Estátua de Manuel Fernandes Tomás,
na Praça 8 de Maio (ou Praça Nova), na Figeira da Foz.
«E quem choramos nós: quem lamentam os portugueses? um cidadão extremado; um homem único; um benemérito da Pátria, um libertador dum povo escravo: Manuel Fernandes Tomás. Que nome, senhores, que nome nos fastos da liberdade! que pregão às idades futuras! que brado às gerações que hão-de vir! Este nome será só por si a história de muitos séculos, este nome encerra em compêndio milhões de males arredados de um grande povo: bens incontáveis acarretados sobre ele.
[…]
«Como homem, honrou a natureza: como cidadão, a Pátria que o diga: eu falarei por ela. […]
«Raiou o grande dia 24 de Agosto, o primeiro da liberdade portuguesa; infantigável não descansou desde então: havia entrado na arena, não voltava sem ter prostrado o grande inimigo com quem travara: este inimigo vós o conheceis, e bem mal que todos os conhecemos! era o despotismo: aterrou-o, venceu-o. Portugal tornou a ver as suas cortes, e a nação teve quem o representasse: toda a Europa admirou com respeito um congresso ilustrado, e no meio dele o campeão da liberdade, o patriarca da regeneração portuguesa: vede-o como alça denodado o trovão da sua voz enérgica para fulminar antigos abusos, e destruir arraigados vícios: a sua eloquência despida de pompas não respira senão verdade: severa, e descarnada só põe mira na utilidade comum, e no bem da Pátria: vem-lhe do coração franco aos lábios sinceros, por natural impulso de indefeso zelo: no estirado curso de comprida legislatura sempre o mesmo, sempre incansável, debalde a moléstia lhe abate as forças; o ânimo é sempre igual; nem há poder que o mingúe, nem doença que o desfalque.
«[…] Manuel Fernandes Tomás morreu: derramemos lágrimas de gratidão e de saudade: este é o verdadeiro elogio fúnebre dos grandes homens; estas lágrimas são as honras do seu funeral, são as pompas do seu enterramento: elas terão lugar na história, elas serão o epitáfio eloquente que mostrará aos vindouros o jazigo das suas cinzas gloriosas: molhai com essas lágrimas a pena da verdade, e escrevei-lhe sobre a lápide sepulcral – “Aqui jaz o libertador dos Portugueses: salvou a Pátria, e morreu pobre”.»
«E quem choramos nós: quem lamentam os portugueses? um cidadão extremado; um homem único; um benemérito da Pátria, um libertador dum povo escravo: Manuel Fernandes Tomás. Que nome, senhores, que nome nos fastos da liberdade! que pregão às idades futuras! que brado às gerações que hão-de vir! Este nome será só por si a história de muitos séculos, este nome encerra em compêndio milhões de males arredados de um grande povo: bens incontáveis acarretados sobre ele.
[…]
«Como homem, honrou a natureza: como cidadão, a Pátria que o diga: eu falarei por ela. […]
«Raiou o grande dia 24 de Agosto, o primeiro da liberdade portuguesa; infantigável não descansou desde então: havia entrado na arena, não voltava sem ter prostrado o grande inimigo com quem travara: este inimigo vós o conheceis, e bem mal que todos os conhecemos! era o despotismo: aterrou-o, venceu-o. Portugal tornou a ver as suas cortes, e a nação teve quem o representasse: toda a Europa admirou com respeito um congresso ilustrado, e no meio dele o campeão da liberdade, o patriarca da regeneração portuguesa: vede-o como alça denodado o trovão da sua voz enérgica para fulminar antigos abusos, e destruir arraigados vícios: a sua eloquência despida de pompas não respira senão verdade: severa, e descarnada só põe mira na utilidade comum, e no bem da Pátria: vem-lhe do coração franco aos lábios sinceros, por natural impulso de indefeso zelo: no estirado curso de comprida legislatura sempre o mesmo, sempre incansável, debalde a moléstia lhe abate as forças; o ânimo é sempre igual; nem há poder que o mingúe, nem doença que o desfalque.
«[…] Manuel Fernandes Tomás morreu: derramemos lágrimas de gratidão e de saudade: este é o verdadeiro elogio fúnebre dos grandes homens; estas lágrimas são as honras do seu funeral, são as pompas do seu enterramento: elas terão lugar na história, elas serão o epitáfio eloquente que mostrará aos vindouros o jazigo das suas cinzas gloriosas: molhai com essas lágrimas a pena da verdade, e escrevei-lhe sobre a lápide sepulcral – “Aqui jaz o libertador dos Portugueses: salvou a Pátria, e morreu pobre”.»
Almeida Garrett
In: Oração fúnebre de Manuel Fernandes Tomás, lida a 27 de Novembro de 1822 em sessão extraordinária da Sociedade Literária Patriótica.
5 comentários:
Estive lá, bem no centro, aquando da trasladação, faz hoje à noite 21 anos... Foi bonito.
Isto é que eram orações fúnebres! É um nome que permanece actual, a vários níveis...
É verdade!, mas também feita por um dos nossos maiores.
Dois nomes que permanecem actuais: o orador e o visado.
No outro dia, na televisão, a propósito de um concerto, perguntaram a pessoas (na maioria jovens) quem era o Infante de Sagres. Sabiam?
Essas pessoas estavam em Sagres, perguntaram a uma o nome do cabo e respondeu: - Cabo Raso!
E se perguntassem aí ao pessoal quem é o Garrett da rua do Chiado? Que respostas ouviríamos?
Quanto a Manuel Fernandes Tomás, ainda ouviríamos: - É um amigo meu!
Pois... Pois... se calhar é...
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