Koninklijk Museum voor Schone Kunsten, Antwerp
"Deus-Menino. Deus-criança. Tão espantosas expressões. Porque, se só nos guiássemos pela memória. Deus era o velho das barbas ou o adulto crucificado. Antes de Cristo, depois de cristo, houve deuses crianças, deuses meninos, mas sempre vistos como filhos ou servidores de deuses grandes, percursores de anjos e não percursores do Filho do Homem. Seja o que for e como for a nossa ideia de Deus (apesar de Deus estar para além de qualquer ideia) há como que uma rejeição de divindade de Jesus do presépio, uma espécie de impossibilidade racional de conciliar Deus com um bébé. (...)
Nenhum evangelista nos falou do Menino a brincar ao colo da Mãe, ou do descanso da Sagrada Família do Egipto. Se essas imagens são tão insistentes, na tradição iconográfica e textual, é porque sentimos a necessidade de contrapor aos mistérios doloross os mistérios gozosos. a imagem da criança é a imagem do todo novo, do «cordeiro divinal» ainda silencioso".
João Bénard da Costa, Crónicas: Imagens Proféticas e outras, 1º Volume,Lisboa: Assírio & Alvim, 2010, p.135
3 comentários:
Excelente leitura. Uma erudição como já pouco se vê.
Gostei muito e dá que pensar.
Estou a gostar bastante das crónicas, algumas já tinha lido no Público. Esta é belíssima e achei que ligava bem com a pintura.
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