Prosimetron

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quinta-feira, 14 de maio de 2015

No Dia da Espiga



O teu riso 

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas
não me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a flor de espiga que desfias,
a água que de súbito jorra na tua alegria,
a repentina onda de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
por vezes com os olhos
cansados de terem visto
a terra que não muda,
mas quando o teu riso entra
sobe ao céu à minha procura
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, na hora
mais obscura desfia
o teu riso, e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

Perto do mar no outono,
o teu riso deve erguer
a sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero o teu riso como
a flor que eu esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
curvas da ilha,
ri-te deste rapaz
desajeitado que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando os meus passos se forem,
quando os meus passos voltarem,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas o teu riso nunca
porque sem ele morreria.

Pablo Neruda

3 comentários:

ana disse...

Boa tarde da espiga.:))
O poema é bonito.

Isabel disse...

Bonito ramo e bonito poema!

Quando trabalhava pelas aldeias, muitas vezes ia com os meus alunos apanhar o ramo do dia da espiga. Desde que estou na cidade não tornei a cumprir a tradição...

Boa tarde:)

MR disse...

Quando tinha 'campo' frente à minha casa, tb costumava colher umas espigas e florinhas. Não havia era oliveiras...
Agora há uma escola. :)

Bom fim de semana para ambas.