«De todas as versões (cinematográficas e televisivas) do romance de Tolstoi, a de Greta Garbo é, por certo, uma das mais lendárias: sob a direcção de Clarence Brown, ela cumpria um dos capítulos essenciais da sua própria mitologia.
«Ao descobrirmos a nova versão de "Anna Karenina", dirigida por Joe Wright, com Keira Knightley no papel principal, é inevitável recordarmos a imensa quantidade de adaptações cinematográficas do romance de Tolstoi (originalmente publicado entre 1873 e 1877).
«Uma das mais míticas e, por certo, também das mais encantadoras data de 1935 e tem Greta Garbo como Karenina.
Para Garbo, foi um filme de plena integração e consagração na máquina de Hollywood. Correspondendo a um conviote da Metro Goldwyn Mayer, ela saíra da Suécia em 1925 para tentar a sua sorte em Hollywood. E, de facto, não só se impôs rapidamente, a partir de "Flesh and the Devil" (1926), sob a direcção de Clarence Brown, como resistiu mesmo à passagem para o cinema sonoro.
Em "Anna Karenina", voltava a trabalhar sob a direcção de Brown, um dos realizadores que mais confiança lhe inspirava, contando também com a contribuição artística de William H. Daniels, porventura o director de fotografia que melhor soube iluminar o seu rosto.
«Na lista "100 anos... 100 paixões", uma das selecções do American Film Institute feita na sequência das comemorações do centenário do cinema, em 1995, esta "Anna Karenina" ocupa o lugar nº 42.»
João Lopes
(In Diário de Notícias, Lisboa, 10 dez. 2012)
«É bem verdade que a história do cinema contém uma série de interessantíssimas adaptações do romance "Anna Karenina", de Leo Tolstoi. Para nos ficarmos pelas referências mais óbvias, lembremos as versões protagonizadas por Greta Garbo (1935) e Vivien Leigh (1948), realizadas, respectivamente, por Clarence Brown e Julien Duvivier.
«Mas não é menos verdade que nem mesmo a escrita genial de Tolstoi serve de "garantia" cinematográfica: um filme sobre um livro não brota automaticamente das qualidades desse livro, depende sempre dos valores narrativos que nele se investem. E no caso da nova "Anna Karenina", assinada por Joe Wright, o mínimo que se pode dizer é que os tiques formalistas se sobrepuseram a tudo o resto.
«Insolitamente, o filme de Joe Wright tenta situar a história do adultério de Karenina na Rússia czarista a partir de uma sugestão "teatral": as personagens seriam, afinal, protagonistas de um drama de aparências... O certo é que tal sugestão cedo se reduz a um dispositivo decorativista que se exibe por si próprio, enquanto a "acção" se vai organizando em situações mais ou menos soltas e desconexas.
«Os actores, como sempre, são os mais penalizados neste tipo de produções: Keira Knightley, Jude Law e Aaron Taylor-Johnson fazem o que podem, mas podem muito pouco... À semelhança de "Orgulho e Preconceito" (2005) ou "Expiação" (2007), Joe Wright revela-se um director de telefilmes académicos, apenas "favorecidos" por evidentes luxos de produção cenográfica.»
João Lopes
(RTP, 8 dez. 2012)
Concordo com João Lopes: a versão de Orgulho e Preconceito é uma lástima. Quanto a Expiação, gostei; talvez porque nunca li o livro de Ian MwEwan.
4 comentários:
Li, não sei aonde, que terá havido um clamoroso erro de "casting", sobretudo em relação à artista que faz de Anna Karenina.
Nem mais! E o filme também é um pouco louco.
Interessante.
Mas a pesar da sua loucura não deixei de achar graça e até inquietação.
Claro, o essencial da história está lá. Muito mal adaptado, mas...
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