sábado, 19 de junho de 2010

Abri uma lata...


Jean-Marc Chamard (1951-) - Mise en boîte de sardine


Jean-Marc Chamard (1951-) - La fin d'une sardine

Tive um convite para ir comer sardinhas, mas deu-me uma preguiça...

Chico

Esta é uma daquelas que não consigo ouvir sem sentir um estremecimento. O seu genial autor faz hoje 66 anos. Parabéns a Chico Buarque de Holanda.

Citações - 94


Era das pessoas que conheço que conhecia melhor Portugal. O que fez foi reinventar um outro passado, primeiro para Portugal, depois para a Península Ibérica.


Eduardo Lourenço
sobre José Saramago, no Público de hoje.

Jardins - 2


John Singer Sargent (1856-1925) - No Jardim do Luxemburgo
Óleo sobre tela, 1879
Philadelphia Museum of Art



Douanier Rousseau (1844-1910) - O monumento a Chopin no Jardim do Luxemburgo
Óleo sobre tela, 1909
S. Petersburgo, Hermitage

Une allée du Luxembourg

Elle a passé, la jeune fille
Vive et preste comme un oiseau:
A la main une fleur qui brille,
A la bouche un refrain nouveau.

C'est peut-être la seule au monde
Dont le coeur au mien répondrait,
Qui venant dans ma nuit profonde
D'un seul regard l'éclaircirait!

Mais non, ma jeunesse est finie...
Adieu, doux rayon qui m'as lui,
Parfum, jeune fille, harmonie...
Le bonheur passait, il a fui!

Gérard de Nerval (1808-1855)

De regresso à sua cidade


http://www.cm-lisboa.pt/archive/img/Terreiro_do_Pa_o_Foto_n_o_identificada_1.jpg
«Lisboa ali estava, oferecida na palma da terra, agora alta de muros e casas. A barca aproou à Ribeira, fez o mestre manobra para encostar ao cais depois de ter arriado a vela, e os remadores levantaram num só movimento os remos do lado da atracação, os do outro lado harpejaram a amparar, mais um toque no leme, um cabo lançado por cima das cabeças, foi como se se tivessem juntado as duas margens do rio.»
José Saramago
In: Memorial do convento. Lisboa: Círculo de Leitores, 1983, p.


Rua do Alecrim
«A porta do hotel, ao ser empurrada, fez ressoar um besouro eléctrico, em tempos teria havido uma sineta, derlim, derlim, mas há sempre que contar com o progresso e as suas melhorias. Havia um lanço de escada empinado, e sobre o arranque do corrimão, em baixo, uma figura de ferro fundido levantava no braço direito um globo de vidro, representando, a figura, um pajem em trajo de corte, se a expressão ganha com a repetição alguma coisa, se não é pleonástica, pois ninguém se lembra de ter visto pajem que não estivesse em trajo de corte, para isso é que são pajens [...].»
José Saramago
In: O ano da morte de Ricardo Reis. 8.ª ed. Lisboa: Caminho, 1986, p. 19


trekearth.com
«O revisor está revendo, entra pelo Arco Escuro, a conhecer a escada que o historiador protesta ser uma que naquele tempo dava acesso ao adarve da cerca, ou melhor, está esta no sítio onde se acharia a outra de origem, aos degraus da de agora não os gastaram mais do que duas ou três gerações. Raimundo Silva observa com vagar as janelas escuras, as fachadas salitrosas e encardidas, os registos de azulejos [...].»
José Saramago
In: História do cerco de Lisboa. Lisboa: Caminho, 1989, p. 71

Limitei-me e escolher citações dos três livros que prefiro, de entre os que li, de José Saramago.

Frutas - 12


Giovanna Garzoni (1600-1657) - [Miniatura]
Florença, Palácio Pitti, Galeria Palatina

Hoje é dia de figos.

A Suécia em festa - 19 de Junho



A 19 de Junho de 1976 casavam em Estocolmo Carlos XVI Gustavo, o jovem rei da Suécia, e Silvia Sommerlath, filha de pai alemão e mãe brasileira, a primeira rainha plebeia da Suécia e uma das primeiras do mundo, e foram felizes para sempre.
Hoje, precisamente 34 anos depois, casa a filha de ambos, a princesa herdeira Victoria, com Daniel Westling, que doravante será tratado como Sua Alteza Real O Príncipe Daniel, duque de Vastergotland. Uma grande diferença face aos dias em que era o personal trainer da princesa...
Em 1976, a data foi imortalizada com uma canção ( Dancing Queen ) escrita pelos Abba para a sua jovem rainha, será que em 2010 veremos semelhante iniciativa?

Tudo sobre Saramago

Não se pode dizer que o Jornal de Letras e a Visão tenham sido apanhados desprevenidos com a morte de José Saramago, pois que já está hoje nas bancas uma edição especial sobre a vida e a obra do Nobel português. Para ler e guardar.

José Saramago, por Vasco

«Para que serve o arrependimento, se isso não muda nada do que se passou? O melhor arrependimento é, simplesmente, mudar».

Estátua de Sal!

Museu Nacional de Arqueologia de Atenas, escultura
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Grécia 2008.


Haverá alguma coisa que eu possa viver nesta hora, algum sonho que não me doa a realidade?
Arrumei o quarto. Tirei os retratos da parede, o Cristo de metal todo verde, o Buda de porcelana. Relacionei, depois estas humildes tarefas com uma hipotética partida e estremeci de alegria. Fiz de conta que ia partir. Vi-me a despedir das alunas, das professoras, da directora, a atravessar as ruas de Macau: «Vou-me embora, sabem?» Falava para as pedras, para os caracteres doirados dos anúncios, para as velas negras das lorchas no cais.
Partir é bom, mas pensar em partir melhor ainda. Quanto a mim, acho que tenho sempre chegado. Partir é esperança. Chegar desencanto.

Maria Ondina Braga, Estátua de Sal, Lisboa: Editor José A. Ribero, 1983, p.72

A mesa de jantar


Henri Matisse (1869-1954) - A mesa de jantar
Óleo sobre tela, 1896-1897
Col. particular

IN MEMORIAM José Saramago

Versos de José Saramago, acompanhados por Yo-Yo Ma.

Saramago!

Junto-me a MR. A minha homenagem:

Intimidade

No coração da mina mais secreta,
No interior do fruto mais distante,
Na vibração da nota mais discreta,
No búzio mais convolto e ressoante,

Na camada mais densa da pintura,
Na veia que no corpo mais nos sonde,
Na palavra que diga mais brandura,
Na raiz que mais desce, mais esconde,

No silêncio mais fundo desta pausa,
Em que a vida se fez perenidade,
Procuro a tua mão, decifro a causa
De querer e não crer, final, intimidade.

José Saramago

Flores para Saramago


http://www.linflor.com.pt/loja/components/com_virtuemart/shop_image/product/Coroa_de_Flores__4b4772a5d393c.png

Em grande estilo...


Cartaz de Marco Fabiano

Cartaz de Linda Carter Holman

A rosa...

Ontem, num exame, enquanto folheava* um trabalho, apareceram-me alguns provérbios que não conhecia. Um deles, bem acertado, aqui fica:

Quem quer a Rosa... aguente o espinho!

Foto roubada.

*PS. primeiro pensei em tirar as folhas (escrevendo desfolhava (pertérito imperfeito do indicativo do verbo desfolhar))... deveria ficar bonito!

Um bom dia!


No claustro da igreja Santi Quattro Coronatti, Roma
A ROSA

Tenho uma rosa toda
Aberta na minha mão.
Só uma rosa. À roda
Nem folhas nem espinhos dão.

Tenho uma rosa.
Ter uma rosa
É muito. E tê-la,
Como eu a tenho já,
É vê-la
E bem saber que chão a dá.

Já sensação de rosa, e a tarde
Toda passada como flor
Ao que na rosa arde,
Ao seu tamanho e ao seu amor.

Já minha mão como se rosa
Houvesse sido a recebê-la,
E nada mais do que uma rosa
A própria vida e o revivê-la.

Ali aberta, a sua entrega
É dar-se pelo que fora
E o não saber se o perfumar
A minha vida melhora.
(A rosa que não se nega
Seja por alma do mar!)

Exactamente rosa, toda
Como são rosas que não vêm
Senão vierem para toda a boda
Que uma só vez nossa alma tem.

Vitorino Nemésio
In: Poesia. Lisboa: IN-CM, 2007, p. 202-203

Bom dia!

A começar com Paul McCartney que faz hoje 68 anos.

Elegâncias - 46




Na Fendi, Piazza Carlo Colodi, Roma.

Um retrato...

Uma equipa de cientistas da Universidade de Quioto, no Japão, publicou na revista Frontiers in Behavorial Neurosciencice um estudo sobre as sensações de prazer e alegria nos primatas referindo que são similares aos do homem.

(Notícia lida no jornal Metro, 15/06/2010)

Esta notícia fez-me lembrar um retrato que acho sui generis. Provavelmente, já na época do retrato este tipo de estudo era contemplado à luz da época.
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Alonso Sanchez Coello : Infanta Isabella Clara Eugenia, filha de Filipe II de Espanha
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quinta-feira, 17 de junho de 2010

Mais franceses: Benjamin Biolay e Jeanne Cherhal

Esta fantástica Brandt Rhapsodie, dueto entre Benjamin Biolay e Jeanne Cherhal, é do mais recente álbum de Biolay, La Superbe. Não exagero no adjectivo.

Poemas - 7


Deixa estar, não digas nada.


Deixa estar, não digas nada.
Não toques no meu destino.
Pela tarde bate um sino
que nem se lembra de nós
no seu passo de romagem.
Que vai como um rio à foz
sem querer saber da margem.


É melhor os dois podermos
seguir o nosso caminho,
o salvo som naufragado
a chamar-nos de mansinho


para junto desse lado
que temos medo de ver.
Deixa estar, não digas nada,
talvez seja bom morrer.



-
Joaquim Manuel Magalhães

Campos de papoilas



Perto de Tivoli, 8 Jun. 2010

2 em 1


Aqui está uma forma ecológica de jogar com o mau estado do pavimento das estradas. A ideia foi do designer gráfico britânico Pete Dungey. Denominado "Pothole Gardens" este movimento, já seguido por estudantes de arte na Califórnia, convida-nos a plantar mini-jardins nos buracos das estradas um gesto que ao mesmo tempo aspira a incentivar as pessoas a abandonar e regular o uso do automóvel. Pelo menos é essa a intenção daquele criativo.

Chá com formigas


É uma ideia criativa, sim senhor, mas é precisa alguma coragem para beber por estas chávenas "Bailey doesn't bark" que fazem parte da colecção "Ants on my...", que inclui almofadas, colares, cadernos.

Último Soneto - Mário de Sá-Carneiro.

No seguimento do post do Luís aqui fica o meu contributo para a leitura de Mário de Sá-Carneiro.

Paris, 2009

ULTIMO SONETO
Que rosas fugitivas fôste alli!
Requeriam-te os tapetes, e vieste...
Se me doe hoje o bem que me fizeste,
É justo, porque muito te devi.

Em que sêda de alfagos me envolvi
Quando entraste, nas tardes que apareceste!
Como fui de percal quando me déste
Tua bocca a beijar, que remordi!...

Pensei que fôsse o meu o teu cansaço,
Que seria entre nós um longo abraço
O tédio que, tão esbelta, te curava...

E fugiste... Que importa? Se deixaste
A lembrança violeta que animaste,
Onde a minha saudade a Côr se trava?...

Paris - Dezembro 1915.

Mário de Sá- Carneiro, " Últimos Poemas de Mario de Sá- Carneiro", in Athena Revista de Arte (edição facsimilada), Lisboa: Contexto Editora, s.d., p.44

Frutas - 11


Giovanna Garzoni (1600-1657) - [Miniatura]
Florença, Palácio Pitti, Galeria Palatina
Não têm tão bom aspecto com as do Fundão, mas é o que se arranja hoje.

Novidades - 133

Quem gosta de livros, normalmente gosta de bibliotecas. É o meu caso. Gosto de visitá-las, tanto públicas como particulares. E confesso, como o JAD também costuma dizer, que me incomoda ver uma casa sem livros.
Mas há casas com muitos livros, e viver com eles, gerir a sua presença, torna-se por vezes complicado...
Este livro mostra algumas bibliotecas de franceses conhecidos, gente diversa mas que partilha a mesma paixão pelos livros.

Bibliothèques, Dominique Dupuich e Roland Beaufre, Le Chêne, Abril de 2010, 192p, €30.

De Agustina - 9


Todos nós nos movemos dentro do quadro do nosso narcisismo, e é portanto difícil aceitar os outros, a não ser para os desfigurar.


- Agustina Bessa-Luís
, As sete chaves.


E às vezes o desfiguramento é literal, como aconteceu com o inspector da ASAE que no exercício das suas funções foi recentemente atacado e desfigurado num bar de alterne.
País brando, mas com margens cada vez mais inquietantes...


Sobre a foto: encontrei-a na net, postada num blogue. Um dos petizes parece mais incomodado que o outro com a actuação da "artista" e encara a câmara, enquanto que o outro parece bem mais descontraído. De pequenino se torce o pepino, ditado português que este pai/fotógrafo norte-americano apreciará certamente.

Nos 120 anos de Mário de Sá-Carneiro


Júlio Pomar - Lusitânia no Bairro Latino
(retratos de Mário de Sá-Carneiro, Santa-Rita Pintor e Amadeu de Sousa Cardoso)
Acrílico sobre tela, 1985
Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian

Torre de Babel!

Escher nasceu a 17 de Junho de 1898, em Leeuwarden, Holanda. Em sua memória fica este desenho da Torre de Babel em permanente construção.
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Maurits Cornelis Escher, Torre de Babel, 1928



As Causas

Todas as gerações e os poentes.
Os dias e nenhum foi o primeiro.
A frescura da água na garganta
De Adão. O ordenado Paraíso.
O olho decifrando a maior treva.
O amor dos lobos ao raiar da alba.
A palavra. O hexâmetro. Os espelhos.
A Torre de Babel e a soberba.
A lua que os Caldeus observaram.
As areias inúmeras do Ganges.
Chuang Tzu e a borboleta que o sonhou.
As maçãs feitas de ouro que há nas ilhas.
Os passos do errante labirinto.
O infinito linho de Penélope.
O tempo circular, o dos estóicos.
A moeda na boca de quem morre.
O peso de uma espada na balança.
Cada vã gota de água na clepsidra.
As águias e os fastos, as legiões.
Na manhã de Farsália Júlio César.
A penumbra das cruzes sobre a terra.
O xadrez e a álgebra dos Persas.
Os vestígios das longas migrações.
A conquista de reinos pela espada.
A bússola incessante. O mar aberto.
O eco do relógio na memória.
O rei que pelo gume é justiçado.
O incalculável pó que foi exércitos.
A voz do rouxinol da Dinamarca.
A escrupulosa linha do calígrafo.
O rosto do suicida visto ao espelho.
O ás do batoteiro. O ávido ouro.
As formas de uma nuvem no deserto.
Cada arabesco do caleidoscópio.
Cada remorso e também cada lágrima.
Foram precisas todas essas coisas
Para que um dia as nossas mãos se unissem.

Jorge Luis Borges, in "História da Noite", Tradução de Fernando Pinto do Amaral (retirado do citador)

BOTTICELLI



De Botticelli a dama de outra era
tão pálida tão loira a dama de oiro
a do rosto de lua e cor de cera
de Botticelli a do cabelo loiro.

A semi Afrodite a semi virgem
a chama que consome a própria chama
de Botticelli a flama e a vertigem
a de gelo e de lua: a loira dama.

O sol a cobra a espia do cabelo
dai-me de Botticelli o loiro loiro
a chama onde se inflama a lua e o gelo.

Sílaba a sílaba morrer contigo
ó dona do cabelo cor de trigo
no soneto onde está o velo de oiro.

Manuel Alegre
In: 30 anos de poesia. Lisboa: Dom Quixote, 1995, p. 670


Botticelli - O nascimento de Vénus
Têmpera sobre tela, 1483
Florença, Galleria degli Uffizi

Elegâncias - 45


Três golas e três botões. Só para avestruzes.


Duas golas e uma gravata...


Uns botões de punho e uma gravata...
Tudo à venda na Via Condotti, Roma.

Um quadro...

Atribuído a Gustave Courbet, Narciso


Ao subir para o atelier de José Malhoa, na Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, deparamos com este quadro magnífico que enche toda a parede. Não consegui saber mais dados para além do nome do pintor e do tema retratado. O catálogo que adquiri não foca este quadro, apenas contempla a pintura portuguesa.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Boa noite!


Relembrando uma noite, há três anos, em Parma.

Quase na hora dele ... - 5


Hoje é fresco, e na variante Long Island. Aqui fica a receita desta famosa "bomba", mas por favor não experimentem a esta hora. Deixem para as férias...
( A autora do cartaz é Nancy Overton )

Jardins - 1







Frescos pintados num quarto subterrâneo da Villa Livia (Livia, mulher de Augusto), na Prima Porta, mostrando um jardim ideal.
Roma, Museo Nazionale Romano
Estive para colocar este jardim nas minhas frutas, já que nele se encontam pintados limoeiros e romãzeiras , com os respectivos frutos.
Um assombro!