XXXIII
Embriagai-vos
É preciso estar sempre bêbado. Tudo reside nisso: eis a questão. Para não sentirdes o horrível fardo do Tempo que esmaga os vossos ombros e vos inclina para terra, precisais embriagar-vos sem tréguas.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa vontade. Mas embriagai-vos.
E se às vezes, nos degraus de um palácio, na erva verde de uma vala, na morna solidão do vosso quarto, acordardes, a bebedeira leve ou curada, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que gira, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio, responderão: «São horas de embriagar-se! Para não serdes os escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem parar! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa vontade.»
Charles Baudelaire, O Spleen de Paris (Pequenos Poemas em Prosa), Lisboa: Relógio D’Água, 2007, p. 97 (tradução de Jorge Fazenda Loureiro)
Prosimetron
sábado, 4 de julho de 2009
Ler com prazer 2.
Já tinha colocado um excerto deste livro mas agora enquadrei-o nesta rubrica porque adorei esta prosa em forma de pequenos poemas. A deixa é embriagai-vos. E de quê?
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2 comentários:
Hoje em dia prefiro a embriaguez de poesia. A de virtude dá muito trabalho, e a de vinho dá cabo do fígado.
Ahh..Ahh...Ahh!:) tem razão a da poesia é a que eu aposto também.
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