Chegou-me esta notícia. Não quero acreditar no que está a acontecer! Transcrevo-a tal como me chegou por e-mail:
"Maria Keil (gosta que a tratem apenas por Maria) nasceu na cidade de Silves, em 1914. Partilhou a maior parte da sua vida com o arquitecto Francisco Keil do Amaral, com quem se casou, muito jovem, em 1933.
De lá para cá fez milhares de coisas, sobretudo ilustrações, que se podem encontrar em revistas como a “Seara Nova”, livros para adultos e “toneladas” de livros infantis, os de Matilde Rosa Araújo, por exemplo, são em grande quantidade. Está quase a chegar aos 100 anos de idade de uma vida cheia, que nos primeiros tempos teve alguns “sobressaltos”, umas proibições de quadros aqui, uma prisão pela PIDE, ali... as coisas normais para um certo “tipo de pessoas” no tempo do fascismo.
Para esta “história”, no entanto, o que me interessa são os seus azulejos. São aos milhares, em painéis monumentais, espalhados por variadíssimos locais. Uma das maiores contribuições de Maria Keil para a azulejaria lisboeta, foi exactamente para o Metropolitano de Lisboa. Para fugir ao figurativo, que não era o desejado pelos arquitectos do Metro, a Maria Keil partiu para o apuramento das formas geométricas que conseguiram, pelo uso da cor e génio da artista, quebrar a monotonia cinzenta das galerias de cimento armado das primeiras 19, sim, dezanove estações de Metropolitano. Como o marido estava ligado aos trabalhos de arquitectura das estações e conhecendo a fatal “falta de verba” que se fazia sentir, o Metro lá teve de pagar os azulejos, em grande parte fabricados na famosa fábrica de cerâmica “Viúva Lamego”, mas o trabalho insano da criação e pintura dos painéis... ficou de borla. Exactamente! Maria Keil decidiu oferecer o seu enorme trabalho à cidade de Lisboa e ao seu “jovem” Metropolitano.
"Maria Keil (gosta que a tratem apenas por Maria) nasceu na cidade de Silves, em 1914. Partilhou a maior parte da sua vida com o arquitecto Francisco Keil do Amaral, com quem se casou, muito jovem, em 1933.
De lá para cá fez milhares de coisas, sobretudo ilustrações, que se podem encontrar em revistas como a “Seara Nova”, livros para adultos e “toneladas” de livros infantis, os de Matilde Rosa Araújo, por exemplo, são em grande quantidade. Está quase a chegar aos 100 anos de idade de uma vida cheia, que nos primeiros tempos teve alguns “sobressaltos”, umas proibições de quadros aqui, uma prisão pela PIDE, ali... as coisas normais para um certo “tipo de pessoas” no tempo do fascismo.
Para esta “história”, no entanto, o que me interessa são os seus azulejos. São aos milhares, em painéis monumentais, espalhados por variadíssimos locais. Uma das maiores contribuições de Maria Keil para a azulejaria lisboeta, foi exactamente para o Metropolitano de Lisboa. Para fugir ao figurativo, que não era o desejado pelos arquitectos do Metro, a Maria Keil partiu para o apuramento das formas geométricas que conseguiram, pelo uso da cor e génio da artista, quebrar a monotonia cinzenta das galerias de cimento armado das primeiras 19, sim, dezanove estações de Metropolitano. Como o marido estava ligado aos trabalhos de arquitectura das estações e conhecendo a fatal “falta de verba” que se fazia sentir, o Metro lá teve de pagar os azulejos, em grande parte fabricados na famosa fábrica de cerâmica “Viúva Lamego”, mas o trabalho insano da criação e pintura dos painéis... ficou de borla. Exactamente! Maria Keil decidiu oferecer o seu enorme trabalho à cidade de Lisboa e ao seu “jovem” Metropolitano.
Estes pormenores das estações do “Intendente” (1966) e “Restauradores” (1959), são bons exemplos.
Recentemente a Metro de Lisboa decidiu remodelar, modernizar, ampliar, etc, várias das estações mais antigas e não foram de modas. Avançaram para as paredes e sem dizer água vai, picaram-nas sem se dar ao trabalho de (antes) retirar os painéis de azulejos, ou ao incómodo de dar uma palavra que fosse à autora dos ditos. Mais tarde, depois da obra irremediavelmente destruída, alguém se encarregaria de apresentar umas desculpas esfarrapadas e “compreender” a tristeza da artista.
A parte “realmente boa” desta (já longa) história é que ao contrário de quase todos os arquitectos, engenheiros, escultores, pintores e quem quer que seja que veja uma sua obra pública alterada ou destruída sem o seu consentimento, Maria Keil não tem direito a qualquer indemnização.
Perguntam vocês “porquê, Samuel?” e eu tão aparvalhado como vós, “Porque na Metro de Lisboa há juristas muito bons, que descobriram não ser obrigatório pedir nada, nem indemnizar a autora, de forma nenhuma... exactamente porque ela não cobrou um tostão que fosse pela sua obra!!!
Este país, por vezes consegue ser “ainda mais extraordinário” do que é o seu costume! Ou não?
Parêntesis: Qualquer alteração na “Gare do Oriente” do Arq. Calatrava, ou nas Torres das Amoreiras, do Arq. Tomás Taveira, só a título de exemplo, têm de ser encomendadas ao arquitecto que as fez e mesmo assim, ele pode recusar-se a alterar a sua obra original. Se os donos da obra avançarem para a alteração sem o acordo do autor, podem ter por garantido um belo processo em tribunal, que acabará numa “salgada” indemnização ao autor.
8 comentários:
Um grande abraço de solidariedade a Maria Keil -- com as desculpas de um cidadão; no fundo, a culpa também é minha por termos o País que temos, com as decisões que os órgãos públicos e as empresas públicas tomam.
Isto não é de hoje, já dura há anos.
Concordo: a culpa é nossa que durante imensos anos passámos pelas estações de Metro e nem olhávamos para os maravilhosos azulejos-padrão que forravam (e, nalguns casos, ainda forram) as paredes. E também com a forma como olhávamos para os azulejos em geral: displicentemente. Que é o modo como olhamos e vivemos a nossa cidade (os que vivemos em Lisboa).
Vá lá que, em algumas das estações remodeladas, ainda ficaram alguns metros de azulejos. Isto tem a ver com os arquitectos responsáveis pelas remodelações.
Uma nota: «o marido» que «estava ligado a trabalhos de arquitectura das estações» é o arquitecto Keil do Amaral.
M.
Tb recebi, mas parece que a "história" tem outros contornos.
http://ascausasdajulia.blogspot.com/2008/09/mensagem-do-pitum-filho-de-maria-keil.html
Confesso que ando pouco de metro, já que o prolongamento a Alcântara (Estrela já servia) não se vislumbra.
JAD: não está esquecido o post de Julho, só à espera de oportunidade para ir ver a "coisa" ao museu do Oriente.
Bom dia a todos!
É, de facto, inacreditável! Conheço a obra de Maria Keil e do seu marido e faz impressão que não haja preocupação em as preservar. Mais, é extremamente ofensivo quando as obras são a oferta simpática de quem quer dar beleza aos outros...
É o país que temos!!!
Isto é selvajaria pura e surrealismo inimaginável. Falta de respeito, falta de sensibilidade, ignorância, não explicam e não relevam esta acção. Como português e cidadão de Lisboa, fiquei envergonhado. Como diz o João Soares "a culpa também é minha". Pela gente que anda por aí a (des)mandar com o meu voto e a minha indiferença, pelo silêncio que permito que se faça perante aberrações destas. Nem de baraço ao pescoço teria coragem de ir pedir perdão a Maria Keil em nome dos "artistas" do Metro que fizeram esta graça.
Há por aí muito arquitecto e muito artista (alguns até bons) que se estão nas tintas para as obras dos seus colegas. Querem é construir. Deviam pensar que daqui a uns anos vêm novos colegas que lhes farão a mesma coisa. É o país que temos! E pior que isso: é o mundo que temos!
Viram um projecto que anda por aí para o Rato? Quando mo enviaram pela primeira vez, há meses ou um ano, nem quis acreditar...
Por favor, João Mattos e Silva: não lance mão do Surrealismo para falar desta história vergonhosa.
Parabéns ao defensor do movimento surrealista.
Mas será que era para atacar este surrealismo?
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