O meu filme favorito de D. W. Griffith , "Broken Blossoms or the Yellow Man and the Girl", estreou nos EUA a 13 de Maio de 1919, na década anterior ao advento do "sonoro".
Muito differente dos registos anteriores de Griffith (os épicos casts of thousands de "Intolerance" ou "Birth of a Nation", sobre-apreciado na minha humilde opinião), "Broken Blossoms" é uma história intimista sobre tolerância, sempre sob a égide da fragilidade.
A narrativa decorre nas docas de Londres. Lillian Gish (sempre Ms. Lillian Gish, the hand that rocks the cradle) é Lucy, uma jovem pobre, filha de um pugilista abusivo, Battling Burrows. Deambulando por entre brumas cinzentas depois de um espancamento pelo pai, a jovem é encontrada por Cheng, um tímido e sensível imigrante chinês (interpretado por Richard Barthelmess), que a leva para o seu apartamento, uma ilha exótica e acolhedora, e a trata. O jovem viera para a Europa pregar a palavra de Buda, mas tivera pouco êxito na sua missão. Entre os dois seres marginalizados nasce uma cumplicidade, uma forma de romance.
Tomando conhecimento do paradeiro da filha, o pugilista, enraivecido, arrasta-a para casa; aterrorizada, Lucy refugia-se num armário, dando cor a uma emoção claustrofóbica, de animal acossado, perfeitamente primária. O pai espanca-a brutalmente. Quando Cheng chega para a salvar, já é tarde; Lucy está morta. Para se defender do subsequente ataque do pugilista, Cheng é forçado a alvejá-lo. Levando o cadáver de Lucy para sua casa, Cheng ergue um altar a Buda e toma a sua própria vida.
É um filme em que o caminho a percorrer se sobrepõe infintamente ao destino final: a fragilidade de Lucy que cria o seu mundo etéreo para escapar à realidade do dia-a-dia; a marginalização social de duas formas distintas (a filha de um marginal nas classes mais pobres de Londres, um imigrante chinês pobre); o racismo contra o perigo amarelo (note-se o título completo, que os ventos do politicamente correcto reduziram); a crueldade contra (e impotência de) os inocentes.
O título inicial do filme transporta o espectador para a dúvida moral do seu próprio comportamento face aos inocentes e aos fracos: "We may believe there are no Battling Burrows, striking the helpless with brutal whip - but do we not ourselves use the whip of unkind words and deeds?"
O filme quase não chegou a ser feito: Zukor, o patrão da Paramount, não o apoiou; Griffith levantou capital para comprar os direitos ($91.000) e ganhou milhões com a sua exibição sob a bandeira da recentemente formada United Artists. Ms. Gish falou sobre o filme anos mais tarde, quando este foi seleccionado como um dos grandes exemplos do cinema mudo; o seu depoimento está capturado na edição da KINO Video.
"Griffith put tragic poetry on the screen for the first time."
Lillian Gish
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