Escher nasceu a 17 de Junho de 1898, em Leeuwarden, Holanda. Em sua memória fica este desenho da Torre de Babel em permanente construção.
xMaurits Cornelis Escher, Torre de Babel, 1928
As Causas
Todas as gerações e os poentes.
Os dias e nenhum foi o primeiro.
A frescura da água na garganta
De Adão. O ordenado Paraíso.
O olho decifrando a maior treva.
O amor dos lobos ao raiar da alba.
A palavra. O hexâmetro. Os espelhos.
A Torre de Babel e a soberba.
A lua que os Caldeus observaram.
As areias inúmeras do Ganges.
Chuang Tzu e a borboleta que o sonhou.
As maçãs feitas de ouro que há nas ilhas.
Os passos do errante labirinto.
O infinito linho de Penélope.
O tempo circular, o dos estóicos.
A moeda na boca de quem morre.
O peso de uma espada na balança.
Cada vã gota de água na clepsidra.
As águias e os fastos, as legiões.
Na manhã de Farsália Júlio César.
A penumbra das cruzes sobre a terra.
O xadrez e a álgebra dos Persas.
Os vestígios das longas migrações.
A conquista de reinos pela espada.
A bússola incessante. O mar aberto.
O eco do relógio na memória.
O rei que pelo gume é justiçado.
O incalculável pó que foi exércitos.
A voz do rouxinol da Dinamarca.
A escrupulosa linha do calígrafo.
O rosto do suicida visto ao espelho.
O ás do batoteiro. O ávido ouro.
As formas de uma nuvem no deserto.
Cada arabesco do caleidoscópio.
Cada remorso e também cada lágrima.
Foram precisas todas essas coisas
Para que um dia as nossas mãos se unissem.
Jorge Luis Borges, in "História da Noite", Tradução de Fernando Pinto do Amaral (retirado do citador)
3 comentários:
Lindíssimo o poema!
Gosto muito de Jorge Luís Borges. Tenho a obra completa em 4 volumes e livros repetidos comprados antes destes 4 volumes.
Ontem não tive tempo de procurar este poema e tirei do citador.
É lindo, um pouco difícil à maneira tortuosa e intelectual do Jorge luís Borges
Eu em casa só tenho o «Aleph» (que gosto muito) e sou "fã" dessas listas tortuosas de imagens que ele faz.
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