sábado, 8 de fevereiro de 2014
A Rapariga que roubava livros
Um filme bonito no qual os livros e a escrita têm importância. O maravilhamento perante a biblioteca tocou-me especialmente, porque há poucos anos senti o mesmo, só houve uma diferença: assustou-me. Um filme realizado por Brian Percival com Sophie Nélisse, Geoffrey Rush e Emily Watson.
Convite para lanchar
Paris, place Edmond Rostand, 2.
Esta casa foi fundada em 1682, não sei em que local.
Estranho que muitas lojas e ruas de Paris ainda se encontravam enfeitadas do período de Natal em finais de janeiro.
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
Na eira dos pardais
Vale do Mondego
Na eira dos pardais
Esperou sentada
Junto à janela que se abria
Em duas portadas.
Olhava para além da linha
Do horizonte
E desenhava no limbo do coração
O voo dos pardais
Que não tardariam em chegar.
Era o seu único voo, afinal.
Levava-a à terra onde nascera,
Onde deixara o vigor de ser,
Regressando com lágrimas
Rastejando no rosto
E mágoas sufocando o coração.
Os pardais regressaram
Em bando desamarrado,
Solto, livre...
E ela suspirou uma e outra vez,
Esgueirando um sorriso supremo.
Deixou-nos levar.
Maria José Carvalho Areal, Na Eira dos Pardais, contos. Lisboa: Chiado Editora, 2013
Agradeço à Cláudia, da Livraria Lumière que me enviou este livro com a assinatura e dedicatória da autora.:))
Este poema veio de algum modo apaziguar a nostalgia causada por tanta chuva e dias tão cinzentos. Quem me dera que viesse o tempo dos pardais.
Boa noite!
Números
510 milhões
de euros, o valor recentemente injectado pelo Estado na Parvalorem e na Paraups, criadas pelo Governo para absorver o " lixo tóxico " do BPN.
Engraçado como os que falam dos " milhões que se faziam com os Miró " se calam bem caladinhos face a estas verbas dez vezes maiores...
Pensamento ( s )
Barnett Newman, Midnight Blue, 1970.
(...) Se perguntarmos hoje a um miúdo que cor tem o céu, o mais plausível é ouvirmos " azul ". Mas nem sempre foi assim. Mestres indiscutíveis do espírito ocidental como Aristóteles, Lucrécio ou Séneca descreviam o céu como sendo vermelho, amarelo, violeta, verde, laranja. Era desse modo que o observavam, aplicando aí o rigor analítico que lhes reconhecemos. O que só adensa o enigma. Nenhum deles menciona o que depois para nós se tornou óbvio. Isso leva o historiador das cores, Michel Pastoreau, a interrogar se os homens e mulheres da Antiguidade chegaram a ver o azul, ou se alguma vez o viram como nós o vemos. Uma coisa parece certa : as cores não são apenas fenómenos naturais, são também fruto de uma construção humana e cultural complexa. O azul que esteve diante dos olhos de Aristóteles e que ele não contemplou faz-nos pensar naquilo que está hoje patente e acessível a nosso lado, sem que nos demos conta. Pela vida fora há, por isso, uma humilde dúvida que temos de conservar : que cor tem o céu que não chegamos a ver ?
- José Tolentino Mendonça, no Expresso do passado sábado.
(...) Se perguntarmos hoje a um miúdo que cor tem o céu, o mais plausível é ouvirmos " azul ". Mas nem sempre foi assim. Mestres indiscutíveis do espírito ocidental como Aristóteles, Lucrécio ou Séneca descreviam o céu como sendo vermelho, amarelo, violeta, verde, laranja. Era desse modo que o observavam, aplicando aí o rigor analítico que lhes reconhecemos. O que só adensa o enigma. Nenhum deles menciona o que depois para nós se tornou óbvio. Isso leva o historiador das cores, Michel Pastoreau, a interrogar se os homens e mulheres da Antiguidade chegaram a ver o azul, ou se alguma vez o viram como nós o vemos. Uma coisa parece certa : as cores não são apenas fenómenos naturais, são também fruto de uma construção humana e cultural complexa. O azul que esteve diante dos olhos de Aristóteles e que ele não contemplou faz-nos pensar naquilo que está hoje patente e acessível a nosso lado, sem que nos demos conta. Pela vida fora há, por isso, uma humilde dúvida que temos de conservar : que cor tem o céu que não chegamos a ver ?
- José Tolentino Mendonça, no Expresso do passado sábado.
A moda em 1913
Três desenhos de La Gazette du Bon Ton. Da esq. para a dir.: vestido de jantar, casaco de inverno e vestido de noite, todos de Paul Poiret, desenhos de Georges Lepape; publicados nos n.º 1, 13 e 11 (1913).
Leituras no Metro - 146
A Ana já trouxe aqui este livro de Mircea Eliade. Mas como estava para o ler, desde a sua publicação em 2008, e finalmente o estou a fazer, vou publicar uns excertos dele.
El Greco - A Ressurreição, ca 1596-1600
Madrid, Museu do Prado
«(Apontamentos tomados durante as oito sessões no Museu do
Prado.)
«Não se pode compreender a Espanha da época de Dom Quixote,
senão através de El Greco. A tensão espiritual; o paradoxo; o flirt com a
loucura.»
Goya - La gallina ciega, 1788
Madrid, Museu do Prado
«[…] Goya. Agora, começo a gostar cada vez mais dos seus
trabalhos para tapeçarias, do subsolo do museu. […] Goya introduz na pintura
‘as horas vagas’ da burguesia e dos pobres (jogos, diversões), costumes,
trabalhos, acontecimentos periféricos (o casamento nos subúrbios). Goya traz
igualmente um novo mundo de figuras humanas, mesmo antes dos Caprichos. Tudo
isso tem de ser compreendido pela valorização da pessoa humana e dos trabalhos
não-aristocráticos, realizada em finais do século XVIII (enciclopedistas, e
sobretudo Diderot, esforçaram-se para homologar o trabalho manual à criação
espiritual). Goya corresponde, assim, à Enciclopédia. Não sei se algum
especialista reparou nisso.»
Gosto muito de Goya, mas parece-me que, no caso do
quotidiano, Mircea Eliade esquece os flamengos que pintaram cenas de jogos e
diversões, cenas de trabalho, bodas, etc., muito antes do pintor espanhol.
Pedro Nuñez de Villavicencio - Niños jugando a los dados, 1685
Madrid, Museu do Prado
«Tenho de salientar, no entanto, que não foi Goya a
introduzir a etnografia na pintura […]. Villavicencio (na segunda metade do
século XVII) tem um quadro esplêndido: Muchachos
jugando a los dados. É um assunto completamente ‘profano’ pertence ao ethnos, e não ao cosmos.
«Mas Goya generalizou-o e impôs essa revolução.»
Mircea Eliade – Diário
português: [1941-1945]. Lisboa: Guerra e Paz, 2008, p. 81-83
Não conhecia este Villavicencio. Murillo também tem um quadro sobre o mesmo assunto, anterior ao de Villavicencio:
Murillo - Niños jugando a los dados, ca 1675-1680
Munique. Alte Pinakothek
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
Cântico dos Cânticos
Marc Chagall, Cântico dos Cânticos II, 1957
(...)
Ele
Levanta-te! Anda daí,
ó minha bela amada!
Eis que o Inverno já passou
a chuva parou e foi-se embora;
despontam as flores na terra,
chegou o tempo das canções,
e a voz da rola
já se ouve na nossa terra;
e a figueira faz brotar os seus figos e as vinhas floridas
exalam perfume.
Levanta-te! Anda, vem daí,
ó minha bela amada!
(...)
Antigo Testamento, «Cântico dos Cânticos». Lisboa: Relógio D' Água, com ilustrações de Marc Chagall, tradução de José Tolentino Mendonça, 2013, p. 376.
Tomei conhecimento através da Isabel do blogue Palavras Daqui e Dali do livro: Antigo Testamento, com ilustrações de Marc Chagall (inclui do Pentateuco: Génesis e Êxodo e dos Livros Poéticos e Sapienciais: Cântico dos Cânticos).
A tradução do Génesis é de Herculano Alves, do Êxodo é de D. António da Rocha Couto e do Cântico dos Cânticos é de José Tolentino Mendonça.
Já conhecia as pinturas de Chagall que ilustram o livro. Congratulo-me por o ter adquirido e poder folheá-lo sempre que me apetecer.
Supercalifragilisticexpialidocious
Pamela Lyndon Travers é o pseudónimo de Helen Lyndon Goff, romancista inglesa, nascida na Austrália. Escreveu uma série de contos baseados na figura de uma nanny, Mary Poppins, primeiro das quais saiu em 1934 e o último em 1989.
As negociações para a realização do filme de Walt Disney duraram mais de 20 anos. É este o tema da película que passa agora nas nossas salas: Ao Encontro de Mr. Banks, com excelentes interpretações de Emma Thompson e Tom Hanks.
1934
Il. Mary Shepard
1952
Il. de Gertrude Elliot
1952
Il. de Gertrude Elliot
1989
Uma adaptação da história, feita a partir do filme de Walt Disney, foi a primeira publicação do livro em Portugal, em 1966. Neste ano, a Agência Portuguesa de Revistas lançou um álbum com a história do filme. Mais de 20 anos depois, o Círculo de Leitores editou - finalmente - a história escrita por P. L. Travers.
Uma adaptação.
Lisboa: Verbo, 1966
Lisboa: Círculo de Leitores, 1987
Uma das músicas da banda sonora de Ao Encontro de Mr. Banks.
Boa noite!
Um quadro por dia
Na verdade dois, assinalando a histórica ( não acontecia há 65 anos ) reunião de duas das cinco versões existentes das sete originais pintadas por Van Gogh em Agosto e Setembro de 1889 na Provença. É a exposição Sunflowers, patente na National Gallery de Londres desde 25 de Janeiro, e onde estão lado a lado os Girassóis da National Gallery e os do Museu Van Gogh de Amsterdão. Há pelo menos seis diferenças entre as duas telas, será que alguém descobre mais?
Citações
(...) O que fiz, fiz. O que escrevi, escrevi. Está feito. Asneira ou não, fui responsável e continuo a ser. Arrependimentos, não tenho. Penas, algumas. Tenho, por exemplo, uma pena estúpida de ter recusado conhecer o António Ferro, quando ele caiu e o Salazar o mandou para a Suiça. A dada altura, eu fui a Berna ver umas coisas, e o Carlos Botelho escreveu um cartão elogiadíssimo para levar. Andei com o cartão no bolso e resolvi não o ver. O Ferro era o SNI, e eu estava do outro lado. Estupidez. Teria gostado de o conhecer. Mais tarde, escrevi sobre ele e entendi-o. (...)
- Um breve excerto da notável entrevista feita pelo Expresso a José-Augusto França. Está na respectiva revista do passado sábado.
1925: Quando a Art Deco seduziu o mundo - 3
«Como os portugueses se tornam filhos dos brasileiros» - dizia um prosimetronista depois de ter entrado nesta sala.
Pois este Porto, ficamos sem saber se é Porto Alegre (referido no texto), se é o nosso Porto, porque neste 'pavilhão' havia uma referência à Casa de Serralves.
Demónios (de ontem e de hoje)
Tem o demónio por ofício andar sempre tentando os homens: ociosa ocupação na verdade! Pois que eles mesmos já hoje se tentam uns aos outros com maior actividade e energia (…)”.
Loja de Óculos Políticos : Lisboa, Na Nova Of. de João Rodrigues Neves, 1804, p. 1
Loja de Óculos Políticos : Lisboa, Na Nova Of. de João Rodrigues Neves, 1804, p. 1
terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
Humor pela manhã
Diz o recém-nomeado membro do Conselho Consultivo ( acho que se chama assim ) da Universidade da Beira Interior.
Elegâncias - 102
Hoje trago dois pares de sapatos e cintos para acompanhar as fatiotas de há dois dias.
Paris, Arcadas do Louvre, 22 jan. 2014
Leituras no Metro - 145
Lisboa: Centro de Estudos Históricos, 2013
Já há uns tempos que andava para me referir a este livro. E, aqui há dias, quando o Luís Barata fez um post sobre os nomes mais escolhidos, no ano de 2013, para rapazes e raparigas, lembrei-me que ainda não o tinha feito.E alguém, num comentário, perguntava pelas Aldegundes e quejandas.
Este ensaio de Iria Gonçalves sobre a antroponíma feminina na Idade Média portuguesa é interessantíssimo. E ficamos a saber que há nomes que sempre se deram às meninas.
Iria Gonçalves recolheu a vários fundos antroponímicos para
a elaboração do seu ensaio, sendo que «o mais antigo era formado por nomes já
usados no território anteriormente à romanização. Não foram muitos os onomatos
que se conservaram desses recuados tempos. Foram nomes como Cara, Mónia, Onega,
Sarra, Vasquida, nomes que, se por ventura alguma vez tiveram adesão
significativa por parte das populações foi em tempos bem longínquos. Mas foram
outros, também, bastante usados em alguns períodos da Idade Média, como Urraca
ou Ximena e foram alguns outros que continuam, na atualidade, a ser usados por
muitas de nós, como é o caso de Teresa ou Leonor.» (p. 43) E aqui está Leonor,
um dos preferidos em 2013.
Os conquistadores romanos «no campo da antroponímia passaram
quase despercebidos. Se no masculino ainda um nome teve alguma visibilidade e
merece ser destacado até porque vigora até hoje – Nuno – na vertente feminina
nenhum onomato logrou impor-se, ainda que por breve período. Estaça,
Justilinha, Malada, Mécia, Milícia, Mília são quase todos os que constam da
lista em análise.» (p. 43) Não sabia que Nuno tinha uma origem tão antiga.
Quanto aos nomes femininos, desenterraram-no há uns anos e existem por aí umas
Mécias. L
Há uma listagem de nomes femininos no artigo «Antroponímia
germânica» de Joseph M. Piel, citado por Iria Gonçalves, tais como Ausenda,
Aldonça, Aldora, Elvira, Ermesinda, Guiomar ou Goncinha. Estes nomes, escolhidos
pelos conquistadores germânicos, foram, segundo a autora do presente ensaio, «populares
em determinados momentos das cronologias em estudo, conseguindo, alguns deles,
sobreviver até aos nossos dias.» (p. 44)
Com a cristianização, na Baixa Idade Média os nomes que
aparecem «eram nomes perfeitamente incontornáveis, tanto na época como, vários
deles, ainda hoje. Assim – e sempre em primeiro lugar – Maria, mas depois
Catarina, Domingas, Isabel, Margarida, Beatriz, Inês, outros menores. Muitos
outros.» (p. 46) E cá está Maria sempre em primeiro lugar! Neste tempo, possivelmente sozinho; mais tarde acompanhado de outro nome - Maria João, Maria Isabel, Ana Maria, etc. - e, de há uns anos para cá, novamente sozinho.
Ainda não acabei de ler o livro, e também tenho saltado
algumas folhas (mais desinteressantes para mim), mas é de uma leitura cativante, que aconselho.
Haja alguém que faça o mesmo para os nomes masculinos.