Prosimetron

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segunda-feira, 23 de junho de 2008

Jean-Luc Nancy : Sobre a poesia - 2

- Erato Musa da poesia lírica, Simon Vouet

" Esta questão da poesia, tão velha e tão pesada, embaraçosa e importuna, resiste ao nosso tédio e à nossa mais forte repugnância por todas as mentiras poéticas, pelas graças e pelas sublimidades. Mesmo quando não nos interessa, ela detém-nos, necessariamente. Tanto actualmente como, de modo distinto, no tempo de Horácio ou no de Scéve, no de Eichendorff, de Eliot ou de Ponge. E se se afirmou que depois de Auschwitz a poesia era impossível, e em seguida, inversamente, que ela era depois de Auschwitz necessária, foi precisamente da poesia que pareceu necessário dizer uma e outra coisa. A exigência do acesso do sentido- a sua exacção, a sua procura exorbitante- não pode deixar de deter o discurso e a história , o saber e a filosofia, o agir e a lei.
Que não nos venham falar de ética ou de estética da poesia . É mesmo a montante, no seu mais que perfeito imemorial, que se firma o fazer designado «poesia» . Queda-se agachado como um animal, flectido como uma mola, e deste modo em acto, já. "

- Jean-Luc Nancy, RESISTÊNCIA DA POESIA , Vendaval , 2005 .


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