Existem algumas expressões e alguns termos que não me deixavam dizer em pequeno: Chatice; Porreiro; e Pachorra, entravam naquelas palavras que se diziam da gíria e que o dicionário classificava como sendo do vulgo.
Mas a última já era utilizava por escrito, numa conversa entre filho e mãe. Foi utilizada numa carta que o rei D. Carlos escreveu à rainha D. Maria Pia, em 1901, a 21 de Maio."Minha querida Mãe
Na Sexta feira de tarde chega o Principe Herdeiro do Sião, que n'esse mesmo dia pelas 5 horas da tarde se a Mãe não mandar o contrario lhe irá ahi appresesentar os seus respeitos.
No sabbado havera jantar grande na sala da ceia e desejo saber se a mãe quer assistir a elle.
Pedia-lhe tambem que no caso fosse necessario eu me podesse servir de alguns dos seus creados de cavalariças e de alguns dos seus machos.
Pedia que se não tem pachorra de me responder se dizia à sua Dama de me escrever uma palavrinha a mim para não haver trapalhadas.
[...]
A carta vai ser vendida no próximo leilão da Livraria Luís Burnay, no dia 2 de Junho. É o lote 75.
6 comentários:
Para JAD,
antiquada, também eu ! Não é que pensava que os Reis soubessem o que é pontuação ! Espantoso, uma carta inteira sem vírgulas.
Corrigindo hmj: há uma vírgula na missiva (depois de "Sião"). Mas, em boa verdade, ou a carta foi escrita à pressa, ou parece ter sido escrita com os pés, porque as ideias estão muito mal expressas...
Apesar de tudo, há uma diferença que não é pequena entre correspondência formal e informal. Pena tenho de ter rasgado um " recado " que a minha mãe me deixou há dias quando veio a minha casa e deixou uns acepipes.
O contexto é tudo, e como se vê das cartas trocadas entre este Rei e o seu ministro João Franco, escreve-se em adequação ao destinatário.
Quanto à "pachorra", acho estranhíssima a observação do nosso Jad, pois que sempre a ouvi a pessoas mais velhas e bem educadas como o nosso Mattos e Silva, cuja mãe por exemplo não era nada permissiva...
Já agora, em abono de pessoas menos informadas, sempre direi que esta relação filial D.Maria Pia-D.Carlos foi exemplar. Um filho muito dedicado, e uma mãe que nunca recuperou do desgosto de perdê-lo nas circunstâncias que todos conhecemos.
Mas eu até achei ternura. E fiz uma crítica a mim mesmo, dado que é Rafael Bluteau (1720) que diz que é "Termo do vulgo" (Vocabulario Portuguez, vol. VI, p. 170).
Pois, mas o Bluteau é do séc.XVIII e a " pachorra " de D.Carlos é de 1901... Bem sabemos como o tempo transforma o uso dos termos.
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