Lisboa: Portugália, s.d. (Biblioteca dos rapazes)
«Numa divertidíssima conversa publicada há umas semanas no El País, os escritores Mario Vargas Llosa e Arturo Pérez-Reverte entretêm-se a discorrer sobre as suas relações com a literatura infanto-juvenil. O pretexto é a estreia literária de ambos no género, e o que um e o outro, separados no tempo por uns doze anos bem medidos, têm a dizer evoca recordações em quem tenha nascido em meados do século passado. Pérez-Reverte, por exemplo, revela-se um defensor das adaptações de clássicos para o público juvenil: "É graças a elas que muitos de nós chegámos aos grandes autores. Uma boa adaptação leva-te ao clássico integral."
«Aconteceu comigo, sobretudo em relação a A Ilha do Tesouro, de Stevenson, que havia de tornar-se um dos livros da minha vida (mas também com Peregrinação e a Odisseia, adaptados por João de Barros). Ao texto integral de Stevenson só cheguei por volta dos 20 anos; antes, tinha conhecido o livro em versão abreviada, numa colecção infanto-juvenil, a Colecção Histórias da Editorial Ibis, que alternava pedaços seleccionados com ilustrações. Nesta série, lembro-me ainda do Rob Roy e do Ivanhoe, mas Walter Scott nunca foi autor da minha preferência (estas foram, curiosamente, as primeiras leituras de Vargas Llosa). [...]
«Os dois autores coincidem na exaltação de Os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas. "O livro, diz Pérez-Reverte, levava-te à História, às paixões, à amizade, havia de tudo, sem excluir a traição e a deslealdade..." Reverte leu-o aos 7 anos; eu, aos 10. Sei-o bem, porque conservo o exemplar da edição da Portugália, datado numa caligrafia ainda pouco segura: 24/12/59. Um presente de Natal, evidentemente. E o trigésimo livro a entrar na minha pequena biblioteca pessoal, porque é esse o número com que o classifiquei, no único esforço palpável que fiz para ordenar os livros que ia coleccionando. Tenho, em relação a Os Três Mosqueteiros, a mesma reserva que Vargas Llosa: impressionou-me tanto que nunca o quis reler. [...]»
«Os dois autores coincidem na exaltação de Os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas. "O livro, diz Pérez-Reverte, levava-te à História, às paixões, à amizade, havia de tudo, sem excluir a traição e a deslealdade..." Reverte leu-o aos 7 anos; eu, aos 10. Sei-o bem, porque conservo o exemplar da edição da Portugália, datado numa caligrafia ainda pouco segura: 24/12/59. Um presente de Natal, evidentemente. E o trigésimo livro a entrar na minha pequena biblioteca pessoal, porque é esse o número com que o classifiquei, no único esforço palpável que fiz para ordenar os livros que ia coleccionando. Tenho, em relação a Os Três Mosqueteiros, a mesma reserva que Vargas Llosa: impressionou-me tanto que nunca o quis reler. [...]»
António Mega Ferreira
In: Notícias Sábado, 15 Maio 2010, p. 61
Pode ler a conversa de Vargas Llosa e Pérez-Reverte, «Como dos niños com libro nuevo», em: http://www.elpais.com/articulo/cultura/ninos/libro/nuevo/elpepicul/20100430elpepicul_1/Tes
E, se puder, leia também a crónica de Mega Ferreira. Ficará a saber porque se intitula «Clássicos 3 1/2»!
2 comentários:
Uma maravilha! O mundo infantil ainda não precisava de "Piadas" ilustradas...
:)
Ia escrever que tínhamos as Aventuras do Tonecas, mas não eram ilustradas.
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