Que representa? Tem sido várias as leituras:
- Três idades da vida e a Morte;
- O amor e a Morte;
- A prostituta e a Morte.
São na verdade quatro nus! O olhar do observador é preso, em primeiro lugar, na mulher ao centro e só depois no resto.
Existe uma peça de seda que envolve a criança, a mulher do meio e que é manipulada pela figura do tempo (não, não digo morte... embora faça lembrar as figuras da dança macabra) se fosse a morte a estar figurada deveria também ser do sexo feminino, para mim é do masculino... basta reparar no peito de homem, com pelos nos mamilos. Figura do tempo que leva à morte.
A morte que é a única certeza que nos chega com o tempo...
a morte que é a única certeza da vida!
Mas o tempo embora nunca deixe de contar e a idade de passar... por vezes nada é sentido. Será isso que faz a outra figura que ampara o espelho e que com a mão esquerda suspende a actuação e os efeitos do tempo sobre a figura central? Assim sendo não seria a terceira fase da vida... poderia ser antes a vaidade que perdeu a sua beleza e que se vê representada na figura central. Pede ao tempo que deixe a beleza e a juventude continuar. Se assim for compreende-se então porque é que a peça de seda a não envolve também. Ela não é a terceira idade da vida... ela luta com o tempo para que a figura não envelheça.
O Espelho nunca deixa ver a idade que vai no nosso interior. Só o corpo é que não responde ao que o pensamento deseja e quer!
E então se não é a idade madura a terceira figura nua será a primeira idade a criança?
Mais um problema que Hans Balgung nos coloca!
A peça de seda envolve a criança, não lhe deixa ver o sexo! Mas deixa uma marca, uma sombra que se aparenta mais com o sexo masculino. No mesmo sentido é levado o nosso pensamento ao observarmos o cavalo de madeira (que já apareceu, uma vez, aqui num post para ajudar a determinar o sexo de uma criança). Se é uma rapariga que faz ali aquele brinquedo? E o que estará ao lado do cavalinho... um fruto... uma maçã? (um pêssego julgo que ainda não tinha chegado à Europa) ou um novelo em bola...
Se fosse uma rapariga o cavalo poderia ser uma ligação à fábula de Esopo em que cada animal é uma das idades da vida (o cavalo, o boi e o cão)...
Mas parece mesmo um rapaz...
A imaginação pode ser recriada com a imago. Que faz ali aquela criança toda envolvida na mesma peça de seda que vai ser manipulada pelo tempo?
Talvez apenas para lembrar que todos nós sentimos também em nós essa eterna juventude. Basta esticar a mão e agarrar a maçã para se perder a inocência. Mas não chega um espelho para nos lembrar que já somos velhos!
A vaidade e o tempo não nos deixam aparentemente envelhecer... perdemos é a força do cavalo.
Obrigado a quem me fez hoje compreender este quadro, lembrando-me que a idade que sentimos tem de corresponder à idade que aparentamos.Para mim este quadro é: A presença da juventude.
Quadro está no Kunsthistorisches Museum, Wien.
48x32,5 cm
4 comentários:
Belo post!
Ana
"O Espelho nunca deixa ver a idade que vai no nosso interior. Só o corpo é que não responde ao que o pensamento deseja e quer!"
Adorei o seu post e a profundidade que ele transmite. Vim para desejar:
- Fique bem!
Ana
“Talvez a juventude seja apenas este / amar perene dos sentidos e não arrepender-se.” (Sandro Penna)
Ainda bem que a morte é masculina, senão teria de mudar de nome.
Alguém disse: «Nasci velho e rejuvenesço a cada dia.»
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