Aplicando de uma forma simplista, a proposição de Hegel (Tese/ Antítese = Síntese), à poesia portuguesa, poderíamos dizer: Orfeu/ Presença = Surrealismo.
E, vem isto a propósito, de Afonso Duarte que, não sendo um poeta de primeira água, tem versos muito estimáveis e teve algum nome, aqui há 30 ou 40 anos. Hoje, está praticamente esquecido. Ora, Afonso Duarte é mais um poeta presencista do que um companheiro do Orfeu. Teve, apesar da doença, grande actividade pedagógica e cívica, e viveu grande parte da sua vida em Ereira (“Ilha de Ereira, ó Guernesey dorida / Onde me exilo a este sol de Inverno,…”).
A sua poesia evoluiu, moderadamente, de uma matriz tradicional (onde predominam os temas campestres) até um panteísmo pagão donde ressalta, às vezes, uma fresca e franca sensualidade:
“…Oh! sedes de um banquete cuja taça
É sua boca em flor – ninho desfeito…
Nos seios minha fronte ébria de graça,
Roupinha nova na arca do meu peito!...”
Por outro lado, os seus poemas, longos, vão-se resumindo, sentenciais e certeiros – “Uma só rosa vale o roseiral, / Porque me escreves longo o teu poema? / O inspirado instante sem igual / Acaso não será a hora suprema?”.
Na sua obra reflecte-se, por vezes, o eco, actualizado, de Nobre e de Cesário, mais sucintos. Mas, uma das constantes da poesia de Afonso Duarte, é uma sabedoria de “experiência feita”, muito clara e adagial:
“O tornar ao passado é sempre um resto,
Ou, pior, uma falta de saúde.”
Post de Alberto Soares
2 comentários:
“Uma só rosa vale o roseiral, / Porque me escreves longo o teu poema? / O inspirado instante sem igual / Acaso não será a hora suprema?”.
Lindíssimos os versos tal como o seu post.
Obrigada
Ana
EPÍGRAFE
Vem como artista,
Sem outra desigualdade.
Põe nas palavras o barro
Da tua humanidade.
Afonso Duarte
Gosto deste poeta e agora espero pelo próximo.
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