«[...] tu [Michel Vitold] sempre ficaste igual desde o nosso primeiro encontro [...]. Ainda te estou a ver com o teu barrete empoleirado no alto do teu crânio de Russkoff... Não confundas, para mim, "russkoff" não tem nada de pejorativo. Eu próprio sinto-me mais rital [nome pejorativo que se dá em França aos emigrantes italianos] que italiano, e não deixo de me divertir. Para nós, os exilados, a terra natal tem um sabor particular: quanto mais nos afastamos, mais ela fica sólida, amsi nos sentimos impregnados da nossa pátria, quanto mais não seja pelo olhar dos outros, que te fazem sentir bem que não és daqui. Eu deixei Reggio Emilia italiano, cheguei rital a Paris. Na época, possuías como único papel de identidade um estranho passaporte que tinha além do teu verdadeiro nome, Sayanoff, a referência "apátrida". Corrige-me depressa se me engano, mas estou a ver como se fosse ontem esse pedaço de papel que tu nos mostravas rindo.»
Serge Reggiani - Último correio antes da noite. Porto: Campo das Letras, 1996, p. 51
3 comentários:
Este livro deve ser de leitura muito agradável. E o título é sedutor e talvez verdadeiro.
Há anos que não pegava neste livro de Reggiani.
Já o tenho aqui, e quarenta cartas para ler.
"Dernier courrier avant la nuit" espera por mim-
Agradeço a ideia que me deu e desejo-lhe uma boa semana.
Foi a primeira vez que li este livro. E gostei. Fica-se a conhecer melhor Reggiani.
Boa semana para as duas.
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