«Para repouso do espírito e procurando uma representação exata de coisas que conhecia só pela leitura e [... lhe] interessavam», Jaime de Magalhães empreende uma viagem, no outono de 1888, pelo norte da Europa e da África. Vai à Rússia e visita Tolstoi, visita que relata em sete páginas de Cidades e paizagens (Porto: Typ. de A. J. da Silva Teixeira, 1889):
«Estocolmo, 22 de setembro
«Vindo à Rússia, não pude roubar-me o prazer de visitar o conde Tolstoi, o famoso romancista que hoje todo o mundo conhece. Como tantos outros estrangeiros, dirigi-me pois à cidade de Tula e daí a Yasnaya Polyana, propriedade e habitação de Tolstoi.
«Em torno deste nome fez-se uma verdadeira lenda que representa o conde como um louco fazendo sapatos e lavrando as terras. E na verdade tem não sei quê de singular e de poético a sua vida.
«Um dia, um conde desse dourado império dos czares vestiu-se de mujique, e mais do que simplesmente, pobremente, foi esconder-se na sua aldeia e começou a ceifar o trigo, semear o grão e construir a cabana. Tinha tudo o que a vaidade ambiciona, uma fortuna imensa, um nome ilustre, uma mulher formosa e, sob traços grosseiros, uma rudeza viril aliada ao encanto de um olhar límpido em que brilhava a doçura do que lhe vinha da alma. Sobre tantos dons da natureza e da fortuna tinha ainda um prodigioso talento de artista. nada lhe faltava para conquistar a lisonja e a veneração do seu tempo, e esse homem, que podia ter uma corte de admiradores e turiferários, tudo deixou pelo trabalho da terra e pela companhia do aldeão, que há pouco ainda era seu escravo.» (p. 44-45)
O resto terão de ler no livro. :)
1 comentário:
Interessante. Vou ver se arranjo o livro.
Boa tarde.:))
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