Nunca reparei neste quadro nas diferentes vezes que passei pelo Museu do Prado. Mas foi ele que me despertou a atenção num livro que hoje me ofereceram sobre um dos artistas do século XVI que gosto: Δομήνικος Θεοτοκόπουλος [Doménikos Theotokópoulos] (1541-1614).
Que representará?
Muitos querem que a figura central seja uma rapariga e que o quadro ilustraria o ditado «o homem é fogo, a mulher estopa, vem o diabo e sopra». E o diabo seria o pobre do macaco...
Olhando, com mais atenção, para o quadro consegue-se ver a orelha da figura central. Não tem, portanto a cabeça coberta como poderia parecer num primeiro olhar. Poderá ser assim um jovem o que estaria de acordo com o inventário do século XVII, do bispo Juan de Ribera, onde aparece a referência a este (?), ou a uma variante deste, quadro descrito como representando "dois homens e um macaco que estão a acender, ou a soprar, uma áscua".
Realmente a figura central sopra o pedaço de carvão provocando a chama que lhe permite acender a pequena vela que tem na mão. E é a chama que resulta do sopro na áscua que dá a luz que ilumina o quadro...
Parece que um outro grego, pintor famoso, Antífilo de Alexandria (século II), terá igualmente pintado uma rapaz soprando um tição. Plínio, o velho, na sua História Natural, fala-nos desse quadro e da luz que o sopro arranca que se reflecte no rosto e no aposento. Terá El Greco querido recordar o seu natural?
Em Madrid o quadro tem por nome Fábula (tirado de um inventário de 1621), mas no século XIX era referenciado com o nome de "provérbio espanhol".
Mas o que mais me agradou no quadro foi o macaco, imitando a figura central, soprando, para manter viva a chama...
Outros quadros de El Greco sobre o mesmo tema:
Este post é dedicado a quem me ofereceu o livro de José Luis Morales y Marín, El Greco, Editorial Estampa, 2000.
7 comentários:
Adorei este post.
Também não me lembrava deste quadro - devo-o ter visto porque uma das minhas romagens quando vou ao Prado, para além do Goya, é o Greco - e não conhecia o provérbio citado - muito giro.
Entretanto, vi que tem uma variante: «O homem é fogo, a mulher pólvora; vem o diabo e sopra.»
E dos dois quadros de baixo, prefiro o da col. particular.
Repito o que já em tempos escrevi num outro post do Prosimetron:
El Greco e o meu fracasso por não conseguir descobrir os seus segredos!
Rompo o silêncio em nome da beleza.
Adoro El Greco, sempre o achei avançado para a época.
El Greco tinha o condão de ter a influência de duas civilizações: a bizantina e a ocidental. Mas, ter razão antes de tempo é o mesmo que não ter razão.
Obrigada pela explicação.
Macaco de imitação. :-)
Belo post.
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