Para que este amor, se o tempo abraça
o nosso abraço e o consome, e passam
as manhãs sem retrato, o sol ferido
pelo se pôr com o pousar das aves?
E para que, se, sendo encontro, parte
com nossos corpos e se faz viagem
solitária, obscura, ao céu do chão,
abrir de velas sobre um mar sem praias?
Mas quando o húmus se levanta em rosas,
a pergunta não mais chega às orelhas
e se dissolve no seu próprio eco,
pois sabemos o amor ser o que em nós
aspira ao oceano e às estrelas
e faz da morte um cisco sobre a mesa.
Alberto da Costa e Silva
In: Poemas reunidos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000, p. 172
Sem comentários:
Enviar um comentário