Nota prévia: Até para não eternizar esta série, fiz uma selecção das citações antologiadas e o principal critério foi o de escolher autores portugueses. De entre estes, prevaleceu o meu gosto pessoal. Ficam, assim, explicados os saltos na numeração. 481. Por exemplo, eu gosto do Ulisses, do Joyce, claro que gosto. Mas muitas vezes irrita-me porque sinto que é acrobacia pela acrobacia. Aí, aproximo-me mais do Tolstoi quando ele fala na eficácia do livro. O livro tem que ser eficaz. Tem de se sacrificar a tentação a favor da eficácia. Por exemplo, o Nabokov. É um excelente escritor e irrita-me. Irrita-me porque estou sempre a vê-lo dizer-me : repara como eu sou inteligente, olha como eu faço isto. E faz bem, de facto. Mas estou a sempre a vê-lo a ele atrás dos livros. Já estou farto de dizer isto : o livro é que tem de ser inteligente.
- António Lobo Antunes, Mil razões para ler um livro/3, Alma Azul, Abril de 2009.
5 comentários:
Pois eu não consegui ler o "Ulisses" e quando oiço uns lerdinhas dizerem que gostam muito desse livro... Está-se mesmo a ver que o leram, não é?
Quanto ao Tolstoi já se sabe e também gosto do Nabokov, mas concordo com o comentário do Lobo Antunes.
Li o Ulisses mas a leitura não foi fácil. Requeria atenção que às vezes perdia.
No Tolstoi crítico a variedade de nomes que usa para a mesma personagem.
A.R.
A variedade de nomes, como A.R. lhe chama, é uma constante de quase toda a literatura russa: uma personagem tanto pode ser nomeada pelo seu nome, pelo seu diminuitivo ou pelo apelido. O mesmo se passa, por exemplo, em "O Doutor Jivago". Quando o li, há muitos anos, fiz uma cábula para me orientar no início da leitura. Depois...
Curiosamente, não tive de o fazer com Tolstoi que tinha lido uns anitos antes.
Só que não há livros inteligentes de escritores estúpidos. A inversa já pode ser verdadeira.
M.
Sou fã de Nabokov e fãzíssima de Tolstoi.
Gosto de Nabokov, embora perceba perfeitamente o que Lobo Antunes quer dizer.
Quanto ao Ulisses, lembro-me perfeitamente de quando o comprei: Foi numa Feira do Livro de Lisboa, e imediatamente sentei-me num banco a lê-lo. Assim fiquei umas horas até a falta de luz solar obrigar a interromper. Um deslumbramento. Será que o virtuosismo artificioso de Joyce , quase vinte anos passados, me deslumbraria da mesma maneira? Não sei, até porque não voltei a ele, mas sei, como todos sabemos, que ler um livro aos 20 é muito diferente de lê-lo aos 40. E ainda bem que assim é.
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