coimbra: Centelha, 1986, p. 91

Em volta de Pietà VII : Cosmè Tura .

Hoje, de acordo com o calendário pascal, é o último post sobre o tema.
Comecei no tempo presente e termino em 1460. Não coloquei nenhuma pietà medieval embora, haja muitas que aprecio. Ficaram, por isso, de fora muitas pietàs que me deslumbraram mas tinha que fazer uma escolha e nem sempre foi fácil.

Pietà; Tura Cosmè; 1460;

Óleo sobre madeira, 48 x 33 cm; Museo Correr; Venice



Cosmè Tura, Cosimo Tura nasceu em Ferrara c. 1430 e faleceu em 1495. Pintor renascentista, oficial do duque Estensi de Ferrara, foi o fundador da escola de pintura de Ferrara. Esteve provavelmente em Veneza e Pádua entre 1452 e 1456 onde estudou com Andrea Mantegna e trabalhou com Donatello.
Em Ferrara, os trabalhos mais notáveis foram para a Catedral (1458), para a Biblioteca de Giovanni Pico della Mirandola e para o Palácio Schifanoia de Ferrara.
A sua pintura é caracterizada por uma decoração e plasticismo quase escultórico das figuras num aparente realismo.

Apesar desta ser uma das que elegi o meu maior apreço vai para a Pietà de Botticelli.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Ch'io Parta: George Fridrich Häendel.

Isto é para a belíssima "Rosa damascena" que o Luís Barata hoje colocou. Julgo que liga bem com ela.
Rinaldo (HWV 7) ópera de Häendel, em 3 Actos, que não conheço bem.

O tempo passa... mas não o deixes sumir...

O tempo passa,
está sempre a passar,
como diz o calendário...

Mas não o deixes sumir
sem ter feito uma dávida
de amizade, de compreensão,
de carinho ou afecto.


Não o deixes passar sem ver
a beleza dos dias na luz
que o sol amanheceu, acesa.
Ou o anoitecer com o brilho das estrelas
e da lua reflectida nas águas
- caminhos de mais além.


Luísa Dacosta

Giacomo da Lentini, o inventor do soneto.

Hoje coloquei um poema simples, de um poeta angolano, do qual gostei por achar que as borboletas são uns insectos belíssimos e diáfanos, "borboleta é um ser de misteriosos nadas".
Agora deixo aqui um poeta medieval e erudito que o Eduardo me deu a conhecer. Adorei quando o li porque sou apaixonada pelo povo italiano e pelo sotaque da sua língua cantante.


Giacomo da Lentini (c. 1210 - c. 1260) foi um poeta siciliano que é reconhecido como o inventor desta mais decantada forma de poesia: o soneto. Reconhecido por Petrarca e até por Dante Alighieri, que se lhe refere na Divina Commedia, Canto XXIV Purgatorio, 56.
As suas obras sobreviventes abrem o Codice Vaticano Latino 3793 da Biblioteca Apostolica Vaticana. Adaptando à maneira siciliana temas e formas do cantar trovadoresco provençal, pensa-se que escreveu em siciliano embora todas as suas obras que restam estejam em toscano - surpreendentemente semelhante ao italiano contemporâneo, e surpreendentemente compreensíveis por um falante culto de português de hoje.


Io m’aggio posto in core a Dio servire

Io m'aggio posto in core a Dio servire,
Com'io potesse gire in paradiso,
Al santo loco ch'aggio audito dire
U'si mantien sollazzo, gioco e riso.

Sanza mia donna non li voria gire,
Quella c'ha blonda testa e claro viso,
Chè sanza lei non poteria gaudire,
Estando da la mia donna diviso.

Ma non lo dico a tale intendimento,
Perch'io peccato ci volesse fare,
Se non veder lo suo bel portamento,

E lo bel viso e 'l morbido a sguardare:
Chè lo mi teria in gran consolamento,
Veggendo la mia donna in ghioria stare.

Podem ouvi-lo neste site:
http://it.encarta.msn.com/media_221638245_981530692_-1_1/Jacopo_da_Lentini_Io_m%E2%80%99aggio_posto_in_core_a_Dio_servire.html

Citações - 21 : Um actor sobre livros

Hugh Dancy é um talentoso jovem actor britânico que graças aos seus genes é também um galã do grande ecrã. Quem quiser admirar os seus talentos pode fazê-lo a partir de hoje já que estreia entre nós Louca por compras, uma comédia sobre o consumismo. É filme que não irei ver, mas irei certamente ver o jovem Dancy no próximo filme onde ele interpreta Edgar Allan Poe.
Mas trouxe este actor, filho do filósofo inglês Jonathan Dancy, pelo que ele disse esta semana numa entrevista:

" Sempre houve muitos livros na minha casa, e sempre li muito. Antes de ler, já pedia para me lerem. Os livros abrem um novo mundo imaginário, mesmo que seja uma biografia ou um livro de história. É o que eu gosto de fazer! "

Uma doce notícia

Os ovos moles de Aveiro foram incluídos esta semana na lista de produtos agrícolas e alimentares com a denominação de Indicação Geográfica Protegida no âmbito da União Europeia. E são o primeiro produto português de padaria e confeitaria ao qual foi concedida essa protecção.

Para a nossa Ana, que ainda há pouco tempo aqui falou deles.

O Benfica em ópera



- fotografia de Ricardo Coelho.


António Manuel Ribeiro, vocalista, compositor e líder dos UHF, e um dos pais do rock português, está a escrever uma ópera rock sobre a história do Benfica. Confesso que fiquei surpreendido.

O regresso da poligamia...

Declarações de Ramzan Kadirov, Presidente da Tchetchénia, há dias:

" As nossas tradições e a nossa religião admitem a poligamia, e estou convencido de que necessitamos da poligamia. Não existe uma lei a esse respeito, mas digo a toda a gente: quem quer e possa fazê-lo, que tome uma segunda esposa. Até porque na nossa república existem mais mulheres do que homens e se uma jovem ou divorciada leva uma vida desregrada pode ser morta por um irmão ou por um familiar, que matará também o seu amante. Mais vale ser uma segunda esposa do que ser assassinada. "

Se calhar mais vale emigrar...

Coisas do Direito - 10 : A idade do crime


Por já várias vezes se tem discutido entre nós a eventual redução da idade da responsabilização penal dos actuais 16 para os 14 anos. Um tema recorrente, dada a multiplicação de verdadeiros gangues de adolescentes nas grandes áreas metropolitanas e a crescente violência praticada por gente cada vez mais nova.
Aliás, por toda a Europa se vem discutindo esta possibilidade, sendo que em já vários países da União Europeia a responsabilidade penal começa aos 14 anos.
Não me surpreendeu portanto o reavivar da discussão entre nós, mas fiquei surpreendido com quem a veio agora sugerir- a JSD, ela própria uma organização de juventude.

A flor deste dia

Esta é a rosa damascena ou rosa de Damasco, porque originária da Síria e comum no Médio Oriente há milhares de anos. Se Ele cheirou rosas, foi certamente o aroma desta que sentiu.

Quinta-Feira Santa

- Cristo lavando os pés dos seus discípulos, Tintoretto, 1547.

Não é o único, mas o lava-pés é o rito que mais associo a este primeiro dia do Tríduo pascal. Um gesto de humildade que é uma lição de humanidade. Humildade de que todos precisamos, simbolicamente exteriorizada um dia por ano. E tal como Cristo lavou os pés aos seus 12 discípulos antes da Última Ceia, também durante séculos imperadores e reis europeus o fizeram.Tal como o Papa. Aliás, ainda recentemente vi um quadro onde o já muito velho Francisco José, penúltimo imperador austro-húngaro, lavava os pés a doze seus súbditos católicos. Desconheço quantos monarcas ainda o fazem, mas é um gesto que vai ser praticado hoje por todas as igrejas da Cristandade.

Para Vivenciar Nadas, Ondjaki!

Parece estranho por conter erros (ponderados?) mas a simplicidade africana faz algumas coisas bonitas. Ondjaki nasceu em Luanda em 1977
Quem não gosta de borboletas?

http://jornale.com.br/angel/wp-content/uploads/2008/05/borboletas.jpg

Para Vivenciar Nadas

para e com chiara, bea, valérie

borboleta é um ser irrequieto.
para vestes usa pólen
tem um cheiro colorido
e babas de amizade.
desloca por ventos
e facilmente aterriza em sonhos.
borboleta tem correspondencia directa
com a palavra alma.
para existir usa liberdades.
desconhece o som da tristeza
embora saiba afogá-la.
usa com afinidades
o palco da natureza.
nega maquilhagens isentas
de materiais cósmicos. como digo:
pó-de-lua, lápis solar
castanho-raiz, cinzento-nuvem.
borboleta dispõe de intimidades
com arco íris
a ponto de cócegas mútuas.
para beijar amigos e vidas usa olhos.
borboleta é um ser
de misteriosos nadas.

Ondjaki, Há Prendisagens com o Xão ( o segredo húmido da lesma & outras descoisas), Lisboa: Caminho, 2002, p. 38-39

Basta uma flor


Basta uma flor,
basta uma asa
para saber que a primavera
entrou em nossa casa.
Albano Martins
In: Vocação do silêncio. Lisboa: IN-CM, 1999, p. 169

Biblioteca Digital Mundial

No próximo dia 21 de Abril, será apresentada, em Paris, pelo Director-Geral da UNESCO, Koïchiro Matsuura, e pelo Director da Biblioteca do Congresso, James H. Billington, a Biblioteca Digital Mundial.
Este projecto foi desenvolvido por uma equipa da Biblioteca do Congresso, numa parceria de mais 32 instituições, entre as quais a Biblioteca de Alexandria, diversas bibliotecas nacionais e instituições culturais e educacionais de países como o Brasil, Egipto, China, França, Iraque, Israel, Japão, Mali, México, Marrocos, Holanda, Qatar, Federação Russa, Arábia Saudita, Sérvia, Eslováquia, África do Sul, Suécia, Uganda, Reino Unido e Estados Unidos da América.
A plataforma, que disponibilizará o acesso gratuito a manuscritos, mapas, livros raros, filmes, fotografias e gravações, estará disponível em árabe, chinês, inglês, francês, português, russo e espanhol.
Para informação mais detalhada, consulte o portal da UNESCO, em

Castelos de Portugal 2 – Estremoz: à procura da Rainha Santa

Esta visita pelos castelos tem como objectivo mostrar aquilo que mais me impressionou.
Seguindo pela Estrada Nacional 4, avista-se erguido, sobre uma colina, a norte da serra de Ossa, o castelo de Estremoz e a torre de menagem, de mármore branco (27 metros de altura) que se distingue do resto das muralhas e das torres que a circundam.
As pedreiras, recurso económico da região, já eram exploradas no tempo dos romanos. Estremoz foi conquistada aos muçulmanos na mesma altura que Évora e, apesar de ter conhecido avanços e recuos na Reconquista, acabou por receber foral de D. Afonso III em 1258.
D. Dinis ergueu o Paço Real, junto ao castelo. No Paço, faleceu a Rainha Santa Isabel a 4 de Julho de 1336, sendo o seu corpo mais tarde trasladado para o Convento de Santa Clara-a-Velha de Coimbra. Estremoz era um dos paços favoritos da rainha D. Isabel onde é conhecida pela Rainha da Paz por causa de ter resolvido os conflitos entre o rei D. Dinis e o filho, D. Afonso IV, e entre o seu filho e o rei Afonso XI de Castela.
A Capela da Rainha Santa situada a poente da torre de menagem, no piso alto do torreão norte ocidental é uma pequena jóia barroca. Escolhi três painéis que decoram a capela para recordar a rainha.
Milagre da Aparição da Virgem de André Gonçalves (?), 1730

Óleo sobre tela 2,20x1,40 m. Este episódio hagiográfico tem origem numa biografia do século XIV, narrativa da morte.

As rainhas servem as freiras de Santa Clara, de André Gonçalves ?, década de 1730

Óleo sobre tela 2,20x1,40 m .

A rainha D. Isabel com a coroa a servir à mesa as freiras do convento com a sua nora D. Brites (Beatriz) no dia da inauguração do refeitório do Mosteiro de Santa Clara. Interessante é o pormenor da coroa de D. Isabel.

A morte da Rainha Santa de autoria desconhecida, data do 2º quartel do século XVIII Retábulo da câmara da Rainha (altar-mor)

Óleo sobre cobre, 64x46cm.

O tema é a aparição da Virgem à Rainha Santa na véspera da sua morte.

Esta fortificação desempenhou um papel importante em diferentes momentos da nossa História durante: a crise política de 1383-1385; a crise dinástica de 1580; as guerras de Restauração da independência e a Guerra Peninsular.

M. Lourdes Cidraes Vieira, Os Painéis da Rainha: Colibri/Câmara Municipal de Estremoz, 2005. p. 64; 66; 70

Luís Buñuel no Instituto Cervantes



Terça-feira, dia 14, 18:30h Instituto Cervantes

Cinema

Início do ciclo Uma de Cada
Projecção de "Viridiana", de Luis Buñuel

Academia Nacional de Belas Artes distingue Maria Keil


Maria Keil foi distinguida aos 94 anos pela Academia Nacional de Belas Artes com o Grande Prémio Aquisição/2009. Segundo comunicado da ANBA, a pintora, autora dos azulejos que decoramrias estações do Metropolitano lisboeta, «tem atingido a maior repercussão nacional e internacional», destacando-se «nas mais diferentes áreas da criação artística e da intervenção cultural e cívica».
Hei-de voltar a esta artista. Para já, deixo um endereço electrónico:

Homenagem a Brel!

No seguimento da homenagem de MR.
Hoje gostava de colocar aqui esta música mas, neste momento, não estou em casa e este PC não tem o youtube activado. Assim presto a minha homenagem a Jacques Brel.


Brel interventivo.
"La philosophgie de la Fondation Jacque Brel pourrait se résumer par ces lignes de BREL":

"Un homme, c'est fait pour bouger,
c'est pas fait pour s'arrêter,
c'est fait pour continuer,
pour mourir en mouvement éventuellement,
mais ce n'est pas fait...
Tout le malheur vient de l' imobilité.
Toujours."