sábado, 7 de janeiro de 2012
Um nenúfar para Inês
«Em que pensar, agora, senão em ti? Tu, que me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a manhã da minha noite.»
Nuno Júdice, Pedro, lembrando Inês
Um nenúfar da Quinta das Lágrimas para recordar a trágica morte de D. Inês de Castro a 7 de Janeiro de 1355.
Quase na hora de...
... do jantar, e um comentário de APS propiciou ir buscar à estante a fantástica Fisiologia do Gosto:
(...) Enfim, surgiram os restaurantes, instituição completamente nova sobre a qual não se meditou o suficiente, e cujo efeito é tal que todo o homem com algum dinheiro pode, de maneira imediata, infalível e bastando-lhe apenas desejar, ter todos os prazeres que o gosto é capaz de oferecer.
- Brillat-Savarin, in Fisiologia do Gosto, Via Occidentalis, 2007, p.266.
Adivinharam, vou jantar fora :).
(...) Enfim, surgiram os restaurantes, instituição completamente nova sobre a qual não se meditou o suficiente, e cujo efeito é tal que todo o homem com algum dinheiro pode, de maneira imediata, infalível e bastando-lhe apenas desejar, ter todos os prazeres que o gosto é capaz de oferecer.
- Brillat-Savarin, in Fisiologia do Gosto, Via Occidentalis, 2007, p.266.
Adivinharam, vou jantar fora :).
PENSAMENTO(S) - 218
(...) Depois de uma entrada eufórica no século XXI, nenhuma Cassandra de serviço imaginaria que chegaríamos a um período em que a palavra crise se transformava numa obsessão, insidiosa. Quase todas as referências estão postas em causa. A crise tornou-se uma espécie de tsunami social, civilizacional. É o centro do sistema, tudo ao mesmo tempo. Pode incendiar-se. É fácil.
- Eduardo Lourenço, na Visão, p.31.
- Eduardo Lourenço, na Visão, p.31.
Não comerei da alface a verde pétala...
Édouard Vuillard (1868-1940) - Nature morte à la salade, 1887-1888
Paris, musée d’Orsay
Não comerei da alface a verde pétala
Nem da cenoura as hóstias desbotadas Deixarei as pastagens às manadas
E a quem mais aprouver fazer dieta.
Cajus hei de chupar, mangas-espadas
Talvez pouco elegantes para um poeta
Mas pêras e maçãs, deixo-as ao esteta
Que acredita no cromo das saladas.
Não nasci ruminante como os bois
Nem como os coelhos, roedor; nasci
Omnívoro; dêem-me feijão com arroz
E um bife, e um queijo forte, e parati
E eu morrerei, feliz, do coração
De ter vivido sem comer em vão.
Vinicius de Morais
Para Miss Tolstoi que referiu este quadro em exposição na Gulbenkian.
Quase na hora de...
O grande Jacques Pepin ensina a fazer os dois principais tipos de omeletes. E vai ser precisamente a minha escolha para o almoço de hoje.
Mais um museu virtual
Trata-se do da Casa Valentino, mostrando cinco décadas de criações do estilista italiano Valentino Garavani. Visitar aqui : http://www.valentino-garavani-archives.org/
A arte do retrato - 40
É o mais recente retrato de Sua Majestade Britânica, e marca os 85 anos de Isabel II e os 90 anos da Legião Britânica ( daí as papoilas, e as 11h no relógio de pulso da rainha ). O autor é Darren Baker, um jovem pintor britânico adepto do hiper-realismo.
Mini-livros - 2
Luxembourg: Euroeditor, 1995. (Les ducats; 25)
É uma edição bilingue (português e italiano) de alguns poemas de Sophia.
O livro tem 11 cm de altura.
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
Um quadro por dia - 223
Nicolas de Staël, Nu couché, 1954,146x96cm, col.part.
Esta tela foi vendida há precisamente um mês, num leilão em Paris, passando para as mãos de um coleccionador norte-americano pelo montante recorde de 7 milhões de euros, sendo pois a obra de arte mais cara vendida em França no ano agora findo.
E tem uma história trágica: é um dos raros nús do pintor, e retrata o amor da sua vida, Jeanne Mathieu, que acabou por o levar à morte. Foi devido a ter sido rejeitado por esta filha do seu senhorio provençal que Nicolas de Stael se suicidou em 1955.
Agendas - 1
Sempre gostei de Agendas, mesmo quando não as usava. Desde há uns anos, tive de arranjar uma - a memória já não é o que era. :(
Este ano, tenho a da IN-CM, dedicada a José Leite de Vasconcelos e organizada por Luís Raposo, a partir da Fotobiografia por ele organizada para o Museu Nacional de Arqueologia, em 2008.
A única coisa que faz falta - e muita - nesta agenda é o calendário de 2012, colocado no início do volume, que seria bem acompanhado pelos de 2011 e 2013. PVP: €17,50.
A única coisa que faz falta - e muita - nesta agenda é o calendário de 2012, colocado no início do volume, que seria bem acompanhado pelos de 2011 e 2013. PVP: €17,50.
Entretanto fui ver qual o tema da Agenda da BnF, uma das minhas preferidas que, este ano, é dedicada às Ilhas. Ilustrada com mapas e plantas da colecção da BnF, faz um apelo à viagem através de mundos que seduzem o nosso imaginário.
Em Dia de Reis...
... e complementando a nossa bela vinheta, aqui fica o Pórtico dos Reis Magos, de 1999, monumental escultura erigida na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, Brasil.
Elisa Lispector (1911-1989)
Elisa Lispector, nascida Leia Lispector, morreu há 23 anos. Irmã de Clarice Lispector, esta romancista e contista brasileira, «Explorou com especial delicadeza e perspicácia os meandros das profundidades da alma humana, acompanhando a par e passo o movimento interior das personagens, num fluxo narrativo que mostra nuances de humor, emoções e reflexões. Paralelamente, cultivou dados referentes ao seu próprio passado e ao de sua família, com seus rituais, hábitos alimentares, ocupações profissionais, dificuldades de adaptação, empenhos profissionais – matéria que hoje constitui um capítulo importante da história da cultura judaica no Brasil.» (Nádia Gotlib que prepara um livro sobre as irmãs Lispector, Retratos antigos, a ser publicado este mês no Brasil)
No exílio é um dos livros de Elisa Lispector:
3.ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2005
«No exílio, publicado pela primeira vez em 1948, conta a trajetória de Lizza e sua família. Na fuga, sob a condição judaica posta a serviço da inconfiável tutela do risco, ela junta-se a seu povo e passa por uma Europa ameaçada por fantasmas reais - a primeira e a segunda guerra mundial. Chegando bem mais tarde ao Brasil, a Maceió, e instalando-se em Recife (como se deu com a família de Elisa, na realidade), o humanismo necessário deixa seu recado numa ficção de primeira linha, que, embora trabalhe com fatos passados, não é datada. O indivíduo - seja qual for sua trajetória, íntima ou coroada de ação - é, afinal, a garantia de que o mundo continua a ter sentido.» (BookHouse)
Emérico Nunes (1888-1968)
O grande ilustrador Emmerico Nunes nasceu em 6 de janeiro, em Lisboa. A galeria João Esteves de Oliveira dedicou uma exposição aos seus desenhos, intitulada Vida Elegante, no ano passado, na qual se encontrava exposto o desenho
Emmerico Nunes ilustrou alguns livros para crianças, tais como:
Lisboa: Emp. Nac. de Publicidade, 1935
Lisboa: Sá da Costa, 1940. (Os grandes livros da humanidade)
Fez ilustrações para capas de numerosas revistas, de que deixo este exemplo:
quinta-feira, 5 de janeiro de 2012
Mini Feira Popular
Há dias, fui a pé pela 24 de Julho e, atrás do IADE (no início da Av. D. Carlos I), deparou-se-me um mini Feira Popular. No local onde esteve prevista a edificação de um projecto de Norman Foster. Não tinha ninguém.
Ao final da tarde... - 24 : John Denver
Preparando esta Noite de Reis, aqui fica um belo vídeo acompanhando da intepretação fantástica de The Little Drummer Boy por John Denver.
«Umas deliciosas sandes de merda» (Voltaire dixit?)
A propósito da frase «bom tradutor quando se empenhava nisso» de APS referindo-se a Luís Pacheco (http://arpose.blogspot.com/2012/01/memoria-64-luiz-pacheco.html), no aniversário da sua morte.
O prato com cebolas
Van Gogh - Natureza-morta com prato de cebolas
Óleo sobre tela, 1889
Otterlo, Kroller Müller Museum
Não me lembrava de algum dia ter visto este quadro de Van Gogh. Está em exposição na Gulbenkian até domingo.
Then Again
quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
Petiscaria Ideal
A Petiscaria Ideal pertence à Taberna Ideal que se encontra três ou quatro portas à frente e que abriu em 2008 no sítio de uma antiga taberna. Pertencem a Susana Felicidade e Tânia Pereira.
É um espaço despretensioso, com um atendimento eficiente e simpático e onde se comem petiscos. Utilizam panos da louça na vez de guardanapos, o que achei engraçado. Os pratos são para partilhar. De entrada comemos umas azeitonas (muito bem temperadas) e um paté de enchidos com queijo (pas mal). Éramos três e pedimos quatro pratos, por aconselhamento da empregada: polvo à moda da Arrifana com batata-doce, xarém de ameijoas, bolinhos de sapateira e choquinhos à algarvia. Estava tudo delicioso.
Não comemos sobremesa. Nem vi a lista, mas parece que há uma mousse de chocolate com um cálice de medronho e gratinado de pera.
Eu tinha vontade de experimentar a sangria de espumante de maçã verde, mas como as restantes comensais preferiram vinho, optámos por um Castelo de Alba branco. Se nem toda a gente estiver de acordo, há vinho a copo. Pagámos €18,00.
Não fazem reservas. Quando telefonámos, responderam: «Está sempre cheio, de modo que não fazemos reservas; é por ordem de chegada.» Opção: fomos cedo e arranjámos lugar.
A meio do jantar, entrou um grupo da Casa do Minho a cantar-nos as Janeiras.
A meio do jantar, entrou um grupo da Casa do Minho a cantar-nos as Janeiras.
R. da Esperança, 100-102
Lisboa
Terça a sábado: 19h30-00h30
A nossa vinheta
Francisco Relógio (1926-1997) - Os três Reis Magos, 1979
De cima para baixo: Baltasar, Belchior e Gaspar. O primeiro vai ser a nossa vinheta, nos próximos dias.
Até quando?
Numa entrevista às estações de televisão públicas alemãs, o Presidente da República Alemã, Christian Wulff, acaba de admitir erros na condução do assunto delicado, relacionado com empréstimos particulares que contraíra há três anos, quando detinha o cargo de Primeiro Ministro do Estado da Baixa Saxónia. Contudo, rejeita a hipótese de demissão, argumentando que tem gosto em exercer a Presidência e quer assumir a responsabilidade desta função que lhe foi conferida por cinco anos.
Durante o mês de Dezembro, Wulff fora criticado por ter obtido empréstimos a título particular, junto de empresários influentes alemães, e, em vários inquéritos, ter negado tal ocorrência. A situação tornou-se mais desconfortável na semana passada, quando a comunicação social alemã adiantou que Wulff ameaçou a direcção do jornal Bild com represálias, caso esta avançasse com mais informações. Na entrevista de hoje, o Presidente lamenta ter tomado esta atitude.
O apoio político, incluindo o da Chanceler, é cada vez mais escasso. Até quando aguentará Wullf com a pressão pública?
Durante o mês de Dezembro, Wulff fora criticado por ter obtido empréstimos a título particular, junto de empresários influentes alemães, e, em vários inquéritos, ter negado tal ocorrência. A situação tornou-se mais desconfortável na semana passada, quando a comunicação social alemã adiantou que Wulff ameaçou a direcção do jornal Bild com represálias, caso esta avançasse com mais informações. Na entrevista de hoje, o Presidente lamenta ter tomado esta atitude.
O apoio político, incluindo o da Chanceler, é cada vez mais escasso. Até quando aguentará Wullf com a pressão pública?
Um livro que mexe connosco!
António Alçada Baptista num recorte do DN de 2 de Fevereiro de 1986 (artigo de João Gaspar Simões). Um recorte que vinha com o livro Os Nós e os Laços. Comprei-o na Livraria Barateira, é uma 1ª edição e custou 6,50 €
«- Está interessadíssimo num livro e não há dúvida que apresenta aquela ideia com uma certa lógica. Diz que a partir da história daquela santa [Egipcíaca] vai tentar fazer uma grande reflexão sobre a sexualidade e o amor. Ele não reparou que esse foi um dos problemas dos católicos incomodados que fomos e que isso é que ele quer explicar... » p. 41
«... com o tempo, a Teresa tinha chegado à conclusão de que o Duarte era um homem da ética enquanto o Gonçalo era um homem da estética mas acontecia que, por ambas as razões, acabavam por ter comportamento semelhantes.» p. 40
António Alçada Baptista, Os Nós e os Laços, Lisboa: Editorial Presença, 1985.
Não compreendo como alguém conseguiu desfazer-se deste livro pois é apaixonante, está muito bem escrito e tem substância!
Cinenovidades - 206 : Sherlock Holmes 2
Estreia amanhã este filme nas nossas salas, e espero que esteja ao nível do primeiro.
Lá fora - 126 : Danser sa vie
Uma exposição histórica sobre as relações entre a dança e as artes visuais a partir de 1900 e ao longo de todo o séc.XX, através de 400 obras ( telas, instalações, vídeos, esculturas ). E uma mostra sem preconceitos: de Josephine Baker a John Travolta, de Nolde a Fabre.
São 2.000 metros quadrados de exposição no Centre Pompidou, Paris, até 2 de Abril.
São 2.000 metros quadrados de exposição no Centre Pompidou, Paris, até 2 de Abril.
Leituras no Metro - 78
5.ª ed. S. Pedro do Estoril: Saída de Emergência, 2011
É o primeiro romance de Luís Miguel Rocha (1976-) e também o primeiro que leio dele. Lê-se muitíssimo bem, prende a atenção, o que é essencial num policial. Mas tem alguns barroquismos, como «suco alcoólico» (p. 108) para não repetir vodka, ou exibição para se referir a uma exposição: «[...] condescendeu, dizendo que estava ainda a trabalhar numa exibição temporária no Museu Britânico» (p. 111-112). Isto até parece uma reles tradução do inglês. Mas, no geral, o livro está bem escrito.
A história tem início com a morte (assassinato?) do Papa João Paulo I, em 1978, mas desenrola-se quase 30 anos mais tarde, em 2006.
Parece que o livro vai ser adaptado ao cinema.
Humor pela manhã... - 81
Não é que seja o único empresário a fazê-lo, mas a decisão de Soares dos Santos de transferir para a Holanda as participações sociais na Jerónimo Martins, evitando a tributação portuguesa, foi mais um balde de água fria nestes dias conturbados. Há muita gente que quer boicotar os Pingo Doce, mas serão sempre poucos, mas não tenho dúvidas que a marca fica afectada.
Leonor Praça (1936-1971)
Quando apareceu, trouxe uma lufada de ar fresco com as suas ilustrações: o tipo de desenho e, principalmente, as cores. Morreu muito jovem.
Texto de Manuel Ferreira (4.ª ed. Lisboa: Plátano, 1980)
Isabel da Nóbrega - Rama, o elefante azul. Lisboa: O Século, 1970. (Col. Pim-pam-pum; 2)
Para Isabel da Nóbrega, Leonor Praça ilustou também A cigarra e as formigas (Lisboa: Movimento, 1971)
Lisboa: O Século, 1969
Um dia, não muito breve, farei um post sobre as ilustrações para Maria Flor, de Alves Redol. De Leonor Praça e não só.
As comemorações do centenário de Redol ainda agoar se iniciaram.
Ilustração de Tucha e Bicó.
Texto de António Torrado [Lisboa: O Século, 1970. (Col. Pim-pam-pum; 3)]
Duas ilustrações de O veado florido.
terça-feira, 3 de janeiro de 2012
Tratado novo & curioso do café, do chá e do chocolate
O Tratado do café explica-nos onde e como é produzido o café, como foi descoberta a bebida e como chegou à Europa, suas qualidades e efeitos. O capítulo XII trata «Da utilidade do café para as doenças de cabeça & se ele mantém as pessoas acordadas». Conta que uma dama de Paris, que sofria de enxaquecas, depois de ter experimentado tudo o que a Medicina lhe aconselhara, resolveu tomar café por indicação de uma pessoa das suas relações, que se tinha dado bem com ele, em situação semelhante: «Ela serviu-se dele, & serviu-se com tanta felicidade que a sua saúde ficou inteiramente restaurada em poucos dias, acabando os seus sofrimentos com a sua doença. Este efeito tão pronto, tão favorável & tão inesperado persuadiu-a de que havia alguma qualidade miraculosa ligada a este remédio: & isso tanto mais que desde que o usava, reconhecia sensivelmente que o seu espírito agia com mais liberdade, mais alegria & mais força que anteriormente [...].» (p. 67)
O Tratado do chá segue um pouco o mesmo plano, sendo que os capítulos II e III tratam, respectivamente, «Das qualidade do chá para impedir o sono» e «Da virtude do chá para a cura das dores de cabeça». O capítulo V ocupa-se «Da virtude do chá para as doenças de estômago, para a gota, areias, cólica, doenças do baço, reumatismos, & outras doenças» bem como do uso «do chá com leite».
Quanto ao Tratado do chocolate, examina os ingredientes que o compõem e as razões que levaram ao seu uso primeiro em Espanha e, mais tarde, em Inglaterra, França e Itália.
«O Chocolate é uma espécie de pasta sólida composta de diferentes ingredientes dos quais o principal é o Cacau, que destemperada com um licor faz uma beberagem mui agradável ao gosto & mui útil à saúde. Eis a enumeração & a dose das drogas que se empregam nesta composição segundo as opiniões de Bartholomeu Marradon.
«Setecentos Cacaus.
«Libra & meia de Açúcar.
«Duas onças de canela.
«Catorze grãos de Pimenta do México, chamado Chile ou Pimiento.
«Meia onça de cravo da Índia.
«Três vagens de Baunilha, ou em seu lugar duas onças de Anis.
«O miolo de uma noz de Achiote.» (p. 111-112)
Livro muito interessante, esta separata da Revista do Café Português, n.º 25. Teve uma tiragem de 500, feita em papel vergé, todos fora do mercado e numerados.