Um dos quadros que achei curiosos no Tate Britain foi: "A Anunciação" por causa da humanização que o pintor colocou em Maria: uma rapariga assustada e retraída pela notícia que lhe era anunciada.
Rossetti tem quadros mais bonitos mas escolhi este para juntar a um poema de Rainer Maria Rilke que assenta tão bem nesta pintura.
Dante Gabriel Rossetti, Ecce Ancilla Domini! (A Anunciação), 1849-50
Óleo sobre tela, 72,4 x 41,9 cm, Tate Britan
A Anunciação
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"Não foi por um Anjo ter entrado (faz essa ideia tua)
que ela se sobressaltou. Tão pouco como outras, quando
um raio de sol ou à noite a lua
nos seus quartos se vão instalando,
se sobressaltam, ela não tinha o hábito de se indignar
à vista da figura que um Anjo assumia;
ela mal sabia que este ali ficar
para os Anjos é laborioso. (Oh, se fosse possível saber
como ela era pura. Não foi uma cerva que, a salvo,
deitada na floresta, dela se apercebeu,
equivocando-se de tal modo que concebeu,
sem sequer ser coberta, o Licorne mais alvo
o animal feito de luz, o mais puro de conceber.)
Não por ele entrar, mas por Anjo inclinar
para ela, tã de perto, o rosto com que vinha anunciar,
tão jovem; e que de ambos o olhar se entrechocasse
quando um no outro se encontrasse,
como se em volta tudo vazio parecesse
e o que milhões de seres olhavam, faziam, suportavam,
nela se concentrasse: ela e ele apenas ali se encontravam;
Olhar e ser olhado, olhos e deleite para a vista
em mais nenhum lugar senão aquele: repara,
isso sobressalta. E o susto de ambos era coisa prevista,
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Então entoou o Anjo a sua melodia clara."
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Rainer Maria Rilke, A Vida de Maria, Lisboa: Portugália Editora, 2008, p. 41
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