"No Japão, cujo novo primeiro-ministro anunciou como objectivo prioritário tornar o país mais alegre, há 10 milhões de filhos adultos que vivem em casa dos pais. São tantos (60% dos solteiros e 80 por cento das solteiras), que já têm uma categoria social - são os solteiros parasitas. São parasitas porque, apesar de terem educação e trabalho, não participam nas despesas da casa dos pais e gastam todo o dinheiro em roupa e objectos pessoais. O fenómeno está a tornar-se de tal modo preocupante que os japoneses estão a recuperar a tradição dos casamentos arranjados pelos pais. Agora, os omiai (matchmaking) modernos são organizados por empresas privadas que viram nesta inércia dos filhos uma forma de fazer dinheiro. Juntam enormes grupos de pais em grandes salões de hotéis, sentam-nos uns em frente aos outros e eles, aos 60, 70 e 80 anos, mostram as fotografias dos filhos. Todos levam apenas o essencial e o essencial no Japão é o nome, idade, profissão, salário e grupo sanguíneo (um factor absolutamente decisivo). Só uma empresa, a Exeo, organiza 300 mil reuniões destas por ano, um pouco por todo o lado, incluindo Tóquio. Normalmente, os filhos nem sonham que os pais andam à procura de potenciais parceiros. Mas não sei se estará a resultar. Eles, os homens solteiros japoneses, trabalham mais horas do que em qualquer outro país desenvolvido e por isso passam o fim-de-semana a dormir - ou seja, não têm tempo nem energia para namorar, muito menos sair de casa dos pais. Elas, por sua vez, não têm qualquer desejo de trocar a casa dos pais por uma vida a sós ou com um marido que só trabalha e dorme. A solução passa por uma ideia qualquer. Quando eu a descobrir, escrevo uma crónica."
Crónica de Bárbara Reis, no ípsilon (Público)
5 comentários:
Trabalhar (normalmente nem gostam do que fazem) e dormir é uma vida «deverasmente» interessante. Mais vale nem nascer.
Mas pelo andar da carruagem vão deixar de nascer japoneses.
Fiquei muito intrigado com a relevancia do grupo sanguineo...
Lá se vai o imaginário da cortesia japonesa por água abaixo.
Conhecia o ritmo de vida acelarado, mas queria crer que a cerimónia do chá, a elegância nos cumprimentos ainda faziam parte da realidade. Globalização!!!
Só uma nota de esperança, este ano, pelas ilhas gregas vi japoneses de kimono, à hora de jantar.
Parece-me que não é só no Japão...
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