Prosimetron

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domingo, 11 de abril de 2010

Quem me quiser ver contente...

Pormenor de um quadro do chamado Mestre de Flémalle,
Anunciação (1415-25),
Bruxelas, Musées Royaux des Beaux-Arts.


Existe uma canção, de que tenho uma vaga memória, de um filme português - e se a memória não me atraiçoa o realizador é Jorge Brum do Canto, passado na Ilha de Porto Santo... seria A Canção da Terra ?, julgo que sim - que tinha na sua letra qualquer coisa como: "Quem me quiser ver contente, venha ao mar me encontrar" ou parecido. Deve ser a canção: Gosto, gosto, gosto, com versos do próprio realizador e música de Afonso Correia Leite e Armando Rodrigues (para a autoria dos Versos e da Música recorri a A. H. de Oliveira Marques, "Partituras de Canções de Filmes Portugueses" / Anuário de Antiguidades e Restauro, Lisboa, Estar editora, 1996, p. 16). Mas a ideia era apenas para dizer o seguinte: quem me quiser ver feliz, procure-me entre os livros, ou numa livraria, ou numa biblioteca, ou numa feira do livro. Hoje deram-me dois, estou mais rico.
De um deles Poemas, s.l., Leya, 2009, p. 29-30, tirei este de
Nuno Júdice

A terra do nunca

Se eu fosse para a terra do nunca,
teria tudo o que quisesse numa cama de nada:

os sonhos que ninguém teve quando
o sol se punha de manhã;

a rapariga que cantava num canteiro
de flores vivas;

a água que sabia a vinho na boca
de todos os bêbedos.

Iria de bicicleta sem ter de pedalar,
numa estrada de nuvens.

E quando chegasse ao céu, pisaria
as estrelas caídas num chão de nebulosas.

A terra do nunca é onde nunca
chegaria se eu fosse para a terra do nunca.

E é por isso que a apanho do chão,
e a meto em sacos de terra do nunca.

Um dia, quando alguém me pedir a terra do nunca,
despejarei todos os sacos à sua porta.

E a rapariga que cantava sairá da terra
com um canteiro de flores vivas.

E os bêbedos encherão os copos
com a água que sabia a vinho.

Na terra do nunca, com o sol a pôr-se
quando nasce o dia.

4 comentários:

MR disse...

Uns pormenores sempre bem escolhidos.

APS disse...

Fez-me lembrar o "Vou-me embora para Pasárgada" de Manuel Bandeira.

LUIS BARATA disse...

Também são os meus "espaços de felicidade".

Miss Tolstoi disse...

A minha família: amigos, livros, música e cinema.