terça-feira, 31 de dezembro de 2013
Pensamento ( s )
É assim que penso, é assim que tento sempre encarar a passagem do tempo. Oportunidades para tentar corrigir erros, descobrir novos caminhos, ultrapassar dificuldades pessoais e colectivas. Um Bom 2014 para todos!
A arte do retrato
E foi já este mês, no passado dia 5, que se atingiu um outro recorde : o quadro antigo mais caro do ano. Trata-se deste Retrato de François-Henri d' Harcourt, executado em 1769 por Fragonard. Esteve na posse dos descendentes do retratado, governador da Normandia e preceptor de Luís XVI, até 1971 quando foi comprado pelo grande coleccionador Dr.Rau. Foi vendido na Bonham's de Londres a favor da UNICEF pelo equivalente a 20,3 milhões de euros.
O livro mais caro do mundo
Na verdade, o livro impresso mais caro do mundo. Falo do exemplar do Livro de Salmos da Baía do Massachussets, o primeiro livro impresso no que viriam a ser os EUA no ano de 1640, vendido no passado dia 26 de Novembro na Sotheby's de Nova Iorque pelo equivalente a 10,3 milhões de euros.
Só existem 11 exemplares, e o vendedor, a velha igreja Old South de Boston, ainda tem outro na sua posse.
O novo proprietário, o empresário e filantropo David Rubenstein, já se comprometeu a deixar circular o livro por várias bibliotecas dos States.
Mini-livros - 23
Este livrinho-alfinete de peito, em metal, com 38 mm de altura (só livrinho) e com fotos do Estádio Nacional, passou a ser desde o Natal a jóia dos meus (poucos) livros miniatura. Deve ter sido feito por ocasião da inauguração do Estádio Nacional.
O laço está preso ao livro e tem um alfinete por detrás. E o livro encerra com um fecho que está impecável.
«No último dia do ano»...
Lisboa: Edel, 2010
«No último dia do ano, as crianças iam a todas as casas, para cantar canções de Natal e desejar a todos sorte e felicidade; e, mais importante ainda, para recolher frutas e uns poucos centavos para comprar bolachas, figos - e tâmaras, uns frutos estranhos que vinham de África e tinham um sabor muito doce.
«Sempre que José comia tâmaras, pensava no grande, ainda que insensato, D. Sebastião, que desaparecera em Marrocos para não mais voltar. Quase que conseguia ver a sua espada
brilhante a deixar um trilho de sangue por entre as nuvens de muçulmanos cruéis…
«As crianças reuniam-se em grupos, escolhendo as suas ruas,
da maneira que conseguissem. José, Álvaro, Francisco e Miguel escolhiam
escolhiam a zona à volta da praça, a Igreja de Nossa Senhora e a escola.
«Ali viviam homens abastados que tinham voltado da América. Havia
duas desvantagens nesta escolha: tinham de visitar o professor e o Padre
Corvelo. Ambos seriam muito críticos em relação à sua maneira de cantar, e
seriam chamados a entrar para receber uma imagenzinha de um santo, ou, pior
ainda, um lápis. Além do mais, não sabiam se o Padre Corvelo não podia decidir
comer uma das melhores maçãs que tivessem recolhido.
«As crianças cantavam pelas seis da tarde. Miguel trazia um
saco para os presentes; os outros iam atrás.» (p. 111)
Alfred Lewis nasceu na ilha das Flores com o nome de Alfredo Luís. Emigrou para os Estados Unidos da América em 1922. O livro (autobiográfico) conta a vida de um miúdo pobre, José de Castro, na aldeia de Beira (Açores) até emigrar para a América aos dezanove anos, onde se tornou escritor. Nunca voltou aos Açores.
O livro foi publicado, pela primeira vez, pela Random House, em 1951. Só 60 anos depois foi traduzido para português, com um posfácio de Patricia Highsmith e com o patrocínio da FLAD.
Feliz Ano Novo!
A todos um
Feliz Ano Novo com muito
Palangana Ratinho, Museu Nacional Machado de Castro
(legado de José Alberto Reis Pereira)
e
Seguindo as duas ideias acima:
segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
A Suécia já não é o que era
Juno, um nu pintado pelo artista barroco G. E. Schröder, estava pendurado há 30 anos no restaurante dos deputados suecos. Foi retirado para não ofender as feministas e os muçulmanos.
Suzanne Eberstein, uma social-democrata, vice-presidente do parlamento sueco, afirmou que era confrangedor estar a comer num local com aquele quadro de seios nus e com estrangeiros a olharem para ela.
Está tudo tarado!
Leiam mais em:
http://www.thecommentator.com/article/4481/swedish_parliament_removes_baroque_artist_s_bare_breasted_painting_for_offending_feminists_and_muslims
Resolução para 2014
A minha última decisão de 2013 : eis a minha cama, despida de roupa mas carregada da parte desarrumada do " acervo " de 2013. Livros, revistas, recortes, postais, souvenirs de viagens - tudo por arrumar. Não voltará a cama a ser usada até que tudo esteja em seu sítio. Pelo sim pelo não há outras camas cá em casa , mas fica aqui o compromisso público :). Ficarei feliz se tudo estiver catalogado e arrumado até ao fim da semana...
Citações
(...) O Presidente da República não pode, mais uma vez , considerar legítimo um Governo que não cumpre - nem nunca cumpriu - a Constituição. Desta vez tem que o demitir. E criar um Governo de Salvação Nacional (...)
- Mário Soares, na VISÃO.
Pertenço ao número de portugueses que foi perdendo o respeito, político claro está, pelo Dr.Soares. As sucessivas e cada vez mais absurdas catilinárias contra este Governo levaram-me a tal. Não que este Governo não mereça ser criticado ( onde está a propalada reforma do Estado???, porquê a hesitação em cortar certas " mamas " de certos grupos económicos em relação ao Estado ??? ), mas o excesso, o exagero do Dr.Soares nas suas críticas, e sobretudo nas soluções, têm em mim um efeito contrário.
Demitir o Governo a seis meses do fim da tutela da Troika??? Um Governo de Salvação Nacional??? Chefiado por quem? Com que legitimidade, a conferida pela nomeação feita pelo Prof.Cavaco?
Em democracia, e salvo casos muito excepcionais ( catástrofes, emergências ) os governos resultam da escolha feita em urnas, ainda que mediada formalmente em Portugal pelo Presidente. E o Dr.Soares tem a obrigação de o saber.
Pensamento ( s )
Sentir tudo de todas as maneiras; saber pensar com as emoções e sentir com o pensamento.
- Fernando Pessoa, in Livro do Dessassosego
Novembro
Lisboa: A Esfera dos Livros, 2012
Henrique de Vasconcelos é um banqueiro viúvo, ex-combatente da Guerra de Espanha ao lado de Franco, ex-secretário de Estado de um governo de Salazar. Seu filho, Eduardo, finalista de Direito, milita numa organização fascista que reúne nas Avenidas Novas, num Bunker; interrompe o curso para ir para Angola defender o 'Império'...
Este romance (634 p.) de Jaime Nogueira Pinto acompanha a vida desta família (alargada) e dos amigos e correlegionários desde o verão de 1973 até novembro de 1975, que neste período vivem entre Lisboa, Luanda e Madrid.
O Verão Quente visto do lado da maioria silenciosa e dos bombistas. Um bom romance.
Lá fora - 190
Uma exposição que gostava de ver, ou não se tratasse de um dos meus escultores preferidos. O diálogo entre 45 esculturas, 17 desenhos e uma tela de Rodin com 12 grandes modelos da Antiguidade demonstrados em 89 obras da antiguidade grega, romana e etrusca ( vasos, estatuetas, estátuas ), escolhidas de entre as 6000 peças acumuladas pelo grande escultor.
Entre 1893 e 1917, Rodin comprou e comprou nos antiquários parisienses tudo o que podia encontrar, sobretudo fragmentos, procurando formas e posturas que o pudessem inspirar, e esta exposição mostra como esses fragmentos de escultura antiga deram origem às novas formas de Rodin.
Musée Rodin, até 26 de Fevereiro. Mais info : www.musee-rodin.fr/
Novidades
O ano não acaba sem entrar na prestigiada Bibliothèque de la Pléiade este monumento do saber antigo, considerada por muitos como a primeira enciclopédia, que é a História Natural de Plínio O Velho. Trinta e sete livros que são verdadeiros tratados de cosmologia, gemologia, zoologia, farmacologia, botânica, etnografia, e que foram consultados durante largos séculos no mundo ocidental.
Histoire naturelle, Plínio O Velho, traduzido do latim por Stéphane Schmitt, Gallimard, 2176 p, € 75.
Sobre um olhar de Pilar del Rio sobre a figura do ano
Pilar del Rio, num artigo na Revista Visão, n.º 1086, de 26 de Dezembro de 2013, sobre o Papa Francisco, deixa uma pergunta: "poderá Francisco vencer a ortodoxia reacionária da hierarquia do Vaticano?" (p.3)
E escreve depois:
"Que pode fazer o Papa?
O Papa Francisco trouxe ar fresco à vida pública. As suas declarações abriram perspetivas mas, como dizia um porta-voz do Vaticano, deitando água em certas fervuras, «no fundo, se virem bem ele repete a doutrina tradicional da Igreja noutro tom e com outras palavras». O que pode fazer um Papa numa Instituição tão regulamentada? Pode porpor que as mulheres sejam consideradas, de facto e de direito, iguais aos homens ou vai prosseguir o discurso do elogio retórico e das referências marianas, numa tentativa inútil de justificar a exclusão histórica? Pode propor uma norma que acabe com a estultícia do celibato dos padres? Pode propor a mesma categoria salvífica para o amor heterossexual e homossexual? Isto só para colocar apenas três questões óbvias?" (p.61-62)
Esquece, contudo, Pilar del Rio que a Igreja e o Papa não têm (nem podem, ou devem, ter) uma ortodoxia contrária ... nem tão pouco será talvez correto dizer que o Vaticano tem uma ortodoxia reacionária! [Isto já implica um juízo de valor para quem está de fora, para quem não acredita] Teria, se o Vaticano fosse a Sociedade das Nações, se fosse a religião universal. Mas o Vaticano é a sede de uma das religiões que não obriga hoje, repito hoje 2013, ninguém ou quase ninguém a seguir a sua doutrina. Felizmente as Igrejas já se encontram separadas do Estado nas civilizações mais cultas e progressivas. E o Catolicismo nem sequer é a maior religião do Mundo... continuamos sempre a ter uma visão Europocentrista.
Temos é de lutar para que não haja um retrocesso, que o livro dos juramentos não seja (como em Espanha, por exemplo) um livro religioso. Que nenhuma religião seja obrigatória em nenhum estado. Depois deixemos que cada uma das religiões tenha os seus dogmas e os seus preceitos. Quando uma religião for uma Sociedade das Nações então quererá impor a sua verdade a todos. Uma religião, como sistema filosófico que rege quem nela acredita, tem de ter liberdade para ter os seus princípios e os seus preceitos. Só a aceita quem tiver fé.
Peço desculpa por entrar em comentários próprios à fé de cada um. Mas não posso impor o meu pensamento aos outros (nem o que eu penso sobre a sua forma de pensar) quando o fizer estou a permitir que os outros também pensem que eu sou reacionário por ter uma fé diferente da deles.
Para mim a pergunta seria: conseguirá o Papa como chefe da Igreja fazer com que todos compreendam o seu pensamento e o seu humanismo? Julgo que a humanidade ganharia mais se todos os que têm fé acreditassem (e aceitassem) nas palavras do seu chefe.
domingo, 29 de dezembro de 2013
Hoje as mulheres...
José Malhoa,
Museu Municipal de Coimbra/Edifício Chiado
Hoje as mulheres são diferentes
Vieram de outro planeta
nos raios do sol
E esconderam-se por dentro das flores
No gozo depravado do pólen.
José Gomes Ferreira
http://abmp3.com/mp3/jos%E2%88%9A%C2%A9-gomes-ferreira.html
"José Gomes Ferreira", um presente de Natal que me encantou. :))
A arte do retrato
François Gérard ( 1770-1837 ), Portrait de Charles-Maurice de Talleyrand, 1808, óleo sobre tela.
" Il était noble comme Machiavel, prêtre comme Gondi, défroqué comme Fouché, spirituel comme Voltaire et boiteux comme le diable. On pourrait dire que tout en lui boitait comme lui, la noblesse, qu'il avait faite servante de la république, la prêtrise, qu'il avait traînée au Champ-de-Mars, puis jetée au ruisseau, le mariage, qu'il avait rompu par vingt scandales et par une séparation volontaire, l' esprit, qu'il déshonorait par la bassesse. Cet homme avait pourtant sa grandeur. "
- Victor Hugo , in Choses vues
Ainda sobre o retratado, que conseguiu a "proeza " de ser Ministro dos Negócios Estrangeiros do Directório, de Napoleão e de Luís XVIII, tudo sucessivamente como é bom de ver, ouçamos uma das suas amigas, Madame de Staël, também vítima da sua ingratidão :
" j' avais eu pour lui la plus sincère amitié. Depuis dix ans, il avait passé sa vie dans ma maison. Je l'avais fait revenir d'Amérique, j'avais engagé Barras à le sauver de ses créanciers en le nommant ministre (...) Depuis cette époque, je n'ai pas revu M.de Talleyrand "
- in Dix années d' exil
E ainda outro contemporâneo, que também não poupou nas palavras :
" Paresseux et sans étude, nature frivole et coeur dissipé, le prince de Bénévent se glorifiait de ce qui devait humilier son orgueil, de rester debout après la chute des empires. Les esprits du premier ordre qui produisent les révolutions disparaissent; les esprits du second ordre qui en profitent demeurent (...) "
- Chateaubriand, in Mémoires d' outre-tombe
Admirável o contraste entre a serenidade que emana deste retrato e a personalidade do retratado, um homem que serviu e depois traiu todos os regimes.
Biografias e afins
Não é Malraux quem quer, e os três anos de Frédéric Mitterrand como Ministro da Cultura na era Sarkozy não foram do agrado de muitos, nem à direita nem à esquerda. Mas ainda assim estou com vontade de ler estas 700 páginas de " diário ministerial " publicadas pela Robert Laffont.
Pensamento ( s )
Ideias e peso
É preciso materializar as ideias. Colocar comprimento, largura e volume numa ideia. Se dizemos que o mundo nos pesa, avancemos de imediato para um peso concreto, por exemplo: 40 quilos.
Agir ao mesmo tempo que se carrega às costas um peso de quarenta quilos. Eis o que é o mundo ser pesado. Nada de abstrato. Pelo contrário: é o exacto contrário do abstrato. É o peso.
Avancemos com um lema. Toda a ideia terá peso concreto ou nada terá. Só o peso concreto dá peso espiritual; só o peso concreto dá peso potencial. Quanto pesa a tua ideia?
- Gonçalo M.Tavares, na Visão.
Humor pela manhã
Em complemento à de ontem :). Mas comam só as pessoas saborosas, as amargas ponham na beira do prato :)
Mais um Nureyev para a coleção
Verso e reverso de uma moeda francesa em prata, da autoria de Christian Lacroix, assinalando os 20 anos da morte de Nureyev. Mais um presente de Natal. :)
sábado, 28 de dezembro de 2013
"Representações no Feminino"
"Representações no Feminino" (Colecção Telo de Morais) é uma exposição que está patente na Galeria de Exposições Temporárias do Museu Municipal de Coimbra/Edifício Chiado. Reúne um elenco importante de pintores portugueses do início do século XX.
Uma das minhas escolhas recaiu na tela de
António Tomás da Conceição Silva, Santa Maria Madalena 1917(?)
Que 2014 seja o ano por excelência da MULHER. (Desculpem-me os prosimetronistas masculinos)
Livros sobre bailado - 6
Paris: Albin Michel, 2013
Um dos presentes de Natal foi este livro, espécie de catálogo da exposição que vi há tempos na Ópera Garnier, em Paris.
Três séculos de história do bailado da Ópera de Paris, contada pelos maiores especialistas e profusamente ilustrada. Do «Luís XIV e o ballet de corte» a Rudolf Nureyev e das pontas e do tutu aos «Décors do século XX». Por aqui passaram os maiores coreógrafos do mundo, de Perrot a Cherkaoui, de Lifar a Roland Petit e Maurice Béjart, Balanchine e Jerome Robbins; os maiores compositores, de Rameau a Messiaen; os maiores artistas, de Chagall a De Chirico, de Cocteau a Christian Lacroix, passando por Picasso e Claude Lévêque; e, claro, os maiores bailarinos: Taglioni, Carlotta Zambelli, Yvette Chauviré, Carolyn Carlson, etc. E também os dois espaços de dança, as duas óperas: Garnier e Bastilha.
sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
Acasos felizes- MNMC
Após a azáfama do Natal, o silêncio, da casa vazia, faz sentir que a magia acabou. Perante a maleita, há que tomar analgésicos. O remédio prescrito foi uma visita renovada ao Museu Nacional de Machado de Castro, à sala da pintura.
Ao chegar ao museu vi que havia uma exposição temporária de "louça ratinha" pratos de faiança de baixo custo, produzida em larga escala em meados do século XIX, para alimentar os "ratinhos", beirões que migravam sazonalmente para o Alentejo.
Na entrada do museu espera-nos um Menino Jesus, século XVIII, da escola de Machado de Castro
A exposição "Pratos Ratinhos" é constituída pelo legado de José Alberto Reis Pereira da colecção de seu pai Júlio Maria dos Reis Pereira, (pintor Júlio/ poeta Saúl Dias)
Prato de faiança de Coimbra, 1830-1860 Prato de faiança de Coimbra 1750-1800
Acasos felizes, na procura da cura encontrei a pessoa de um dos livros que recebi este Natal:
Júlio- Saúl Dias, o universo da invenção.
Levava comigo o livro para folhear durante uma pausa para café no Loggia.
Nos canteiros
riem as flores
e tu passas, entre elas,
também a rir.
Em volta, tudo ri,
e eu sinto-me possuído desse riso.
Cerro os olhos.
Receio que me cegue a luz do Paraíso.
(Riso, p. 197)
Maria João Fernandes, Júlio- Saúl Dias, o universo da invenção. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1984, p. 112
Para terminar a visita aqui fica um detalhe da Senhora da Rosa,
pintura portuguesa do século XV
Boa tarde!:)
Pensamento ( s )
(...) No calor o nosso corpo afasta-se de nós, afasta-se do centro. Está para ali à minha frente ou ao meu lado. No frio, pelo contrário, o corpo torna-se aquilo que eu quero proteger e aquilo que me protege. Por isso é que nos apertamos muito no inverno, no exterior. Temos de fazer duas ações opostas ao mesmo tempo. Proteger e ser protegido. No inverno, o corpo ocupa menos espaço.
De facto, é impossível exigir reflexão a um povo que viva debaixo do sol e do calor permanentes. Acima de trinta graus de temperatura, filosofar é perder a vida e o exterior. Abaixo de oito graus, não pensar é não ter cabeça.
É assim mesmo, como se fosse uma fórmula meio química meio existencial : o homem só pensa em determinados assuntos e com certa profundidade quando avança pela cidade com temperaturas abaixo de oito, sete, seis graus.
Cada cidadão, enrolado no seu casaco, caminha com o rosto de quem reflete longamente sobre o essencial. Em Lisboa, em dezembro, pensa-se mais - isso é evidente.
- Gonçalo M.Tavares, na VISÃO desta semana.
Atlas dos lugares malditos
Paris: Arthaud, 2013
Não vi este livro, mas deve ter algum interesse. Olivier Le Carrer guia-nosa pelos lugares mais terríficos do mundo, em 60 mapas, desde o Triângulo das Bermudas à floresta dos suicidados de Aokaigahara, no Japão.
Doçuras do Natal
O Stollen - ótimo, lavra de HMJ - e uns 'rebuçados' de figo e amêndoa - que saíram das mãos de outra amiga, MMC.
A Sopa dourada.
Albino Aroso (1923-2013)
Faleceu ontem um homem que muito fez, em Portugal, em prol do Planeamento Familiar e da Saúde Materno-Infantil.
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
Fiel companhia
Direi mesmo imprescindível companhia nos últimos dois dias. Um Natal chuvoso e ventoso como não se via há algum tempo, pareceu-me. E a região de Lisboa nem foi das mais afectadas. Triste pensar em tantas famílias sem electricidade na Consoada. E a 26 uma manhã soalheira, pelo menos em Lisboa.
Bom dia !
Do álbum póstumo, justamente chamado Post Mortem, de Guillaume Depardieu. Um artista completo, desaparecido demasiado cedo.
Dançar a vida - 3
«O casal de bailarinos Anna Marie Holmes e David Holmes já pertencia à companhia [London Festival Ballet]. Não importava qual o teatro ou país, de cada vez que dançavam o pas de deux 'Águas da Primavera' o teatro vinha abaixo com aplausos estrondosos que se prolongavam interminavelmente. De efeito acrobático e algo circense, esse pas de deux era o emblema do par. São Carlos [em 1964] não foi exceção.»
Jorge Salavisa - Dançar a vida. Alfragide: Dom Quixote, 2012, p. 127
quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
A Natividade na arte veneziana
Lorenzo Lotto (1480 – ca.
1556), um dos principais representantes da arte veneziana do início do século
XVI, pintou exclusivamente motivos de arte
sacra e retratos. As suas primeiras obras testemunham uma forte influência de
Giovanni Bellini, seus quadros de períodos mais tardios contêm uma espiritualidade
alicerçada na religiosidade profunda que Lotto viveu durante a sua vida.
Exerceu em várias cidades
italianas, e foram poucas as estadas de longa duração na Serenissima, dominada
sobretudo por Tiziano. Durante uma permanência mais prolongada em Veneza a
partir de 1526, Lotto concluiu a Natividade ou A Adoração dos Pastores, da qual
vemos este pormenor na primeira imagem: o Menino Jesus, deitado na manjedoura, agita os bracinhos
para acariciar um cordeiro.
Nada se sabe sobre quem requisitou
esta obra. Com muita probabilidade, trata-se de uma encomenda particular para
um palácio, em vez de uma encomenda destinada para uma igreja ou outro local
público. Com muita segurança, os mecenas encontram-se retratados nos rostos dos pastores.
A todos, um Santo Natal.
Natività, Lorenzo Lotto, Pinacoteca Tosio Martinengo di Brescia