Prosimetron

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segunda-feira, 17 de agosto de 2009

CONTO INFANTIL

Elvirinha, diga, diga,
Minha amiga,
Não me quer?!...
Tudo por quanto suspira,
Dou-lhe, Elvira,
Se quiser!

Um beijinho bem saudoso
Bem mimoso,
Não me dá!
Não me mata este desejo?
Dá-me um beijo?
Diga lá!

Não me conta alguma história,
Minha glória,
Minha flor?!
Não me conta algum continho
Meu anjinho,
Meu amor?!

Se não conta, então eu conto
Lindo como
Que aprendi,
Quando eu era dessa idade
Numa herdade
Que há aqui.

E ele é tão lindo, tão lindo!...
Vá ouvindo:
Mete dó!
Pobre galo, morto à faca,
De casaca e paletó!

Lembrou-se ele, esse tal gaio…
(Vou contá-lo,
Há-de ser já:)
Ir um dia de espavento
Ao convento,
Que além está.

Bons sapatos novozinhos
Nos pezinhos
Encaixou;
Vestiu calças de veludo,
Vestiu tudo
Quanto achou.

Lenço bordado de flores
Fruta-cores,
De cetim,
Tão lindo quem nem de seda
Que lhe exceda
Vi assim!

Pediu a sege ao vizinho,
Seu padrinho
E seu patrão,
Tão galante, tão bonita,
Tão catita,
Que mais não.

Salta nela e vai trotando
Suspirando
Por ver já
Certa franga seus maores
De mil cores,
Que lá está.

Chega à porta canta o galo,
Vem escutá-lo
Do quintal
Mui contente a franguinha:
Bonitinha
Que era a tal.

Confessou-lhe a prisioneira
Mui lampeira
O seu amor,
Ouve o galo, e na loucura
Vai, procura
O confessor.

Diz o galo: -Meu compadre,
Senhor padre,
Quer ouvir?
Tenho aqui um casamento
No convento
Que pedir.

«Pois filho, que demoramos?
Vamos, vamos,
Se lhe apraz;
Que sem falar à rodeira
Faz asneira,
E nada faz.»

Foram ambos e bateram
Responderam
Mas então?!
Responderam que em conventos
Casamentos
Nunca estão!

Pede o galo em segredinho,
De mansinho
Diz e diz…
Toma-o ela à sua conta
Pela ponta
Do nariz.

Tira uma faca do bolso
E o pescoço
Tal lhe fez,
Que os dois quartos da casaca
Pôs-lhe a faca
Em mais de três.

Veja agora, minha Elvira,
Se admira
E faz chorar!
Perder assim um fadista
Vida e crista por casar!

Diga, pois, se foi ouvindo,
Não é lindo?...
Mete dó!
Pobre galo morto à faca
De casaca
E paletó!

João de Deus

1 comentário:

Miss Tolstoi disse...

Um beijinho bem saudoso
Bem mimoso,
Não me dá!
Não me mata este desejo?
Dá-me um beijo?
Diga lá!

(Isto não é conversa com a Elvirinha!)