Herta Müller nasceu, em 1953, na aldeia de Nitzkydorf, na Roménia. Viveu 5 anos num campo de trabalho na actual Ucrânia. Estudou literatura alemã e romena na Universidade de Timisoara. Depois de tirar o curso trabalhou como tradutora numa fábrica de Timisoara. Foi demitida (1979) por não colaborar com a polícia política de Nicolae Ceaucescu e em 1987 abandonou o país e foi para a Alemanha.
Herta Müller foi laureada com o Prémio Nobel da Literatura em 2009. A Terra das Ameixas Verdes é o título que ando ler com muito agrado. O livro narra as memórias do silêncio e do medo impostos pela ditadura de Ceausescu. Escolhi este trecho para ilustrar o que a personagem idealiza para lá das muralhas do silêncio. É um livro sobre a resistência e a impotência face a um regime aniquilador, asfixiante e desumano.
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"Os livros da casa de campo tinham sido contrabandeados para dentro do país. Estavam escritos na língua materna em que o vento se deitava. E não na língua estatal, como aqui no país. Mas também não era a língua do o-ó infantil das aldeias. Nos livros havia a língua materna, mas o silêncio de aldeia que proibe o pensar, esse não constava nos livros. Lá de onde os livros vinham, todos pensam, pensávamos nós. Cheirávamos as folhas e dávamos connosco a ganhar o hábito de cheirar as nossas mãos. Pasmávamos, as mãos não ficavam negras ao lermos como do negro da impressão de jornais e livros do país.
Todos os que percorriam a cidade com a terra às costas cheiravam as mãos. Não era que conhecessem os livros da casa de campo. Mas queriam ir para lá. Lá de onde estes livros vinham, havia calças de ganga e laranjas, brinquedos fofos para crianças e televisões portáteis para os pais e meias de vidro finíssimas e rimmel a sério para as mães".
xHerta Müller, A Terra das Ameixas Verdes, Lisboa: Difel, 2009, p.46
1 comentário:
Também gostei bastante deste livro. É sem dúvida uma excelente obra.
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