sábado, 24 de outubro de 2009
Duas obras em diálogo!
Hora de Inverno
Narciso, Gentileza
Tem o Narciso tanta gentileza,
Que na fonte o rendeu sua beleza,
E hoje, porque o conte,
Há Narciso do espelho, e não da fonte,
Homem, que sem conselho,
Como dama te alinhas ao espelho,
O cristal à mulher, a ti o aço,
Abraça o que te é próprio,
Que ser homem e flor está impróprio,
Se és belo, procede de tal arte,
Que quem te vê Narciso, te olhe Marte!
Soror Maria do Céu in João Gaspar Simões, História da Poesia Portuguesa, Das Origens aos Nossos Dias Acompanhada de uma Antologia, Empresa Nacional de Publicidade, 1955, Vol. I p.464.
La Traviata
O chá em troca de um filme no palácio Vale Flor!
Cinenovidades - 64 : Morrer como um homem
Citações - 44 : José Carlos de Vasconcelos
As redes sociais - 4
Cinenovidades - 64 : O Cônsul de Bordéus
Criação de Eva!
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxGénesis, capítulo 2, 15-17.
PARAÍSO : 8 - No Paraíso
Tinha sido o telemóvel dela, já que o dele tinha sido partido em pedaços ainda durante a viagem ou não fosse Pedro um fã de filmes de acção, a permitir que sossegassem, na medida do possível dadas as circunstâncias, os pais de ambos, sempre ligando anonimamente. Telefonemas que tinham tido o mérito de evitar que os pais de Carina apresentassem uma queixa por sequestro como tinham pensado fazer logo após o desaparecimento da filha, e por outro lado dado a saber a Pedro que tinha sido procurado no bairro " por uns fulanos mal encarados que andaram a rondar aqui o prédio durante três dias, até que o teu pai disse que ia chamar a polícia ".
Disseram às respectivas famílias que estavam em Espanha, procurando emprego e obedecendo ao desejo de viverem juntos.
A relativa tranquilidade em que viviam devia-se também às certezas de Carina: a sua família só usava a casa no Verão, e tinha a certeza que os pais não se lembravam que tinha sido ela a ficar com a chave da Tia Luísa depois de esta falecer no lar da Misericórdia de Albufeira.
A pedido de Pedro, ela falara também, embora nessa ocasião a partir de uma cabine telefónica por recomendação dele, com a mãe do malogrado Quim dizendo a esta que era a namorada dele e que estavam em Espanha para fugir às más companhias. Embora Carina se tivesse oposto, Pedro achara preferível esta mentira piedosa que também lhe era favorável: se a D.Ermelinda soubesse da morte de Quim iria de certeza à Judiciária que não demoraria muito a começar a procurar os amigos do falecido, com Pedro logo à cabeça.
Morte que, apesar dos comprimidos comprados por Carina, ainda continuava a fazer com que Pedro acordasse algumas noites encharcado em suor depois de relembrar em sonho os acontecimentos vividos na Ericeira.
O momento mais alto de cada dia era quando o sol começava a desaparecer no horizonte e eles iam passear nas praias desertas do Outono algarvio como qualquer vulgar par de namorados. Caminhavam na areia de mãos dadas como se nenhuma preocupação os afligisse, embora soubessem que não poderiam ficar muito mais tempo em Albufeira.
Ainda tinham bastante dinheiro, até porque não havia muito onde gastá-lo, mas o problema era outro: No "Paraíso" a água e a electricidade eram pagas por transferência bancária, pelo que não demoraria muito, provavelmente no final do mês, até que os pais de Carina estranhassem o inusitado aumento das respectivas quantias e se pusessem a caminho do Algarve.
Pedro tentara convencê-la muitas vezes a regressar a Lisboa, argumentando com a carreira de enfermagem, com os pais e com os irmãos, esbarrando sempre na recusa dela que lhe retorquia que iria com ele fosse para onde fosse.
Era raro o dia que não acabasse com o estudo do mapa de Espanha que estava estendido no móvel que ocultava a máquina de costura da avó de Carina. Tinham já ponderado Sevilha, Marbella e outras localidades mais obscuras, todas com os respectivos prós e contras. Acabavam sempre adiando a decisão para o dia seguinte.
- Antalya e Lisboa, Outubro de 2009.
Greguerías - 5
Ramón Gómez de la Serna
In: Greguerías / trad. Jorge Silva Melo. Lisboa: Assírio & Alvim, 1998
Parabéns ONU!
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Santa Maria Madalena
* Pedro Dias, Vicente Gil e Manuel Vicente, pintores de Coimbra Manuelina, Coimbra: Câmara Municipal de Coimbra, 2003, p. 40
Um músico, um pensamento 1.
Guimarães: fogo no centro histórico
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Estátua de Maria da Fonte, no Largo do Toural
«O incêndio no centro histórico de Guimarães, Património da Humanidade, está circunscrito, tendo destruído duas habitações e obrigado à evacuação de um infantário, disse à Lusa, no local, fonte dos bombeiros. [...]
«Há ainda muito fumo por toda a cidade, mas, como chove torrencialmente, este foi um incêndio praticamente sem chamas, ouvindo-se pequenas explosões com frequência.
«O fogo começou cerca das 12h20, na Rua de Camões, no Largo do Toural, e alastrou-se a vários edifícios.
«As causas do incêndio não são ainda conhecidas.» (Sapo Notícias)
Novos sucessos (e record) de Ms. Barbra Streisand
O querido Brad
Até o fim do namoro com Rui, depois de este aguentar durante seis meses uma concorrência impossível, não tinha produzido qualquer efeito.
Tal como vinha fazendo nos últimos anos, Fernanda começava e acabava o dia correspondendo-se com o seu querido Brad. Todos lhe diziam que não era a estrela quem lhe respondia mas sim um qualquer funcionário do respectivo manager, mas Fernanda recusava-se a acreditar - " E a assinatura na fotografia que ele me mandou também não é dele? ". Fotografia autografada pela conhecida estrela de cinema que Fernanda tinha mandado emoldurar e que beijava diariamente pelo menos duas vezes- ao acordar e ao deitar.
Além do correio electrónico diário, Fernanda enviava de quando em vez umas "encomendas" ao conhecido actor de Hollywood: entre queijadas de Sintra e pastéis de Tentúgal, seguiam também cd's de Amália e uns versos do Fernando Pessoa em inglês. Também os risos mal disfarçados das meninas dos Correios não incomodavam Fernanda - "Umas invejosas" era como as retratava perante Carolina, a sua colega no emprego, melhor amiga e também fã do querido Brad, embora Carolina limitasse a sua adoração por Brad a ter o quarto onde dormia forrado de posteres do dito e a enviar-lhe ocasionalmente uns mails.
Era no emprego, um call-center de uma conhecida marca de telemóveis, que Fernanda mais sentia a "inveja" dos comuns mortais. Raro o dia em que não lhe dissessem perante um cliente mais demorado a explicitar a reclamação- " É o Brad ao telefone? Cuidado com a Angelina", o que provocava uma gargalhada geral aos demais operadores e até um sorriso discreto ao supervisor.
Os serões de Fernanda eram relativamente iguais uns aos outros: assistir no seu televisor gigante que ainda estava a pagar à filmografia de Brad Pitt, à excepção do filme Seven que via só de vez em quando porque lhe perturbava o sono.Tinha todos os dvd, incluindo as versões especiais e de aniversário, sobretudo por causa de alguns extras: as preciosas entrevistas concedidas pelo actor sobre o filme em causa. Domingo era também dia de Brad, pois que era o dia reservado por Fernanda para pôr em ordem a colecção: uma meia dúzia de pesados dossiês cheios de fotografias e artigos de revistas e jornais sobre o actor. Tudo muito bem recortado e catalogado, sendo que as peças que iam amarelecendo com o tempo eram substituídas por fotocópias.
Foi precisamente com um artigo de jornal que a rotina de Fernanda se alterou: o seu amado ídolo viria a Portugal para integrar o júri de um festival, o Estoril Film Festival em Novembro, e traria a família para conhecer o país. Com cerca de um mês para se preparar, Fernanda sabia que tinha de agir depressa. Para surpresa de todos, aderiu a um ginásio cumprindo penosamente três vezes por semana as rotinas dos instrutores, iniciou uma dieta e surpreendou o Jójó do "Salão Ideal" ao pedir-lhe um penteado novo com extensões e madeixas.
O seu inglês não era perfeito, especialmente em conversação, mas era tudo uma questão de tempo e Brad compreenderia.
Um sábado de manhã, aproveitando uma ida à Baixa, Fernanda comprou óleo numa espingardaria do Rossio junto à estação com o mesmo nome e essa tarde foi passada a olear cuidadosamente a velha pistola que o pai tinha trazido da tropa e de que ela se tinha apropriado durante uma visita a casa da mãe.
Tudo tinha de estar pronto para o dia 5 de Novembro: Fernanda já sabia qual era o hotel, os horários e o itinerário do casal Brangelina.
Fernanda também sabia que de início não seria fácil para Brad e para as crianças, embora ele já soubesse que ela adorava crianças conforme constava de vários mails, mas sobretudo Fernanda acreditava no preceito tantas vezes enunciado pela sua mãe: "O tempo resolve tudo."
Era inevitável, Angelina tinha mesmo de morrer.
Pequenos monstros do nosso tempo - 1
Numa de Revivalismo... Tango Funebre!
Contrato
CONTRATO
Se estiveres contente, dou-te uma maçã;
se tiveres medo, torço a tua mão;
e se me deixares, quero apertar-te,
sem te fazer mal, contra o coração.
Se eu estiver contente, dás-me uma maçã?
se eu estiver com medo, torce a minha mão.
E se tuquiseres, podes apertar-me,
sem me fazer mal, contra o coração.
Isto é um contrato, só com dois se faz:
venho oferecer-to com desesperada
calma, sendo incerto que estes nossos jogos
possam dos amantes expulsar demónios.
Gastão Cruz, in A alma não é Pequena, Vila Nova Famalicão: Centro Atlântico, p. 93
Boa noite!
Há uns longos meses ouvi este pianista na rádio. Encomendei então um cd que, inesperadamente, chegou há três dias.
Ao piano 12.
Greguerías - 4
Da exposição que se encontra patente na Biblioteca Nacional.
In: Greguerías / trad. Jorge Silva Melo. Lisboa: Assírio & Alvim, 1998
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
La ci darem la mano - Don Giovanni
Pégaso!
Quotidianos - 22
Gustave Caillebotte - Rue de Paris et temps de pluie
Óleo sobre tela, 1986-1877
Chicago, Art Institute of Chicago
Este quadro representa um dia de chuva na confluência das ruas de Turim e de Moscovo.
O Pontilhismo na arte comercial
1966 : The Supremes
A fita azul
Ainda 2012
1811 : Franz Liszt
PARAÍSO : 7 - Madrugada
Enquanto o Dread e o Zé cortavam um bocado da velha e carcomida alcatifa, agora empapada de sangue, para nela embrulharem o Quim, Amílcar explicara: " Este porco andava a roubar-me há meio ano, ele e o sacana do Vladimir tinham um esquema com dois gajos do Rafael. O cabrão do moldavo já está a servir de isco para os peixinhos, que é o mesmo que vai acontecer aqui ao nosso amigo Quim. Mas não te preocupes, sei que não estavas feito com eles e vou dar-te uma prova de confiança. "
A confiança de Amílcar passava pela recuperação do dinheiro de Quim. Não tendo este sequer conta bancária, o dinheiro tinha de estar guardado nalgum lado, muito provavelmente em casa da mãe com quem nunca deixara de viver.
Era esta a missão de Pedro: ir a Santa Filomena procurar o dinheiro que havia dado a morte a Quim.
Apesar da velocidade e da estrada deserta, o percurso entre a Ericeira e o bairro tinha parecido interminável, tal como a espera discreta junto à Torre C até que fossem cinco da manhã e a D.Ermelinda saísse de casa para apanhar o primeiro autocarro do dia rumo ao escritório de advogados onde fazia limpezas. Pedro viu-a finalmente sair do prédio, alheada do destino do seu único filho que estaria a esta hora a ser sepultado no Tejo com a ajuda de um saco de tijolos ou qualquer outra coisa pesada.
O palpite de Amílcar revelou-se acertado: entre o que tinha encontrado debaixo da cama, dentro de um falso livro na pequena estante e numa caixa de sapatos no roupeiro, Pedro contou 4800 euros que guardou num bolso interior da sua mochila.
Saiu rapidamente de S.Filomena, não queria ser visto nesta que era uma das horas de ponta do bairro em que as portas de vários prédios iam deixando sair mulheres a caminho de limpezas e homens a caminho de obras, ao mesmo tempo que a fauna nocturna regressava para o descanso.
Pedro não seguiu no entanto para a Ericeira, onde era esperado, mas sim em direcção ao Amadora-Sintra reiterando para si próprio o que havia decidido ao sair de casa de Amílcar: custasse o que custasse, não voltaria à mesma vida que tinha levado nos últimos meses.
Tinha de deixar Lisboa o mais rapidamente possível, mas não queria fazê-lo sem ao menos falar com Carina a quem tinha pedido que não saísse do hospital até que ele chegasse.
Ela esperava-o no local combinado, fora do recinto hospitalar, e foi ela que decidiu segui-lo, apesar das tíbias recusas de Pedro. Foi ela também quem decidiu usar a caixa multibanco do hospital para tirarem da sua conta o máximo possível, e foi ainda ela quem sugeriu a troca de carros: o Smart de Pedro ficaria perto do hospital e levariam o Clio dela.
Finalmente, foi Carina quem decidiu o local onde se iriam acolher.
Às sete e meia da manhã, Pedro e Carina atravessaram a Ponte 25 de Abril.
( cont. )
A Fenix Renascida!
BND, Fénix Renascida, fl 4
Gugliemo Marconi
Gugliemo Marconi com 22 anos de idade
Graças, em parte, aos estudos de Marconi podemos ter hoje o domínio das comunicações.
Greguerías - 3
Ramón Gómez de la Serna
In: Greguerías / trad. Jorge Silva Melo. Lisboa: Assírio & Alvim, 1998
Um quadro, um perfil, um detalhe!
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
La Pluie,
Duet made for the Geneva Ballet (Switzertland) 2005. Choreography: Annabelle Lopez Ochoa. Dancers: Celine Cassone, Gregory Batardon. Music: J.S. Bach
21 de Outubro de 1924 : Celia Cruz
Karl Zéro
Blogues - 7 : Letra pequena
Novidades - 76 : Saramago ao ataque
Tenho acompanhado a polémica que até já atravessou as nossas fronteiras, desde logo no Parlamento Europeu pela mão dos euro-deputados portugueses Edite Estrela e Mário David.
Flores 5 - Bonsai
«Eu fui um grande homem antes de escrever folhetins! Deus perdoe a quem me torceu a vocação!»
In: Cenas contemporâneas
Folhetim
http://purl.pt/13187/2/e-5015-p/e-5015-p_item2/e-5015-p_JPG/e-5015-p_JPG_24-C-R0072/e-5015-p_0001_1_p24-C-R0072.jpg
Júlio César Machado (1835-1890), um dos grandes folhetinistas portugueses.
Um dos últimos casos, que me recordo, de um folhetim, em Portugal, foi a publicação em O Jornal de E se tivesse a bondade de me dizer porquê?, de Clara Pinto Correia e Mário de Carvalho.
Ernesto Rodrigues dedicou ao assunto um estudo: Mágico folhetim (Lisboa: Ed. Notícias, 1998).