Prosimetron
sábado, 22 de agosto de 2009
Canção Póstuma
Foto: Turim, 2008
Fiz uma canção para dar-te;
porém tu já estavas morrendo.
A Morte é um poderoso vento.
E é um suspiro tão tímido, a Arte...
É um suspiro tímido e breve
como o da respiração diária.
Choro de pomba. E a Morte é uma águia
cujo grito ninguém descreve.
Vim cantar-te a canção do mundo,
mas estás de ouvidos fechados
para os meus lábios inexatos,
— atento a um canto mais profundo.
E estou como alguém que chegasse
ao centro do mar, comparando
aquele universo de pranto
com a lágrima da sua face.
E agora fecho grandes portas
sobre a canção que chegou tarde.
E sofro sem saber de que Arte
se ocupam as pessoas mortas.
Por isso é tão desesperada
a pequena, humana cantiga.
Talvez dure mais do que a vida.
Mas à Morte não diz mais nada.
Cecília Meireles, in Retrato Natural
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3 comentários:
Bonito! Ai se a saudade fosse mortal...
Gosto desta poetisa.
M.
Há pessoas que nunca morrem pela qualidade que têm. Por isso, são intemporais!
A morte é uma passagem, acerca disto nada sei, mas é o que ouvi dizer...
A.R.
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