Tenho uma Saudade tão Braba
Tenho uma saudade tão braba
Da ilha onde já não moro,
Que em velho só bebo a baba
Do pouco pranto que choro.
Os meus parentes, com dó,
Bem que me querem levar,
Mas talvez que nem meu pó
Mereça a Deus lá ficar.
Enfim, só Nosso Senhor
Há-de decidir se posso
Morrer lá com esta dor,
A meio de um Padre Nosso.
Quando se diz «Seja feita»
Eu sentirei na garganta
A mão da Morte, direita
A este peito, que ainda canta.
Vitorino Nemésio,
in "Caderno de Caligraphia e outros Poemas a Marga"
Morreu em 20 de Fevereiro de 1978
Tenho uma saudade tão braba
Da ilha onde já não moro,
Que em velho só bebo a baba
Do pouco pranto que choro.
Os meus parentes, com dó,
Bem que me querem levar,
Mas talvez que nem meu pó
Mereça a Deus lá ficar.
Enfim, só Nosso Senhor
Há-de decidir se posso
Morrer lá com esta dor,
A meio de um Padre Nosso.
Quando se diz «Seja feita»
Eu sentirei na garganta
A mão da Morte, direita
A este peito, que ainda canta.
Vitorino Nemésio,
in "Caderno de Caligraphia e outros Poemas a Marga"
Morreu em 20 de Fevereiro de 1978
3 comentários:
Poema simultaneamente belo e angustiante.
Ortega Y Gasset definiu Vitorino Nemésio como " Um homem que transporta uma ilha".
Boa Tarde,
ACV.
O poema é muito bonito.
Quem passou pela Horta, local onde fez estudos, percebe bem este poema.
Gostei muito do post.
Obrigada. :)
Boa tarde.
A foto não é da Horta mas a lembrança maior que tenho dos Açores é do Faial e do Pico. Na Terceira passei sem estar. :)
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