Prosimetron

Prosimetron

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Na sociedade e na família

3.ª ed. rev. e aum., 1937
Capa de Raquel Roque Gameiro

Ao longo de onze capítulos, Emília de Sousa Costa explana tudo o que se devia saber - neste caso, as mulheres (perdão: as senhoras) - sobre «regras de convivência, obrigações sociais, usos mundanos», num livro adaptado do francês.
O primeiro capítulo é sobre «O nascimento», como um sub-capítulo «Como devemos chamar os recém-nascidos. os nomes modernos». Eis algumas das regras:
«Convém observar que, se o bom-senso na escolha é importante para os rapazes, muito mais o é para as meninas. Aqueles, se mais tarde o quiserem, serão designados só pelos apelidos de família. Estas sê-lo-ão sempre pelos nomes de baptismo.
«Na escolha dos nomes, há ainda uma regra eufónica a observar previamente. Muitas vezes, o prenome não soa bem junto aos apelidos. É preciso evitar o inconveniente.»
E mais adiante: «Recomendamos que não se recorra a nomes esquisitos, rebuscados em livros antigos, na história ou nos arquivos da Idade Média.
«Muitos deles tornar-se-iam actualmente pretenciosos ou ridículos.»
Muito actual! Muito actual!
Os outros capítulos são dedicados à educação dos filhos, ao casamento, ao lar (dona de casa, recepções. visitas), à vida fora de casa, à vida do casal, à correspondência e aos mortos.
O capítulo dedicado às visitas sofreu grandes mudanças. Vejamos «a quem devemos apertar a mão»:
«É prova de delicadeza, que se tornou banal, o aperto de mão inconsciente, trocado por pessoas que se encontram. Noutros tempos era manifestação de viva simpatia. Hoje é gesto regulado pela urbanidade.
«A mão direita estende-se inteira, franca e lealmente. Oferecer dois dedos é sinal de desprezo. Tocar apenas a mão que se nos estende, ou apresentar a mão inerte, é mais impolido do que recusá-la. [...]
«A senhora é quem primeiramente estende a mão ao homem. Sob esta feição social é galantemente considerada superior. Mas tal regra varia algumas vezes.»
E quanto ao beija-mão?
«Costume muito distinto, bastante em voga, manifesta consideração e respeito [...].
«O homem inclina-se e reverentemente aflora com os lábios a mão que a senhora lhe estendeu. [...]
«Na rua, as senhoras não se beijam. Em casa podem beijar-se as amigas íntimas, ou as parentes. Evitem-se o mais possível, os beijos às crianças, sobretudo na boca. Se se beijam é na testa. Às mães cumpre ensinar os pequeninos a apertarem-se as mãos, de preferência a beijarem-se. É mais bonito e revela melhores maneiras, do que os beijos a torto e a direito.»

2 comentários:

APS disse...

É a melhor forma de vermos como as regras sociais se transformaram tanto...

ana disse...

MR,
Um texto deveras delicioso.
Gostei de saber dos nomes e do pretensiosismo ligado às suas escolhas. O melhor é salvaguardar os nomes que existiam na família, é sempre discreto e uma honra para os ancestrais.

Quanto aos beijos na boca das crianças, nunca pensei que na época do livro fosse um costume, sempre achei que era uma exportação anglo-saxónica.

Os afectos de 1937 não me são estranhos era uma questão de educação na época do Estado Novo onde cresci. Estamos em 2011 e de facto há muitas diferenças.

Grata por esta viagem.