sábado, 25 de abril de 2009

Fazil Say

Estão a decorrer os dias da música no Centro Cultural de Belém (Lisboa) este ano sob o signo de Bach... ou melhor a herança de Bach.
O Concerto Inaugural decorreu ontem (sexta, 24 de Abril) pelas 20 h. Na primeira parte esteve apenas um solista em palco... mas que solista: o pianista turco Fazil Say.

Tocou-nos a Suite Francesa N.º 6 em Mi Maior (BWV 817) com uma mestria e uma habilidade diria única no jogo entre a mão esquerda e a mão direita. Por vezes o braço esquerdo dirigia, como um maestro, os movimentos únicos do braço (mão) direito que tocava. Ao mesmo tempo que tocava cantarolava a música que em certos momentos se conseguia ouvir (ou intuir) sobreposta ao toque do piano.
Tive orgulho em ter estado num espectáculo de Fazil Say.


Depois foi a herança de Bach. O mesmo Say tocou-nos uma fantasia em sol da sua autoria inspirada (ou quase decalcada) em Bach.

Liberdade

Pode-se enganar todo o Povo por algum tempo,
pode enganar-se algum Povo todo o tempo,
mas não se pode enganar todo Povo por todo o tempo
.

Lincoln.

Asas de Liberdade e Fraternidade

Que todos tenham asas para voar!
Viva a Liberdade!
Vamos tornar o mundo mais fraterno!

Liberdade de Filmar : Auto financiada

Gabriel Abrantes, um jovem pintor que tem ganho vários prémios (o último o da 8ª edição do Prémio EDP Novos Artistas, que visa distinguir valores emergentes da arte contemporânea) agora também é realizador. Mas um realizador especial. Auto financiado! Parabéns.

Porque somos todos uns sentimentais

Aqui fica a versão do sublime Fado Tropical que consta do filme Fados de Carlos Saura. Com o Chico e o Carlos do Carmo.

Meninos de Abril

Uma das imagens mais conhecidas da Revolução de Abril, e que simboliza para mim o triunfo de uma revolução pacífica. O menino é como se sabe Diogo Bandeira Freire, hoje director financeiro de uma empresa de distribuição e residente em Londres. Ironia das ironias, nunca votou, nem cá nem lá. Não sei a que se deve o abstencionismo militante do Diogo, mas se calhar funda-se nas mesmas razões do meu e de tantos outros "meninos de Abril" : o desencanto com a nossa classe política, o acomodamento com as liberdades com as quais já crescemos e damos por garantidas, ou a pantanosa partidocracia em que vivemos.
Mas hoje é dia de festa, pelo que deixemos para os meses que se seguem neste ano tão eleitoral estas "ressacas" de Abril.

Saudades... não têm conto

Lisboa: Avante, 2004 
€ 14,70

Cartas que António Dias Lourenço, então preso em Peniche, escreveu ao seu filho, que se encontrava doente de  leucemia, doença de que viria a morrer com 10 anos.

  
 
Um livro terno, que reproduz as cartas, histórias ilustradas que um pai escreve ao seu filho, entre 1964 e 1969. Dele retirei um trecho da carta, reproduzida em último lugar, em que Dias Lourenço explica o boneco ao filho: 

Peniche, 14-IX-1965 Meu filhito muito querido [...] E quase, quase que apostava que não conheces os bonecos de hoje do paizinho. Ora, quem havia de ser!... O nosso ursinho «Papusso», o coelhinho «Rabino», o Ti João Gadelha e mais os irmãos mais pequeninos do Rabino. Mas que paparoca estarão eles a comer? Pois é, os marotos andavam todos a comer as cenouras da horta do Ti João Gadelha e nem se lembravam que ele tinha de vendê-las no mercado para comprar sapatos e vestidos e calções para os seus meninos. - Que é lá isso, patifórios, a comerem as minhas ricas cenouras… - gritou o Ti João quando os viu no meio da horta. Os irmãos pequeninos do Rabino ficaram muito atarantados mas o Rabino alçou o rabete, alisou os bigodes e disse para o Ti João: - Ti João Gadelha, não seja mau que nós temos muita fomeca. Que havemos nós de comer, não me diz? O Ti João Gadelha não é mau lá isso não. Ficou um bocadinho calado a olhar para eles, pôs um dedo na cara pensativo e depois disse-lhes: - Bom, vou dar-vos de comer, mas cenouras não que me fazem falta. Maria! Maria! Traz duas malgas de milho para esta freguesia! E todos contentes, o «Papusso» a dar aos irmãozinhos pequenos do «Rabino», comeram umas belas pratadas de milho amarelinho. E o Ti João lá ficou a vê-los com as suas bogodaças negras arrepanhadas num sorriso. Afectuosos abraços aos Padrinhos e um xi-coração apertado e beijinhos cheios de ternura e saudades do Pai 

Salgueiro Maia


Foto de Alfredo Cunha.

Às 3h00 soube da Revolução e às 8h30 estava na rua.
Começou então, certamente, o dia mais feliz da minha vida.

NUNCA ESQUECER

Caladas são as sombras. Não o vento
que assobia no prumo das navalhas
que são feixes de raiva e sedimentos
duma fogueira intensa de acendalhas
inteiriçadas no fluir das páginas
de crónica tão presente, mas passada:
a de abutres sedentos e mordazes,
sugando nervo e osso e carne sã
e o imo da própria liberdade.

Discretas são as sombras. Não a macabra
gesta de bufos e verdugos, dos que
- ocultos na crueza dos seus muros,
no desplante impune dos seus coices,
de insânia e de tortura -
zombavam com a dor que nos sangrava.

João Rui de Sousa
In: Na Liberdade: antologia poética: 30 anos - 25 de Abril. Peso da Régua: Garça, 2004, p. 113

Feliz 25 de Abril de 2009 para todos!

Um feliz dia para todos (mesmo para quem está zangado) e que a liberdade perdure no verdadeiro sentido.

A Arte e o 25 de Abril 2. Vieira da Silva e Júlio Resende.

Vieira da Silva, 25 de Abril de 1974


Júlio Resende, 25 de Abril de 1999

«La joie n’est pas un sentiment poétique»

E. M. Cioran

Vários exemplos contrariam esta afirmação, de que os mais conhecidos são:

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo […]
(Sophia de Mello Breyner Andresen)

[…]
Era um Abril na praça Abril de massas
era um Abril na rua Abril a rodos
Abril de sol que nasce para todos.
[…]
(Manuel Alegre)

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Ainda a 24 de Abril, Natália Correia !

QUEIXA DAS ALMAS JOVENS CENSURADAS

Dão-nos um lírio e um canivete
E uma alma para ir à escola
E um letreiro que promete
Raízes, hastes e corola.

Dão-nos um mapa imaginário
Que tem a forma duma cidade
Mais um relógio e um calendário
Onde não vem a nossa idade.

Dão-nos a honra de manequim
Para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos o prémio de ser assim
Sem pecado e sem inocência.

Dão-nos um barco e um chapéu
Para tirarmos o retrato.
Dão-nos bilhetes para o céu
Levado à cena num teatro.

Penteiam-nos os crânios ermos
Com as cabeleiras dos avós
Para jamais nos parecermos
Connosco quando estamos sós.

Dão-nos um bolo que é a história
Da nossa história sem enredo
E não nos soa na memória
Outra palavra para o medo.

Temos fantasmas tão educados
Que adormecemos no seu ombro
Sonos vazios, despovoados
De personagens do assombro.

Dão-nos a capa do evangelho
E um pacote de tabaco.
Dão-nos um pente e um espelho
Para pentearmos um macaco.

Dão-nos um cravo preso à cabeça
E uma cabeça presa à cintura
Para que o corpo não pareça
A forma da alma que o procura.

Dão-nos um esquife feito de ferro
Com embutidos de diamante
Para organizar já o enterro
Do nosso corpo mais adiante.

Dão-nos um nome e um jornal,
Um avião e um violino.
Mas não nos dão o animal
Que espeta os cornos no destino.

Dão-nos marujos de papelão
Com carimbo no passaporte.
Por isso a nossa dimensão
Não é a vida. Nem é a morte.

Natália Correia In: "Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades"; 1971, Música José Mário Branco

E os outros dois candidatos

Mencionei há dias que também o Bloco de Esquerda iria apresentar um candidato a Provedor de Justiça, e assim aconteceu tendo sido escolhido o advogado Mário Brochado Coelho, advogado e antigo defensor de presos políticos antes do 25 de Abril. Dele não consegui encontrar foto, mas da candidata do PSD, Maria da Glória Garcia, professora universitária especialista em Direito Administrativo, aqui fica esta. Aguardemos o próximo capítulo da "novela Provedor".

A harpa e Maria Antonieta

A reputada harpista francesa Sandrine Chatron num instrumento de época, emprestado pelo Musée de la musique, recria a atmosfera musical do círculo íntimo de Maria Antonieta no Petit Trianon. Composições de Gluck, Dusik, Grétry e Petrini.

- Le salon de musique de Marie Antoinette, Sandrine Chatron, Ambroisie, 15,95€.

Flores que se comem - 6

Violeta ( Viola odorata )

As violetas frescas são usadas em saladas e têm um sabor doce, cristalizadas são usadas na doçaria.

Visão Censurada. 35 Anos 25 de Abril.

Hoje, quando procurava ver os títulos dos jornais deparei com um número especial da Visão e deixo aqui porque a ideia é giríssima. Ver como era efectuada a censura no Estado Novo para se dar valor à democracia e à liberdade de expressão.

Visão vem censurada

"Depois de muitos anos da sua vida a tentarem fintar os serviços de censura de Salazar e Caetano, a última coisa que passaria pela cabeça de dois dos nossos colegas de redacção era a de que um dia seriam convidados para fazerem de censores da VISÃO. Mas foi isso mesmo o que lhes aconteceu. Daniel Ricardo, jornalista profissional há 41 anos, começou a carreira em 1968, em A Capital, tendo trabalhado, durante seis anos, em regime de Censura prévia, naquele jornal e, em acumulação, sucessivamente nas revistas Flama e O Século Ilustrado. Luís Almeida Martins iniciou o seu percurso profissional no mesmo ano de 1968. Também editor da VISÃO, foi director da revista História e do semanário Se7e, director-adjunto de O Jornal e do Jornal de Letras e redactor da Flama e de A Capital, nestes dois casos antes do 25 de Abril. Um e outro viveram a experiência de ser jornalista sob as regras da Censura, primeiro com António Oliveira Salazar e depois com Marcelo Caetano. Receberam, por isso, a incumbência de submeterem a censura prévia esta edição especialíssima da VISÃO, que comemora desta forma interessante e pedagógica os 35 anos do 25 de Abril".
Pedro Camacho

Dos Almanaques - 2

Se a amizade é a páscoa de dois temperamentos
o amor não passa da confluência de dois instintos.
Abel Botelho

Abel Botelho


António Ramalho - Retrato de Abel Botelho
Óleo sobre tela, 1889
Lisboa, Museu do Chiado


Abel Botelho faleceu em 24 de Abril de 1917 em Buenos Aires, onde representava Portugal como ministro plenipotenciário.
Militar de carreira, romancista, dramaturgo, cronista e diplomata, escreveu romances de cariz naturalista, sendo o mais conhecido O Barão de Lavos (1891), primeiro da pentalogia Patologia Social, nos quais Abel Botelho pretendia criticar a sociedade portuguesa. O livro de Alda (1898), Amanhã (1901), Fatal dilema (1907) e Próspero Fortuna (1910) concluem essa série.


Capa da 1.ª ed. de O Barão de Lavos.
http://purl.pt/232/3/

Poesia Lírica de Camões.

Goa (Babilónia de Camões)
LXXXXIV
Cá nesta Babilónia adonde mana
Matéria a quanto o mal o mundo cria;
Cá onde o puro Amor não tem valia,
Que a Mãe, que manda mais , tudo profana;

Cá onde o mal se afina e o bem se dana,
E pode mais que a honra a tirania;
Cá, onde a errada e cega monarquia
Cuida que um nome vão a Deus engana;

Cá neste labirinto, onde a nobreza,
Com esforço e saber pedindo vão
Às portas da cobiça e da vileza;

Cá neste escuro caos da confusão,
Cumprindo o curso estou da Natureza.
Vê se me esquecerei de ti, Sião!

Luís Vaz de Camões, Rimas de Luís de Camões, Tomo II (Segunda Centúria) , Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1972, p. 309, Edição Fac-similada da edição de 1685, (comentada por Manuel de Faria e Sousa)

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Benavente: a terra tremeu há 100 anos


Ilustração Portuguesa, Lisboa, 10 Maio 1909

Prokofiev: Guerra e Paz


A morte de André
Príncipe André Bolkonsky: Dmitri Hvorostovsky; Natasha Rostov: Irina Mataeva; orquestra dirigida por Valery Gergiev.

Novidades - 45 : Crime em Versalhes

Numa fonte do parque de Versalhes, descobre-se o cadáver de uma jovem asiática ao qual falta um dedo. E a heroína de Goetz, a jovem Pénélope, conservadora dos tecidos do palácio, descobre o desaparecido dedo nos apartamentos privados de Maria Antonieta...
A intriga policial é enriquecida com estórias e curiosidades sobre Versalhes e até é fornecido um mapa do palácio e do parque. Um crime no Versalhes contemporâneo.

- Intrigue à Versailles, Adrien Goetz, Grasset, 410o., 18€, 2009.

Blogues - 5 : Arte Photographica



O Arte Photographica é um blogue de fotografia que visito frequentemente.Está integrado na plataforma de blogues do Público.

E pode ser visto aqui: http://artephotographica.blogspot.com/

Como vamos de leituras...

Para este Dia Mundial do Livro, a Marktest realizou um estudo para conhecer os hábitos de leitura dos portugueses. Do total de inquiridos ficamos a saber que 36,9% dos entrevistados revelaram estar a ler um livro ou tê-lo feito no último mês, em contraste com 63,1% de entrevistados que respondeu negativamente a esta questão. Quem mais lê são mulheres (40,7%), indivíduos entre 35 e 44 anos (48%), residentes na Grande Lisboa (42,8%) seguidos daqueles que vivem no Grande Porto (42%). Entre as classes sociais encontram-se mais leitores no segmento Alto e Médio (64,5%), Médio (41,9%) e Médio Baixo e Baixo (22,7%), respectivamente. Quanto à preferência por géneros literários, 34,6% dos inquiridos afirmou gostar mais de romances, tendo os livros técnicos e científicos recolhido 13,9% de adeptos seguindo-se 11% para o género policial. Ficção histórica (9,7%), aventura e acção (8,2%) e poesia (3,7%) foram também referidos. Entre os que se afirmam leitores de livros, Equador (Miguel Sousa Tavares) foi o título mais referido e recentemente lido. Depois deste os mais citados foram Bíblia, A Viagem do Elefante (José Saramago), As palavras que Nunca te Direi (Nicholas Sparks) e Maddie: A Verdade da Mentira (Gonçalo Amaral).
Instituído pela UNESCO (1996), O Dia Mundial do Livro que hoje se comemora aponta no calendário o dia 13 de Abril em honra de Cervantes e Shakespeare, que faleceram neste dia, no ano de 1616.

No Dia Mundial do Livro - 2

Para a Ana,
como já tinha o livro sobre Guimard, troquei-o por um de vitrais de William Morris.

O livro da minha vida. 7


Para mim é difícil escolher o livro da minha vida. Tenho, sim, livros e autores de que muito aprecio e, por isso, leio-os sempre com grande prazer. Na impossibilidade de escolher aquele livro opto por recordar dois livros que li recentemente e que foram os meus companheiros por várias semanas. São dois livros do mesmo autor – Carlos Ruiz Zafón, um dos romancistas europeus de maior projecção na actualidade. Escritor catalão, Ruiz Zafón iniciou o seu percurso literário em 1993, mas foi em 2001 que começou a publicar para adultos com A Sombra do Vento e, posteriormente, com O Jogo do Anjo. Obras através das quais o autor conquistou milhões de leitores em todo o Mundo e vários prémios literários, ao mesmo tempo que dava um novo fôlego à literatura popular espanhola. Eu diria que estes dois livros se complementam ao nível da narrativa e composição das personagens, na acção e no tempo, em que as suas histórias se desenrolam. Originais e com uma qualidade de escrita superior estes livros primam ainda pelo mistério e suspense que perseguem o leitor do princípio ao fim em relatos sobre os segredos do coração, a amizade e o feitiço dos livros. Estas narrativas são também duas fabulosas viagens em que descobrimos uma Barcelona do princípio do século XX (O Jogo do Anjo) e a Barcelona Modernista (A Sombra do Vento) mas melancólica, cinzenta e ferida quase de morte pela 2ª Grande Guerra e pela Guerra Civil Espanhola. O tempo passa mas na capital catalã preserva-se, oculto na cidade velha, um lugar misterioso: o Cemitério dos Livros Esquecidos, afinal, o epicentro das duas histórias. A quem ainda não teve oportunidade de os ler recomendo vivamente.

Homenagem: Carolus Clusius.

Para homenagear o livro impresso procurei algum que fosse distante no tempo porque é mais fácil de escolher. Não, não é a Bíblia dos irmãos Gutenberg como seria de esperar!
Pensei em pôr: "Colóquios dos simples e drogas he cousas medicinais da Índia(1563)" de Garcia da Orta, mas quis procurar um menos conhecido então, dentro do mesmo tema, encontrei:
"Exoticorum libri decem é um compêndio botânico e zoológico escrito por Carolus Clusius", em latim e publicado em Leiden, no ano de 1605.
O título completo da obra é: "Exoticorum libri decem, quibus animalium, plantarum, aromatum, aliorumque peregrinorum fructuum historiae describuntur".


Clusius não era somente um biólogo original mas também tinha competências a área da linguística. Tornou-se conhecido como tradutor e editor de trabalhos de terceiros. Exoticorum libri decem consiste de conteúdos de sua descoberta, de partes traduzidas e versões editadas anteriormente, devidamente referenciadas, e uma quantidade de novas ilustrações.
Neste compêndio, identificáveis em separado, podem ser encontradas as traduções em latim, com notas de Garcia de Orta, Colóquios dos simples e drogas he cousas medicinais da Índia(1563), Nicolás Monardes, Historia medicinal de las cosas que se traen de nuestras Indias Occidentales (1565-1574) e Cristóvão da Costa, Tractado de las drogas y medicinas de las Indias orientales (1578).

6. O(s) livro(s) da minha vida

Enquanto matutava na escolha de um livro, fui-me deparando com as hesitações de "bem, sim, mas também há este...", "... e este", "ah pois, claro, este...", pelo que a decisão de transformou em pluralidade.




"A Mitologia", de Edith Hamilton




"O Capitão Richard", de Alexandre Dumas


"As Ligações Perigosas", de Choderlos de Laclos



"O Vampiro Lestat", de Anne Rice

"O Fogo do Céu", de Mary Renault



"The Wheel of Time", de Robert Jordan

"Tales of the City", de Armistead Maupin

"Never Let Me Go", de Kazuo Ishiguro



"Human Traces", de Sebastian Faulks


A única certeza que tenho é que a próxima vez que pensar no tema vou dar-me uma descompostura por me ter esquecido de algum livro completamente crítico...

Há raposas no parque ...

Alguns contribuidores e leitores deste blogue partilham um grande privilégio comigo: a amizade com Clara Macedo Cabral. Entre as inúmeras virtudes e os muitos talentos de que a Clara dispõe, encontra-se o dote literário.
Clara Macedo Cabral, jurista de formação, possui um mestrado em Estudos Portugueses, Literatura Comparada, sobre Identidade e Escrita no Feminino, os contos de Katherine Mansfield e Clarice Lispector pela Universidade Nova de Lisboa. É um valor seguro no mundo da literatura nacional. Nos primórdios da blogosfera, no “Verão quente” de 2003, participou no blogue colectivo Desejo casar, passado a livro em 2006 e, posteriormente no Crítico Musical. Colaborou na redacção de um livro de memórias E Pilatos Lavou as Mãos, de Lulu Landwehr, publicado em Brasília em 2006. Marcou ainda presença na (infelizmente) já extinta Rádio Luna no programa À volta da Luna que enriquecia com a sua leitura de poesia.

Surpreende-nos agora com o livro intitulado Há raposas no parque – Crónicas de uma portuguesa em Londres. Editada pela QuidNovi, esta obra em forma de diário abre-nos uma nova perspectiva sobre a cidade de Londres, onde a autora vive há quatro anos. O livro segue “o fio dos dias – as dificuldades, o esforço de adaptação, de compreensão de outros costumes – e contrapõe permanentemente a cultura deixada e a cultura encontrada; mas que, muito além do relato desse quotidiano, faz uma autêntica viagem pela realidade actual e por aspectos históricos do país de acolhimento: detém-se em vultos femininos da literatura e da história dos direitos das mulheres no Reino Unido; aspectos da educação, demografia, arquitectura, sociologia, acontecimentos políticos, e sobretudo no contraste económico que o Reino Unido registou nos últimos anos – em 2007 o país estava, sem suspeitar, na recta final de um ciclo de expansão económica, em 2008 entrou em recessão e tem sido dos mais afectados pelo credit crunch.” (QuidNovi Editora, 2009).

O fascínio destas crónicas reside precisamente na simbiose perfeita entre a narrativa personalizada de Clara e a realidade objectiva, quer contemporânea, quer histórica. Os três capítulos que compõem o livro, mantêm este percurso e transmitem-nos uma já vasta experiência pessoal, adquirida por uma mãe que dá à luz num país estrangeiro e que, pouco a pouco, vem a conhecer os contornos de um ambiente que se revela ora acolhedor, ora estranho – mas interessante em todo o caso. Há raposas no parque proporciona-nos uma visão sobre a capital britânica que desmistifica clichés e vai à descoberta de novos horizontes.

O lançamento oficial do livro será no auditório da Fnac do Chiado no dia 20 de Maio pelas 18.30h. A apresentação estará a cargo da Professora Isabel Allegro de Magalhães.
A 17 de Maio (último dia da feira) a partir das 16h, teremos a oportunidade de assistir a uma sessão de autógrafos por parte da autora, no pavilhão da QuidNovi na Feira do Livro de Lisboa.
Don’t miss it!


Imagens: Capa do livro; Clara Macedo Cabral; Highbury Fields (Londres)

No Hotel do Bairro Alto

No âmbito do Dia Mundial do Livro, Rosa Lobato de Faria vai ler um excerto do audiolivro O Gigante egoísta e outros contos de Oscar Wilde, no Hotel do Bairro Alto, em Lisboa, às 19h.

Como costumo adormecer

E não devo ser só eu... Às vezes caem-me mesmo das mãos e quase por automatismo desligo o candeeiro da mesa de cabeceira. Gosto de ler na cama, à noite quando vou dormir, e quando é possível também ao acordar com a primeira luz da manhã.

O livro da minha vida 5.


A difícil escolha! Porque os livros da minha vida forma imensos, continuam imensos. Mas escolhi este para o Dia Mundial do Livro 2009


Foi o primeiro livro que li de Marguerite Yourcenar. E fiquei fascinado. E li-o uma, duas, vezes sem conta. Adriano passou a ser uma referência para “ homem de Estado”: um governante que era um filósofo, um condutor de impérios que era um homem do espírito, um chefe implacável para com a Judeia revoltada e para com os cônsules conspiradores, um amante da paz que rejeitou a guerra para bem governar os seus povos, (“Qualquer novo acréscimo do vasto organismo imperial parecia-me uma excrescência doentia, um cancro ou o edema de uma hidropisia que acabaria por nos causar a morte”) um Imperador todo poderoso que fez do amor um culto e de um amante um deus (“Este jogo misterioso que vai do amor de um corpo ao amor de uma pessoa pareceu-me suficiente belo para lhe consagrar uma parte da minha vida..”).
Nesta obra prima, editado pela primeira vez em 1951 e cuja primeira edição em português teve a tradução excepcional de Maria Lamas, está tudo o que um livro nos pode dar: o prazer da leitura, o deleite de uma escrita inigualável, a construção primorosa da narrativa, a caracterização lapidar das personagens, a recriação rigorosa de uma época, a profundidade do pensamento que lhe está subjacente.

O(s) livro(s) da minha vida . 4

Jorge Luis Borges é um dos autores da minha vida. Penso ter actualmente quase tudo o que escreveu. Já tinha muito antes da Teorema ter publicado estes volumes a que chamou Obra Completa, e que são uma referência do corpus borgesiano em língua portuguesa. A OBRA COMPLETA de Borges seria um grande consolo na minha "ilha deserta".

Sempre tive enorme fascínio pela História de Roma, e a primeira leitura desta obra incontornável de Gibbon teve um "efeito multiplicador". Tenho-a em várias edições, umas integrais, outras abridged, em inglês e até em português. Uma escrita fabulosa, sendo certo que nem todas as análises de Edward Gibbon são hoje aceites pela comunidade científica, o que não surpreende dada a evolução operadas nas fontes, sempre acrescentadas desde o século XVIII. Volto muitas vezes a este fabuloso livro, não para o reler de fio a pavio ( já lá vai o tempo... ) mas a propósito de questões pontuais ( as tão bem diferenciadas heresias dos primeiros séculos do Cristianismo, ou os capítulos sobre Bizâncio ) .

É verdadeiramente um dos livros da minha vida as Memórias de Saint-Simon, um dos livros que me deu mais prazer até hoje. Obra imensa, crónica do reinado do Rei-Sol e da Regência, num estilo arrebatador. A edição mais antiga que tenho é de 1829, em 21 vols. , que pertenceu a Chaves de Almeyda e que adquiri numa venda renhida no Palácio do Correio-Velho há já muitos anos. Mais recentes, tenho várias, umas completas, outras que apenas têm as partes "mais suculentas", e recentemente as da Folio com interessantes estudos críticos.
Páginas fascinantes, a par de páginas hilariantes, a grande história e a petite histoire do Grand Siécle, e centenas de biografias de franceses e estrangeiros, incluindo portugueses. E claro que também tenho o delicioso pastiche escrito por Proust ( grande admirador das Memórias, tal como Stendhal ) sobre esta obra ( em Pastiches et mélanges ) .
A famosa edição de 1856 está integralmente disponível na net em http://rouvroy.medusis.com/, e existe também um sítio dedicado a Louis de Rouvroy, duque de Saint-Simon, o "duque memorialista" como é conhecido em França : http://www.saint-simon.net/.


O (s) livro (s) da minha vida - 3

"Vou dizer-lhe o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos."

pelos 9 anos:


pelos 12 anos:


pelos vintes...


depois foram tantos... se tivesse de levar dois para a minha Ilha de Orféu...

Pérez Reverte, O Clube Dumas


Oliveira Marques: História de Portugal, 3 volumes


" O livro da minha vida". 2 - Guerra e Paz



Tolstoi retratado por I. Kramskoï, 1873

«Guerra e Paz é a mais vasta epopeia do nosso tempo, uma Ilíada moderna, onde se agita um mundo de figuras e de paixões.
«Sobre este oceano humano de vagas inumeráveis paira uma alma soberana, que sobreleva e refreia as tempestades com serenidade.
«Várias vezes, ao contemplar esta obra, tenho pensado em Homero e em Goethe, não obstante as diferenças enormes de espírito e de tempo.»

Romain Rolland

«Guerra e Paz é um dos mais belos prodígios que o cérebro concebeu.»
Jean Cassou

«Guerra e Paz é na verdade uma obra filosófica : nela interroga Tolstoi a natureza a propósito de cada homem; nela predomina ainda uma ingenuidade muito homérica ou muito shakespereana, quer dizer, a ausência de qualquer desejo de retribuir os homens segundo o bem e o mal, a consciência de que se tem de ir buscar mais alto a responsabilidade da vida humana, para além do próprio homem.»
Léon Chestov

«Assim falaria a Vida – se a Vida falasse.»
Charles du Bos

«Guerra e Paz é mais do que um romance: é a epopeia da vida social e da história russa durante o período das guerras napoleónicas. Há aí matéria para vinte romances do tipo comum. As personagens movem-se num fundo imenso e todas vivem. Tolstoi possuía em grau supremo o dom da caracterização: não toca num ser humano sem o fazer viver.»
John Macy

«Em Tolstoi […] confluem, com os mais altos dons, o sentimento multímodo do homem terrestre e do seu problemático destino.»
José Marinho


Filme realizado por King Vidor, em 1956

Este livro é o livro da minha vida, sem dúvida alguma. E acho que vai permanecer como tal.
Li-o, depois de ter ido ver o filme, aí em 1966, no Éden. No dia seguinte fui comprar o livro: 4 volumes em formato pequeno com cerca de 360 p. cada um, traduzidos por Isabel da Nóbrega e João Gaspar Simões. Devorei-os. E desde então já os li várias (pelo menos três) vezes na totalidade e vezes sem conta excertos.
A minha personagem preferida é Pierre Bezhukov (no cinema interpretada por Henry Fonda, que desde então ficou sendo um dos meus actores preferidos), personagem inquieta, na qual Tolstoi personifica as mais profundas preocupações da humanidade: «uma natureza inquietante religiosa em que a fé se revela com todas aquelas dúvidas e perplexidades acentuadas a partir do Renascimento; um forte sentido terreno da existência e um grande apelo de justiça e dignificação do homem que defrontam, imperativamente, a angústia perante a morte e a sede de perenidade.» Uma procura dolorosa entre o segredo da vida e da morte. Muitos vêem neste personagem a projecção do próprio Tolstoi.
O filme tem uma música maravilhosa de Nino Rota, facto em que só reparei quando comprei o DVD, há pouco tempo.


O livro é o retrato da sociedade russa na época das guerras napoleónicas: a contradição entre a vontade de conquista de Napoleão e a ameaça que se abate sobre o povo russo, na sua própria essência. O que faz deste livro um dos maiores da história literária é a riqueza psicológica com que Tolstoi caracteriza as suas personagens. Um romance em que não há uma personagem central: André? Pedro? Natasha? É antes o entrelaçar entre o destino paralelo de duas famílias nobres: uma, os Rostov, arruinada; a outra, os Bolkonsky, próspera.
Tolstoi estudou as circunstâncias e locais onde se travaram as batalhas, informou-se acerca de Napoleão, tendo para isso pesquisado nos arquivos de São Petersburgo.
Desde o início do romance, «desde o primeiro diálogo entre Ana Pavlova e o príncipe Vassili, com as cenas seguintes da reunião em casa daquela e do primeiro diálogo íntimo entre Pedro e André, propõe o romancista todo o seu tema. Os humanos vivem mesquinha e contraditoriamente a paz, e a guerra resulta de uma tentativa de escapar a essa mesquinhez e contradição. Mas a guerra, por seu turno, desnuda todo o absurdo, toda a miséria, toda a crueldade do homem. E dessa experiência, regressa ele, não menos desiludido, ao mesmo que antes fora.»
«Algumas cenas de paz como alguns episódios de guerra merecem especial menção, embora seja difícil encontrar obra romanesca de tão vasto plano onde tão intensa minúcia de pormenores anime o desenvolvimento da acção. É notável, por exemplo, a descrição da morte do conde Bezuhkov, a dos amores infantis na casa Rostov, os múltiplos aspectos do drama conjugal, os pequenos interesses e vaidades da vida de sociedade, do solilóquios de Pedro, o pasmo de André, estendido no campo de batalha, ante a profundidade do céu que pela primeira vez descobre, a mesquinha realidade da guerra vivida comparada ao heroísmo da fantasia ou desespero, o encontro de Pedro com a alma profunda do povo simbolizado em Karataiev, porventura o mais característico momento de todo o livro, as esperanças magníficas do exército de conquista e as grandes e pequenas misérias da retirada.» (José Marinho)
Guerra e Paz foi um enorme sucesso quando foi publicado, surpreendendo o próprio autor. O título foi retirado de uma obra homónima de Proudhon, editada em 1861.
Desculpem estas notas um pouco desgarradas, mas não tive sequer tempo para reler partes do livro.

Citações de José Marinho de Guerra e Paz / trad. José Marinho. Lisboa: Inquérito, [1943], vol. 1

Andrey, Natasha, Pierre


Notícias Magazine, 20 Jul. 2008
Esta crónica já andou pelos comentários deste blogue,
penso que, primeiramente, pela mão de Miss Tosltoi.
Em que livro é que agora vivem, caros bloguistas e comentadores?